segunda-feira, 28 de julho de 2025
segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
terça-feira, 19 de setembro de 2023
segunda-feira, 10 de julho de 2023
Pestana ou o sindicalismo “merdiático”
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Foi então que percebi que a notícia da morte dos media é bem capaz de ter sido demasiado exagerada. Os media não ajudam apenas a vender sabonetes ou candidatos a presidentes. Também ainda ajudam a vender sindicalistas.
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sexta-feira, 4 de novembro de 2022
“ordem e progresso” no hospício
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O velho Lula está de volta. Desta vez não em nome da esquerda ou dos trabalhadores, mas de uma frente tão ampla que inclui gatos e sapatos, ou seja, comunistas, sociais-democratas e até liberais e outros que tais.
Luiz Inácio da Silva, que nunca foi um
revolucionário, nem sequer um reformista, mas que ainda assim, nos seus dois
mandatos, logrou alguns resultados, ainda que tímidos, na redução das
desigualdades, desta vez vai ver-se muito mais aflito para insuflar apenas um pouco
de bom-senso e compostura numa galera desvairada por quatro anos de insanidade
embrutecida e fanatizada.
Lula, que diz de si próprio que é um homem de sorte, vai
precisar de toda a sorte do mundo e de todo o seu talento para negociar alguma ordem
e progresso com um Senado e um Congresso tomados pela intolerância fanática,
pla superstição, pelo fascismo, pelo golpismo doentio, pela prosápia do ódio e
do preconceito e pelo culto do privilégio e do dinheiro - um meio-Brasil tão patético
que não só não reconhece a derrota eleitoral como canta espavorido o hino nacional e agita
ufanamente a bandeira verde-e-amarela sem sequer se aperceber que exibe o velho lema
positivista enquanto areja estremecidamente o sovaco num delirante e
obscurantista terceiro reich de hospício tropical.
sexta-feira, 23 de setembro de 2022
quinta-feira, 30 de junho de 2022
quarta-feira, 4 de maio de 2022
O português-novo
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Sempre que sai do seu palácio para ir pagar as contas ao multibanco, Marcelo é logo cercado por uma bateria de câmaras e um enxame de jovens repórteres estagiárias à cata ansiosa de um título, de uma cacha, de uma abertura de telejornal. Marcelo sente logo uma vontade imponderável de comentar casos, de ponderar hipóteses, de explicar factos enfim, de dizer coisas. É como lançar milho a galinhas. Causa sempre imensa excitação. Desta vez, lançou: ah e tal, nós os portugueses somos todos ucranianos. Mais tarde, sempre entre risinhos cúmplices e cacarejos velhacos, corrigiu: bem, somos quase todos.
O que não deixa de ser verdade. Os portugueses, por
exemplo, também são quase todos do Benfica; ou do Sporting. E também
votam quase todos no PS; ou no PSD. Quase todos jogam na raspadinha;
ou no Euromilhões (têm quase todos muita fé em que o azar
dos outros há de ser a sua sorte). Quase todos acreditam em milagres. Vão quase
todos a Fátima a-pé; e ao café de-carrinho. E quase todos
tomam calcitrin (a verdade é que, junto do placebo, à cautela, quase
todos eles também metem para dentro os mais potentes e temíveis
analgésicos e anti-inflamatórios).
Mas depois há os outros. Os poucos que faltam aos quase
todos são invariavelmente vistos por estes com incompreensão, senão
mesmo com perplexidade: os que não são ucranianos, nem russos; os que são do
Belenenses, ou da Académica; os que nunca votaram no PS nem no PSD nem acreditam
em milagres e não iriam a Fátima nem de limusina; os que nunca aceitariam
disputar um jogo cujo desfecho não dependesse do seu talento; os que desconfiam
dos sortilégios da farmo-química - como eu, não desfazendo – que ainda
lidam com a dor à antiga portuguesa: rogando pragas abomináveis,
recitando inauditos chorrilhos de palavrões e proferindo mui solenes ladainhas
de obscenidades – o que não cura nem consola, mas desopila. Ah, e finalmente,
os portugueses-novos. Ou novos-portugueses.
