.

Mostrar mensagens com a etiqueta Caricatura. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Caricatura. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 10 de julho de 2023

Pestana ou o sindicalismo “merdiático”


 

.

Aquilo a que chamam popularidade é um daqueles fenómenos que sempre me encheram de perplexidade. Num mundo de pessoas cheias de bizarrias idiossincráticas e peculiares nunca fui capaz de compreender o mistério que faz seja o que for do agrado geral ou, pelo menos, das mais amplas maiorias.

André Pestana é um destes fenómenos peculiares que, para mim, são incompreensíveis.
Trata-se de um professor sindicalista que lidera, há meses, uma luta sindical – ora, os professores que ele supostamente lidera, os mais sensíveis à sua retórica justiceira, são precisamente aqueles que nunca se indignaram com o que lhes pagam nem com as condições do seu trabalho, que não gostam de sindicatos, que nunca fizeram uma greve e jamais descontaram para um sindicato (muito deles nem sabem o que é, nem para que serve, têm raiva de quem sabe e até o manifestam orgulhosamente em público).

Quando quis fazer-lhe este retrato, procurei na net imagens suas. As mais numerosas foram invariavelmente fotografias do senhor Pestana sempre rodeado de imensos microfones. Ou seja, a benevolência, simpatia e o tempo-de-antena que generosamente lhe dispensam os meios da comunicação comercial fazem dele - através da indução, da sugestão e da persuasão - um dos mais queridinhos de toda a gente mal informada.

Foi então que percebi que a notícia da morte dos media é bem capaz de ter sido demasiado exagerada. Os media não ajudam apenas a vender sabonetes ou candidatos a presidentes. Também ainda ajudam a vender sindicalistas.

.

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

“ordem e progresso” no hospício


.

O velho Lula está de volta. Desta vez não em nome da esquerda ou dos trabalhadores, mas de uma frente tão ampla que inclui gatos e sapatos, ou seja, comunistas, sociais-democratas e até liberais e outros que tais. 

Luiz Inácio da Silva, que nunca foi um revolucionário, nem sequer um reformista, mas que ainda assim, nos seus dois mandatos, logrou alguns resultados, ainda que tímidos, na redução das desigualdades, desta vez vai ver-se muito mais aflito para insuflar apenas um pouco de bom-senso e compostura numa galera desvairada por quatro anos de insanidade embrutecida e fanatizada.

Lula, que diz de si próprio que é um homem de sorte, vai precisar de toda a sorte do mundo e de todo o seu talento para negociar alguma ordem e progresso com um Senado e um Congresso tomados pela intolerância fanática, pla superstição, pelo fascismo, pelo golpismo doentio, pela prosápia do ódio e do preconceito e pelo culto do privilégio e do dinheiro - um meio-Brasil tão patético que não só não reconhece a derrota eleitoral como canta espavorido o hino nacional e agita ufanamente a bandeira verde-e-amarela sem sequer se aperceber que exibe o velho lema positivista enquanto areja estremecidamente o sovaco num delirante e obscurantista terceiro reich de hospício tropical.

 

quarta-feira, 4 de maio de 2022

O português-novo


 

.

Sempre que sai do seu palácio para ir pagar as contas ao multibanco, Marcelo é logo cercado por uma bateria de câmaras e um enxame de jovens repórteres estagiárias à cata ansiosa de um título, de uma cacha, de uma abertura de telejornal. Marcelo sente logo uma vontade imponderável de comentar casos, de ponderar hipóteses, de explicar factos enfim, de dizer coisas. É como lançar milho a galinhas. Causa sempre imensa excitação. Desta vez, lançou: ah e tal, nós os portugueses somos todos ucranianos. Mais tarde, sempre entre risinhos cúmplices e cacarejos velhacos, corrigiu: bem, somos quase todos.

O que não deixa de ser verdade. Os portugueses, por exemplo, também são quase todos do Benfica; ou do Sporting. E também votam quase todos no PS; ou no PSD. Quase todos jogam na raspadinha; ou no Euromilhões (têm quase todos muita fé em que o azar dos outros há de ser a sua sorte). Quase todos acreditam em milagres. Vão quase todos a Fátima a-pé; e ao café de-carrinho. E quase todos tomam calcitrin (a verdade é que, junto do placebo, à cautela, quase todos eles também metem para dentro os mais potentes e temíveis analgésicos e anti-inflamatórios).

Mas depois há os outros. Os poucos que faltam aos quase todos são invariavelmente vistos por estes com incompreensão, senão mesmo com perplexidade: os que não são ucranianos, nem russos; os que são do Belenenses, ou da Académica; os que nunca votaram no PS nem no PSD nem acreditam em milagres e não iriam a Fátima nem de limusina; os que nunca aceitariam disputar um jogo cujo desfecho não dependesse do seu talento; os que desconfiam dos sortilégios da farmo-química - como eu, não desfazendo – que ainda lidam com a dor à antiga portuguesa: rogando pragas abomináveis, recitando inauditos chorrilhos de palavrões e proferindo mui solenes ladainhas de obscenidades – o que não cura nem consola, mas desopila. Ah, e finalmente, os portugueses-novos. Ou novos-portugueses.

E quem são estes novos portugueses? - perguntais vós. Pois, ou são ricos de todo o mundo que adquiriram a nossa magnífica nacionalidade, o seu visto Gold, a troco de um investimento financeiro avultado ou criação de emprego (em português corrente, compraram-na; mais ou menos como se compra um ingresso para o circo) ou então são cidadãos das mais diversas nacionalidades, também abastados, mas de ascendência sefardita comprovada, que puderam aceder ao usufruto do nosso belo passaporte graças às alterações à Lei da Nacionalidade redigidas por um tal de Francisco de Almeida Garrett (dirigente da CIP - Comunidade Israelita do Porto) e defendidas no parlamento por uma tia sua de nome Maria de Belém Roseira. Estas alterações seriam uma espécie de reparação histórica pela expulsão de Portugal dos milhares de sefarditas que no século XVI recusaram a proposta do nosso venturoso rei Manuel de se tornarem cristãos-novos

As alterações da tia Maria de Belém à Lei da Nacionalidade entraram em vigor em 2015 e desde então até ao final de 2021, a CIP e a Comunidade Israelita de Lisboa certificaram 86 500 pedidos de nacionalidade. Ou seja, 86 500 novos-portugueses, ou portugueses-novos, com denominação de origem comprovada (doc) pelas comunidades israelitas portuguesas (isto é, são todos de pura cepa lusitana, descendentes comprovados dos sefarditas expulsos no século XVI).

Entre eles consta Roman Abramovich, por exemplo, que se tornou cidadão português em Abril de 2021. Roman é um bilionário que é dono do Chelsea Futebol Clube e de uma frota pessoal de barquinhos de lazer, entre outras muitas e variadas coisas. Roman, actualmente o português mais rico do mundo, deve a sua colossal fortuna ao facto, confessado, de ter trocado favores políticos e proteções honorárias pelo controle de uma grande quota de activos de petróleo e de alumínio, no processo de privatização do Estado Soviético.

Roman também não é ucraniano. É um português-novo, sefardita de pura e velha cepa lusitana, que por acaso também é russo. Porém, certamente por causa das moscas, também usa passaporte de Israel e da Lituânia.

.

domingo, 10 de abril de 2022

Jean-Luc Mélenchon


 

.

Foi por pouco. Por poucos milhares de votos, a esquerda não logrou bater Madame Le Pen e apurar-se para a segunda volta das presidenciais francesas.

A França podia tido a chance de escolher entre dois projectos verdadeiramente distintos. Entre a mais recessa lei da selva, o liberalismo económico actualmente em vigor, e algo novo completamente diferente, para variar. C’est dommage. Vai ter que voltar a escolher apenas entre o preconceito de classe e o preconceito de raça. Outra vez entre a peste e a cólera.