E quem são estes novos portugueses? - perguntais vós. Pois, ou são ricos de todo o mundo que adquiriram a nossa magnífica nacionalidade, o seu visto Gold, a troco de um investimento financeiro avultado ou criação de emprego (em português corrente, compraram-na; mais ou menos como se compra um ingresso para o circo) ou então são cidadãos das mais diversas nacionalidades, também abastados, mas de ascendência sefardita comprovada, que puderam aceder ao usufruto do nosso belo passaporte graças às alterações à Lei da Nacionalidade redigidas por um tal de Francisco de Almeida Garrett (dirigente da CIP - Comunidade Israelita do Porto) e defendidas no parlamento por uma tia sua de nome Maria de Belém Roseira. Estas alterações seriam uma espécie de reparação histórica pela expulsão de Portugal dos milhares de sefarditas que no século XVI recusaram a proposta do nosso venturoso rei Manuel de se tornarem cristãos-novos.
As alterações da tia Maria de Belém à Lei da Nacionalidade entraram em vigor em 2015 e desde então até ao final de 2021, a CIP e a Comunidade Israelita de Lisboa certificaram 86 500 pedidos de nacionalidade. Ou seja, 86 500 novos-portugueses, ou portugueses-novos, com denominação de origem comprovada (doc) pelas comunidades israelitas portuguesas (isto é, são todos de pura cepa lusitana, descendentes comprovados dos sefarditas expulsos no século XVI).
Entre
eles consta Roman Abramovich, por exemplo, que se tornou cidadão português em
Abril de 2021. Roman é um bilionário que é dono do Chelsea Futebol Clube e de
uma frota pessoal de barquinhos de lazer, entre outras muitas e variadas coisas.
Roman, actualmente o português mais rico do mundo, deve a sua colossal fortuna ao facto, confessado,
de ter trocado favores políticos e proteções honorárias pelo controle de
uma grande quota de activos de petróleo e de alumínio, no processo de
privatização do Estado Soviético.
Roman
também não é ucraniano. É um português-novo, sefardita de pura e
velha cepa lusitana, que por acaso também é russo. Porém, certamente por
causa das moscas, também usa passaporte de Israel e da Lituânia.
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domingo, 10 de abril de 2022
Jean-Luc Mélenchon
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Foi por pouco. Por poucos milhares de votos, a esquerda não logrou bater Madame Le Pen e apurar-se para a segunda volta das
presidenciais francesas.
A França podia tido a chance de escolher entre dois
projectos verdadeiramente distintos. Entre a mais recessa lei da selva, o
liberalismo económico actualmente em vigor, e algo novo completamente diferente, para variar.
C’est dommage. Vai ter que voltar a escolher apenas entre o preconceito de
classe e o preconceito de raça. Outra vez entre a peste e a
cólera.
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terça-feira, 29 de março de 2022
O senhor Putin, o vilão do nosso tempo
É
realmente notável o efeito da propaganda. Mesmo espíritos aparentemente
sofisticados e exigentes, que eu julgava dotados de algum cepticismo, premissa
de todo o distanciamento, depois de uma mais ou menos larga exposição aos
efeitos de noticiário superiormente dirigido, depressa revelam os mais
baixos instintos e logo adoptam os atavismos, e os costumes maria-vai-com-as-outras,
da turba: o fanatismo normalizado, o pensamento único, a visão a preto-e-branco
e a intolerância implacável e inflexível com todos os matizes de quem pensa e se
exprime de forma distinta.
Eu
permiti-me um post no qual acentuava o non-sense e o despropósito da
guerra e a belicosidade ridícula do nacionalismo amussolinizado do
Tarass Bulba de opereta que é a nova unanimidade ocidental, um chuchuzinho
cossaco para todos os que, entre nós, comem gelados com a testa.
O
que fui fazer. A minha caixa de comentários (sobretudo no face book) encheu-se
de despropósitos insultuosos e de delírios acusatórios mais ou menos
imbecilizados pelo fanatismo. O que prova quão sensíveis e melindráveis são
afinal as almas viris mais entusiastas da guerra. Eu podia tentar explicar-lhes que o post em causa era sobre o
pulha do senhor Zé Lensqui e não sobre o desgraçado povo ucraniano, e muito
menos uma apologia do estafermo do senhor Putin. Mas reconheço que isso seria
exigir-lhes um esforço intelectual visivelmente acima das suas possibilidades
(para os prosélitos da santa-guerra quem-não-é-por-nós-é-contra-nós e
mainada porque tudo na vida deles se resume a Benficas e
Sportingues, Fonsecas e Madureiras, alecrins e manjeronas, mas sobretudo a nós
e eles). Tive até o caso de um reconhecido escritor que há tempos fez o
argumento de uma grande produção cinematográfica sobre as agruras épicas de uma
família latifundiária alentejana durante o verão quente de 1975, uma espécie de
Dr. Jivago da Amareleja, que me disse que eu devia ter vergonha. E
tenho, caro senhor. Creia que tenho imensa vergonha – de que gente que
aparentemente sabe escrever (até o faz no meu mural) afinal não sabe ler.