.

terça-feira, 29 de março de 2022

O senhor Putin, o vilão do nosso tempo



É realmente notável o efeito da propaganda. Mesmo espíritos aparentemente sofisticados e exigentes, que eu julgava dotados de algum cepticismo, premissa de todo o distanciamento, depois de uma mais ou menos larga exposição aos efeitos de noticiário superiormente dirigido, depressa revelam os mais baixos instintos e logo adoptam os atavismos, e os costumes maria-vai-com-as-outras, da turba: o fanatismo normalizado, o pensamento único, a visão a preto-e-branco e a intolerância implacável e inflexível com todos os matizes de quem pensa e se exprime de forma distinta.

Eu permiti-me um post no qual acentuava o non-sense e o despropósito da guerra e a belicosidade ridícula do nacionalismo amussolinizado do Tarass Bulba de opereta que é a nova unanimidade ocidental, um chuchuzinho cossaco para todos os que, entre nós, comem gelados com a testa.

O que fui fazer. A minha caixa de comentários (sobretudo no face book) encheu-se de despropósitos insultuosos e de delírios acusatórios mais ou menos imbecilizados pelo fanatismo. O que prova quão sensíveis e melindráveis são afinal as almas viris mais entusiastas da guerra. Eu podia tentar explicar-lhes que o post em causa era sobre o pulha do senhor Zé Lensqui e não sobre o desgraçado povo ucraniano, e muito menos uma apologia do estafermo do senhor Putin. Mas reconheço que isso seria exigir-lhes um esforço intelectual visivelmente acima das suas possibilidades (para os prosélitos da santa-guerra quem-não-é-por-nós-é-contra-nós e mainada porque tudo na vida deles se resume a Benficas e Sportingues, Fonsecas e Madureiras, alecrins e manjeronas, mas sobretudo a nós e eles). Tive até o caso de um reconhecido escritor que há tempos fez o argumento de uma grande produção cinematográfica sobre as agruras épicas de uma família latifundiária alentejana durante o verão quente de 1975, uma espécie de Dr. Jivago da Amareleja, que me disse que eu devia ter vergonha. E tenho, caro senhor. Creia que tenho imensa vergonha – de que gente que aparentemente sabe escrever (até o faz no meu mural) afinal não sabe ler.

Mas deixemo-nos de coisas tristes e passemos a coisas sérias que este post é sobre Vlad, o arrombador, ou o esbardalhador. O senhor Putin.

O senhor Putin, tal como o senhor Zé Lensqui, é um tiranete impregnado de autoritarismo e de nacionalismo tóxico. Tudo o que o senhor Zé Lensqui está a tentar fazer na Ucrânia (instalar o mais amplo liberalismo económico, privatizando tudo o que ainda é público no país e oferecendo-o de bandeja à sua clique de sponsors e empreendedores) o senhor Putin já fez na sua mãe-Rússia - só que, não sei porquê, só aos sponsors do senhor Putin se chamam oligarcas. Sendo ambos amantes das mais amplas liberdades económicas, e igualmente adversários dos mínimos direitos cívicos e laborais, é natural que toda a gente se pergunte por que raio é que eles se não entendem. Pois não sei. Não sou especialista em geoplítica. Mas sei alguma coisa de história das nações. E leio romances. Agora ando a ler Ivan, o terrível. Tolstoi. Não é para beibes.

Ao contrário da Ucrânia, que é uma nação sem história e um estado sem passado nem instituições, a Rússia é uma nação muito antiga e tem uma longa e cabeluda história de grande estado de muitas nações (entre as quais a Ucrânia) guardada numa arca.

Quando a União Soviética se desmoronou e, durante o desvario alcoólico-capitalista do senhor Yeltsin, se dividiu em não sei quantos novos estados independentes (entre os quais a Ucrânia) no meio de uma enorme crise social e económica, a novel e depauperada Federação Russa e os seus milhões de russos humilhados e ofendidos precisavam urgentemente de um novo cimento ideológico para segurar as nações que lhe restaram e assim substituir a ideologia do país dos sovietes, que tinha sido o cimento de uma super-potência.

Foi aí que Vlad Putin, que, entretanto, tinha sucedido a Yeltsin, mandou buscar a arca. A arca russa. E Vlad que, ao contrário de Yeltsin, nunca bebe nem fuma, quando abriu a Arca, inalou.

- O ar de séculos, fétido de miasmas de almas mortas e de espíritos; - o suflo ácido da idolatria, da superstição e da santíssima religião, mui ortodoxa e medieval, e dos seus popes borrachos, lúbricos e fanáticos; - a exalação viral da violência instituída e da obediência hereditária; - o bafo quente e gelado das entranhas da Santa Mãe-Rússia; - o hálito azedo do poder absoluto e brutal, o mesmo hálito dos csares Ivan, o Terrível, Boris Godunov e Pedro, o Grande; da Grandessíssima Catarina, a segunda e do não menos terrível Zé´staline, primeiro e único; - o alento severo do homem-forte e do pai-protector.

Quando Vlad fechou a arca, tossicou intoxicado, teve uma trip e logo a seguir uma epifania.

Vlad, o senhor Putin, não era ainda, nesta época, o vilão malvado e retorcido que o ocidente iria passar a gostar de odiar. Ele vai começar por consolidar o seu poder. Primeiro vai neutralizar o poder e influência de alguns oligarcas demasiado enriquecidos pelos favores corruptos do seu antecessor e mentor, Yeltsin. E fá-lo como manda a tradição na mãe-Rússia. À bruta. Confisca-lhes as fortunas, um ou outro aparece misteriosamente falecido e os outros na prisão por muitos anos. Assim re-nacionaliza várias empresas de petróleo e gás, o que lhe permite ir saldando a dívida externa e fazer crescer o rendimento médio. Ainda assim, mais de oitenta por cento das empresas privadas do país estão hoje nas mãos dos seus oligarcas. E estes, nas suas. Vlad só poupa os que se lhe submetem. Persiste na liberalização da economia e, mesmo que as desigualdades aumentem ao ponto de quase igualar as do Brasil, o campeão mundial absoluto deste triste campeonato, elas continuam a crescer alegremente ao mesmo ritmo a que a Rússia vai conquistando a confiança dos mercados, o prestígio internacional e até o seu status tradicional de potência mundial, abandonado nas últimas décadas. Putin torna-se cada vez mais o homem-forte, o pai-protector da grande mãe-Rússia. E torna-se também um exemplo e uma inspiração, em todo o mundo, para toda aquelas sensibilidadezinhas frígidas que só se excitam verdadeiramente com lideranças musculadas.

Vlad Putin não é um homem grande e até tem um andar engraçado. Mas não é bailarino. É velhaco. E obstinado. Já bateu Zé´staline em anos de permanência no Kremlin. Sempre a assar frangos. À bruta. Contudo, ao contrário de Yeltsin, o gigantone que só queria enriquecer e emborrachar-se, Putin é um homem pequeno com uma grande ideia de si próprio. Uma grande, enviesada e retorcida ideia de si próprio. Mas também do seu país. E sobretudo do seu papel na história do seu país. Uma coisa vai com a outra. Como Napoleão, ou o Csar.

À mínima renitência ou objecção, lança sobre os seus detractores o bafo gelado e colérico da grande Mãe Rússia, na forma da mão pesada e implacável do seu aparelho judiciário. Clama que a pátria está em perigo. Que cercam a Rússia. Mostra os mapas. E está. Está mesmo. A Mãe-Rússia está mesmo cercada de bases da OTAN por todos os lados. Sente-se humilhado e ofendido. Sente-se traído.

Enquanto, sempre aconselhado pelo FMI e plo departamento do tesouro dos Estados Unidos, liberalizava a economia e cultivava o seu viveiro de corruptos predilectos que seriam os parceiros de negócios do ocidente, este cercara-o de bases militares por todos os lados. Está furioso. Sente-se encurralado. Mas ainda havia pior.

A Ucrânia, a sua amada Ucrânia, a outra Rússia, que se tinha tornado independente com a garantia de neutralidade e de desarmamento nuclear, tinha afinal passado os últimos anos, fornecida pelos países da OTAN, a armar-se até aos dentes; e o seu presidente, o actor Zé Lensqui, ufano de estupidez natural e com as costas quentes - talvez esquecido, ou ignorante, de que nunca se deve cutucar um urso furioso com uma vara demasiado curta - tinha mesmo reiterado a vontade explícita do seu país se tornar também uma potência nuclear. Irra. Foi a mosca na sopa de Vlad, o senhor Putin.