Mas
deixemo-nos de coisas tristes e passemos a coisas sérias que este post é sobre
Vlad, o arrombador, ou o esbardalhador. O senhor Putin.
O
senhor Putin, tal como o senhor Zé Lensqui, é um tiranete impregnado de
autoritarismo e de nacionalismo tóxico. Tudo o que o senhor Zé Lensqui
está a tentar fazer na Ucrânia (instalar o mais amplo liberalismo económico,
privatizando tudo o que ainda é público no país e oferecendo-o de bandeja à sua
clique de sponsors e empreendedores) o senhor Putin já fez na sua
mãe-Rússia - só que, não sei porquê, só aos sponsors do senhor
Putin se chamam oligarcas. Sendo ambos amantes das mais amplas
liberdades económicas, e igualmente adversários dos mínimos direitos cívicos e
laborais, é natural que toda a gente se pergunte por que raio é que eles se não
entendem. Pois não sei. Não sou especialista em geoplítica. Mas sei
alguma coisa de história das nações. E leio romances. Agora ando a ler Ivan, o
terrível. Tolstoi. Não é para beibes.
Ao
contrário da Ucrânia, que é uma nação sem história e um estado sem passado nem
instituições, a Rússia é uma nação muito antiga e tem uma longa e cabeluda
história de grande estado de muitas nações (entre as quais a Ucrânia)
guardada numa arca.
Quando
a União Soviética se desmoronou e, durante o desvario alcoólico-capitalista do
senhor Yeltsin, se dividiu em não sei quantos novos estados independentes
(entre os quais a Ucrânia) no meio de uma enorme crise social e económica, a
novel e depauperada Federação Russa e os seus milhões de russos humilhados
e ofendidos precisavam urgentemente de um novo cimento ideológico
para segurar as nações que lhe restaram e assim substituir a ideologia
do país dos sovietes, que tinha sido o cimento de uma super-potência.
Foi
aí que Vlad Putin, que, entretanto, tinha sucedido a Yeltsin, mandou buscar a
arca. A arca russa. E Vlad que, ao contrário de Yeltsin, nunca bebe nem fuma,
quando abriu a Arca, inalou.
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O ar de séculos, fétido de miasmas de almas mortas e de espíritos; - o
suflo ácido da idolatria, da superstição e da santíssima religião, mui ortodoxa
e medieval, e dos seus popes borrachos, lúbricos e fanáticos; - a exalação
viral da violência instituída e da obediência hereditária; - o bafo quente e
gelado das entranhas da Santa Mãe-Rússia; - o hálito azedo do poder absoluto e
brutal, o mesmo hálito dos csares Ivan, o Terrível, Boris Godunov e Pedro, o
Grande; da Grandessíssima Catarina, a segunda e do não menos terrível Zé´staline,
primeiro e único; - o alento severo do homem-forte e do pai-protector.
Quando
Vlad fechou a arca, tossicou intoxicado, teve uma trip e logo a seguir uma
epifania.