Foi então que Vlad se lembrou que a Santa Rússia também era uma super-potência. Era altura de passar a comportar-se como tal. E resolveu explicar ao mundo como aprendeu a parar de se preocupar e a amar a Bomba - fazendo exactamente (by the book) como os Estados Unidos da América já fizeram uma porção de vezes e nunca lhes correu mal: invadir um país independente, violando a carta das Nações Unidas e todas as leis internacionais conhecidas.

E foi assim que Vlad, o senhor Putin, se tornou o vilão do nosso tempo. Invadiu a Ucrânia.. E vai esbardalhar aquilo tudo até se lambuzar. E ninguém mete a colher. É o metes. Porque Vlad tem a Bomba. E não se importa de a usar.

.

Em 2008 fiz este desenho de Putin.

Agora fiz o que está reproduzido acima. Suspeito que seja isto um retrato acabado.
.

segunda-feira, 21 de março de 2022

Zé Lensqui, o "herói do nosso tempo"


.

Há melhor forma de comprovar-se dono do seu destino do que apontar a si próprio uma arma sem saber se está carregada e apertar o gatilho?

O Zé Lensqui gosta muito de armas (é esse aliás um dos problemas dele com os russos) mas nunca o faria.

O Zé Lensqui é um cóboi, não é um romântico.

O Zé Lensqui não é um herói-romântico como o personagem de Lermontov (ah, estes russos).

O Zé Lensqui não joga a roleta-russa.

O Zé Lensqui odeia tudo o que é russo (sobretudo a literatura).

O que Zé Lensqui faz é dizer aos ucranianos para jogarem à roleta-russa com os russos (os ucranianos fornecem as cabeças e os russos as pistolas - ou a carne e o canhão, respectivamente, se preferirem).

Mas não só. O Zé Lensqui também proíbe partidos políticos. 

Sob a alegação de que os mesmos são “pró-Rússia”, siglas como Oposição de Esquerda, União de Forças de Esquerda e Partido Socialista da Ucrânia foram banidas, enquanto partidos de ultradireita ligados a grupos neonazis, como o Pravyi Sektor e Svoboda, continuam imperturbados a instruir os ucranianos na mais enigmática e inquietante forma de estupidez, o patriotismo, que consiste em convencer os mancebos (até aos 60 anos) de que há algo particularmente glorioso e edificante em jogarem à roleta-russa com o senhor Putin e as senhoras e  crianças na fuga em massa para toda a Europa ocidental onde, na melhor das hipóteses, serão a nova munição do capitalismo internacional para fazer baixar de vez o preço da mão-de-obra, perdão, o custo do trabalho.

Deve ser por isso que Volodymyr Olexandrovytch Zelensky, o Zé Lensqui, é o chuchu de quase toda a comunicação social ocidental, e um verdadeiro herói para o nosso jornalismo-de-merda e para o bom povo que come gelados com a testa.

.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Bezos e o novo catecismo do jornalismo de merda.


 

.

A riqueza supérflua só pode comprar coisas supérfluas

Henry David Thoreau

Confesso que não gosto de ricos. Nunca gostei. Até já uma vez expliquei porquê, aqui.

Jeff Bezos é o mais rico de todos. Jeff Bezos foi ao espaço e voltou. A Jeff Bezos já não lhe chega o planeta. O espaço é o próximo alvo para a sua avidez. Trata-se de um ser verdadeiramente repugnante. Quase tão repugnante como a “peça” que a SIC transmitiu uma destas noites, como se fosse um trabalho jornalístico, durante o serviço noticioso apresentado por Clara de Sousa (a quem também já me referi aqui).

Durante imensos, penosos e inacreditáveis minutos, uma propaganda descarada, eivada daquele fascínio pascácio pela extravagância dos ricos, foi instruindo as massas no catecismo da senhora Thatcher, segundo o qual “a ganância é um bem“ –  fazendo passar a ideia de que a acumulação gananciosa e obsessiva, a fraude fiscal sistemática e a exploração implacável do trabalho dos outros em condições medievais são exemplos de procedimento e de que um filho-da-puta destes é um modelo a seguir. A bancada da iniciativa liberal teve um delíquio - foi a consagração da sua moral doutrinária em hora nobre.