Vlad,
o senhor Putin, não era ainda, nesta época, o vilão malvado e retorcido que o
ocidente iria passar a gostar de odiar. Ele vai começar por consolidar o seu
poder. Primeiro vai neutralizar o poder e influência de alguns oligarcas
demasiado enriquecidos pelos favores corruptos do seu antecessor e mentor,
Yeltsin. E fá-lo como manda a tradição na mãe-Rússia. À bruta. Confisca-lhes as
fortunas, um ou outro aparece misteriosamente falecido e os outros na prisão
por muitos anos. Assim re-nacionaliza várias empresas de petróleo e gás, o que lhe permite ir
saldando a dívida externa e fazer crescer o rendimento médio. Ainda assim, mais
de oitenta por cento das empresas privadas do país estão hoje nas mãos dos seus
oligarcas. E estes, nas suas. Vlad só poupa os que se lhe submetem. Persiste na
liberalização da economia e, mesmo que as desigualdades aumentem ao ponto de quase igualar as
do Brasil, o campeão mundial absoluto deste triste campeonato, elas
continuam a crescer alegremente ao mesmo ritmo a que a Rússia vai conquistando a confiança
dos mercados, o prestígio
internacional e até o seu status tradicional de potência
mundial, abandonado nas últimas décadas. Putin torna-se cada vez mais o homem-forte,
o pai-protector da grande mãe-Rússia. E torna-se também um exemplo
e uma inspiração, em todo o mundo, para toda aquelas sensibilidadezinhas
frígidas que só se excitam verdadeiramente com lideranças musculadas.
Vlad
Putin não é um homem grande e até tem um andar engraçado. Mas não é bailarino.
É velhaco. E obstinado. Já bateu Zé´staline em anos de permanência no Kremlin.
Sempre a assar frangos. À bruta. Contudo, ao contrário de Yeltsin, o gigantone
que só queria enriquecer e emborrachar-se, Putin é um homem pequeno com uma
grande ideia de si próprio. Uma grande, enviesada e retorcida ideia de si
próprio. Mas também do seu país. E sobretudo do seu papel na história do seu
país. Uma coisa vai com a outra. Como Napoleão, ou o Csar.
À mínima renitência ou objecção, lança sobre os
seus detractores o bafo gelado e colérico da grande Mãe Rússia, na forma da mão
pesada e implacável do seu aparelho judiciário. Clama que a pátria está em
perigo. Que cercam a Rússia. Mostra os mapas. E está. Está mesmo. A
Mãe-Rússia está mesmo cercada de bases da OTAN por todos os lados. Sente-se
humilhado e ofendido. Sente-se traído.
Enquanto, sempre aconselhado pelo FMI e plo
departamento do tesouro dos Estados Unidos, liberalizava a economia e
cultivava o seu viveiro de corruptos predilectos que seriam os parceiros de
negócios do ocidente, este cercara-o de bases militares por todos os
lados. Está furioso. Sente-se encurralado. Mas ainda havia pior.
A Ucrânia, a sua amada Ucrânia, a outra Rússia,
que se tinha tornado independente com a garantia de neutralidade e de
desarmamento nuclear, tinha afinal passado os últimos anos, fornecida pelos
países da OTAN, a armar-se até aos dentes; e o seu presidente, o actor Zé
Lensqui, ufano de estupidez natural e com as costas quentes - talvez
esquecido, ou ignorante, de que nunca se deve cutucar um urso furioso com uma
vara demasiado curta - tinha mesmo reiterado a vontade explícita do seu país se
tornar também uma potência nuclear. Irra. Foi a mosca na sopa de Vlad, o senhor
Putin.
Foi então que Vlad se lembrou que a Santa
Rússia também era uma super-potência. Era altura de passar a comportar-se como
tal. E resolveu explicar ao mundo como aprendeu a parar de se preocupar e a
amar a Bomba - fazendo exactamente (by the book) como os Estados Unidos da
América já fizeram uma porção de vezes e nunca lhes correu mal: invadir um país
independente, violando a carta das Nações Unidas e todas as leis internacionais
conhecidas.
E foi assim que Vlad, o senhor Putin, se tornou
o vilão do nosso tempo. Invadiu a Ucrânia.. E vai esbardalhar aquilo tudo até
se lambuzar. E ninguém mete a colher. É o metes. Porque Vlad tem a Bomba.
E não se importa de a usar.
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Em 2008 fiz este desenho de Putin.
segunda-feira, 21 de março de 2022
Zé Lensqui, o "herói do nosso tempo"
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Há melhor forma de comprovar-se dono do seu destino do que apontar a si próprio uma arma sem saber se está carregada e apertar o gatilho?
O Zé Lensqui gosta muito de armas (é esse aliás um
dos problemas dele com os russos) mas nunca o faria.
O Zé Lensqui é um cóboi, não é um romântico.
O Zé Lensqui não é um herói-romântico como o personagem de
Lermontov (ah, estes russos).