No fim, Clara de Sousa suspirou, deu mais uma notícia e, imperturbada, despediu-se sem perder a compostura ou, sequer, vomitar. Mais uma noite bem passada, e bem remunerada, na baiuca do jornalismo de merda.

.

sábado, 3 de julho de 2021

O Cabrita.


.

Todos se encabritam contra o Cabrita. Todos querem a cabeça do Cabrita. O Cabrita é desastrado. O Cabrita tem mau-feitio. O Cabrita parece prepotente. O Cabrita não tem “boa imprensa”. O Cabrita é como um cavalo num hospital. Todavia, e a bem-dizer, o Cabrita não é pior do que qualquer dos outros. Ele é, apenas, o mais azarado.

Dizem que, ao designar um general, Napoleão perguntava-lhe sempre “se tinha sorte”. Não sei se António Costa tem este costume a propósito da nomeação dos seus ministros. Não me parece. A verdade é que, em Portugal, ninguém espera de um ministro (nem quem o designa) que tenha rasgo ou, melhor que tudo, “sorte”. O que se espera de um ministro em Portugal é que “faça o lugar” e não ondas.

O que me parece é que, quando nomeou Cabrita, Costa já sabia. Assim ninguém repara nos outros. Apesar disso também me parece que, para colher tanto ódio da direita e dos jornais, em algo o Cabrita deve ter acertado. 

.

domingo, 26 de julho de 2020

O império camóne contra-ataca


.
É assim a vida - das pessoas e dos impérios. O fim é sempre triste, mas por vezes é também patético. Há os que se acabam brevemente, com a dignidade possível, e outros que se afundam numa lenta e prolongada agonia eivada de delírios tão patuscos como ridículos. Neste caso (tanto nas pessoas como nos impérios) é quando a decadência se revela mais constrangedora. Em geral, quanto maior a consciência da sua própria relevância - ou seja, quanto maior a presunção - mais a ressaca é delirante e embaraçosa no estertor. A tragédia culmina em ópera-bufa, em intermináveis e penosos episódios de telenovela. Parece-me ser este o caso do império americano.

Depois de fazer a américa grande ótravez, os camónes preparam-se agora para fazer o mundo livre ótravez. Mike Pompeo é o paladino desta nova cruzada. Já abriu as hostilidades. 
Desta vez é contra os chinas. Sim, os gajos que inventaram a pólvora; e o papel. A coisa promete.
.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

O carnaval avança a todo o vapor

.
A Primavera, é sabido, chega cada vez mais cedo. Os dias amenos desinibem. Até a estupidez (sobretudo esta) desabrocha, rutila, resplandece. E com ela o carnaval.
Na Venezuela, por exemplo, o auto-proclamado rei-momo, defende alegremente uma invasão militar estrangeira. Guaidó (é esta a sua graça) foi designado presidente interino por uma comissão presidida à distância pelo vice dos Estados Unidos, o não-menos carnavalesco Mike Pence. Foi imediata e internacionalmente reconhecido pelos Estados Unidos e por um sem número de governos, entre os quais o nosso. é carnaval, ninguém leva a mal, aposto que devem ter pensado. Os Estados Unidos são presididos por Donald Trump, alguém também bastante carnavalesco, não desfazendo.
.
Já no Brasil, o carnaval não é um chá dançante. O rei Momo é o presidente eleito. Trata-se de um ex-capitão, expulso do exército por insubordinação, que comanda um governo vice-presidido por um tal de Mourão, general no activo. O governo é constituído em partes equilibradas por militares obtusos, bancarroteiros fanáticos (ou vice-versa) e uma beata, igualmente fanática e obtusa; todos no activo.
.
Em Portugal o presidente perde popularidade. É verdade. O povo viu finalmente o cu ao populismo. Estava escrito nos astros (vinha no Sol). Para a próxima, Marcelo perde para o Tino de Rans, logo à primeira volta. Digam lá que isto não tem potencial carnavalesco.
.
Potencial carnavalesco tem a Câmara Municipal de Torres Vedras que patrocina o carnaval das matrafonas. Cem anos depois da implantação da República retirou obedientemente uma imagem farsola do cortejo (uma virgem com cara de bola) para não melindrar a santa sensibilidade da igreja católica local, essa inefável e carnavalesca congregação pederástica de matrafonas. O que todavia torna tudo ainda mais carnavalesco é a reverência geral, a bonomia do respeitinho; como se a aceitação pacífica de uma arbitrariedade imbecil fosse um facto da vida, uma coisa natural.
.
Ainda em Portugal, na Figueira da Foz, onde como é sabido o carnaval nunca acaba (na sua peculiar tradição secular o ano figueirinhas não tem quarta-feira de cinzas). O rei e a rainha do carnaval foram recebidos nos paços do concelho com pompa e circunstância e Avelino Gaspar, o patrão da Lusiaves (empresa condecorada pelo município por altruísmo) foi acusado plo ministério público de insolvência dolosa e branqueamento de capitais, ou seja, bancarrotismo.
Ainda na Figueira, o pugrama do Jotalves vai para uma segunda temporada. As coisas boas e realmente relevantes nunca acabam.
.
Entretanto, o grande educador da classe operária, o camarada Arnaldo Matos, bateu a caçuleta; esticou o pernil, foi fazer tijolo.
O revolucionário mais bem visto pelas elites moderadas do país – tinha, dizem, um particular gosto em conversar com o Dr. Mário Soares - entregou a alma ao criador, como referiu Pacheco Pereira. Dele disse também o presidente Marcelo que “ficará na memória de todos como um defensor ardente da liberdade”.
Segundo o circunspecto Observador, a principal actividade política do camarada Arnaldo no último ano e meio passou plo twitter. Tinha 3500 seguidores directos. Foi através desta plataforma que chamou “monhé” a Costa, ”putedo” á geringonça, apelou à luta armada, desejou as melhoras a Marcelo, defendeu os atentados terroristas de Londres e, preocupadíssimo com a saúde do papa, alertou que o palco dos encontros da juventude é um local “difusor de legionella”.
Ah, mas o “nosso rasputinezinho”, como lhe chamava Natália Correia, não foi para câmara de gás (foi cremado) sem o protagonismo (ainda que passivo) em mais um episódio, o derradeiro, carnavalesco: o seu partido (o émeérrepêpê, porra) foi ardentemente acusado pelo filho de lhe sequestrar o cadáver que arrefecia no velório.
Mainada. O carnaval avança a todo o vapor.
.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

o conselheiro de segurança


Este é John R. Bolton. Trata-se do Conselheiro de Segurança Nacional do presidente Trump. Não é bem a ele que o nosso SS (Santos Silva) reporta, mas sim a Mike Pompeo, que está logo abaixo na chamada cadeia de comando, mas adiante.
.
Bolton é um diplomata, advogado e ex-militar muito influente nos meios conservadores lá do sítio. Enfim, é o que nos círculos mais informados da plítica externa dos gringos se chama vulgarmente um falcão; ou um águia, não sei bem; em todo o caso trata-se de uma ave de rapina. Apesar do seu aspecto patusco de velhote lunático e inofensivo, Bolton é um dos mais fanáticos e irredutíveis teóricos da agressividade expansionista da actual plítica externa do seu país e um dos mais esbaforidos apóstolos da utilização de meios cada vez mais assumidamente virulentos e violentos para a concretização no terreno desse velho imperialismo de conquista. Trata-se, portanto, de um duro
.
Mas como se temperou o aço de toda aquela dureza?, perguntais vós.
Pois para o saber não é necessário ir muito longe nem muito fundo. Basta ir à Wikipédia, e está lá tudo escarrapachado: na juventude, de 1970 a 1976 (durante a guerra do Vietnam), John R. Bolton serviu na Guarda Nacional do exército dos Estados Unidos, no Maryland.
E vuálá, eis a verdadeira índole da ave rara. Ou seja, no fundo nofundo, toda a águia, ou falcão, tem dentro de si uma galinha.
.