O Zé Lensqui não joga a roleta-russa.
O Zé Lensqui odeia tudo o que é russo (sobretudo a
literatura).
O que Zé Lensqui faz é dizer aos ucranianos para jogarem à
roleta-russa com os russos (os ucranianos fornecem as cabeças e os russos as
pistolas - ou a carne e o canhão, respectivamente, se
preferirem).
Mas não só. O Zé Lensqui também proíbe partidos políticos.
Sob a alegação de que os mesmos são “pró-Rússia”, siglas como Oposição de Esquerda, União de Forças
de Esquerda e Partido Socialista da Ucrânia foram banidas, enquanto
partidos de ultradireita ligados a grupos neonazis, como o Pravyi Sektor
e Svoboda, continuam imperturbados a instruir os ucranianos na mais enigmática e inquietante forma de estupidez, o patriotismo, que consiste em
convencer os mancebos (até aos 60 anos) de que há algo particularmente glorioso
e edificante em jogarem à roleta-russa com o senhor Putin e as senhoras
e crianças na fuga em massa para toda a
Europa ocidental onde, na melhor das hipóteses, serão a nova munição do
capitalismo internacional para fazer baixar de vez o preço da mão-de-obra,
perdão, o custo do trabalho.
Deve ser por isso que
Volodymyr Olexandrovytch Zelensky, o Zé Lensqui, é o
chuchu de quase toda a comunicação social ocidental, e um verdadeiro herói para
o nosso jornalismo-de-merda e para o bom povo que come gelados com a
testa.
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quinta-feira, 22 de julho de 2021
Bezos e o novo catecismo do jornalismo de merda.
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A riqueza
supérflua só pode comprar coisas supérfluas
Henry David
Thoreau
Confesso
que não gosto de ricos. Nunca gostei. Até já uma vez expliquei porquê, aqui.
Jeff
Bezos é o mais rico de todos. Jeff Bezos foi ao espaço e voltou. A Jeff Bezos
já não lhe chega o planeta. O espaço é o próximo alvo para a sua avidez.
Trata-se de um ser verdadeiramente repugnante. Quase tão repugnante como a “peça”
que a SIC transmitiu uma destas noites, como se fosse um trabalho jornalístico,
durante o serviço noticioso apresentado por Clara de Sousa (a quem
também já me referi aqui).
Durante
imensos, penosos e inacreditáveis minutos, uma propaganda descarada, eivada
daquele fascínio pascácio pela extravagância dos ricos, foi instruindo
as massas no catecismo da senhora Thatcher, segundo o qual “a ganância é um
bem“ – fazendo passar a ideia de que
a acumulação gananciosa e obsessiva, a fraude fiscal sistemática e a exploração
implacável do trabalho dos outros em condições medievais são exemplos de procedimento
e de que um filho-da-puta destes é um modelo a seguir. A bancada da iniciativa
liberal teve um delíquio - foi a consagração da sua moral doutrinária em hora
nobre.
No
fim, Clara de Sousa suspirou, deu mais uma notícia e, imperturbada, despediu-se
sem perder a compostura ou, sequer, vomitar. Mais uma noite bem passada, e bem remunerada,
na baiuca do jornalismo de merda.
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sábado, 3 de julho de 2021
O Cabrita.
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Todos se encabritam contra o Cabrita. Todos querem a cabeça do Cabrita. O Cabrita é desastrado. O Cabrita tem mau-feitio. O Cabrita parece prepotente. O Cabrita não tem “boa imprensa”. O Cabrita é como um cavalo num hospital. Todavia, e a bem-dizer, o Cabrita não é pior do que qualquer dos outros. Ele é, apenas, o mais azarado.
Dizem que, ao designar um general, Napoleão perguntava-lhe sempre “se tinha sorte”. Não sei se António Costa tem este costume a propósito da nomeação dos seus ministros. Não me parece. A verdade é que, em Portugal, ninguém espera de um ministro (nem quem o designa) que tenha rasgo ou, melhor que tudo, “sorte”. O que se espera de um ministro em Portugal é que “faça o lugar” e não ondas.
O que me parece é que, quando nomeou Cabrita, Costa já sabia. Assim ninguém repara nos outros. Apesar disso também me parece que, para colher tanto ódio da direita e dos jornais, em algo o Cabrita deve ter acertado.
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