.
O dinheiro só é poder quando
existe em quantidades desproporcionadas
Honoré
de Balzac
.
Existem coisas que detesto tão visceralmente que me
pergunto se é saudável. Algumas desde a infância, quando me tentavam instruir com a treta da cigarra e da
formiga: nunca gostei da estória e detestei a moral; ainda hoje odeio formigas.
Não o animal, claro, mas os valores
edificantes que ele representa e que me tentavam fazer respeitar: a fussanguice, a ganância, a acumulação obsessiva.
.
Também detesto tudo o que é de plástico. Tudo nele me
horroriza. O brilho falso, o cheiro repugnante, a indestrutibilidade, o som
desagradável. Falta-lhe a sinceridade do frágil vidro, a honestidade da efémera
madeira, a singeleza do perecível papel, a alta-fidelidade do corrosível metal.
Trata-se da substância mais vil fabricada pelo homem. A pior coisa que a
humanidade fez a si própria (mais ou menos como a escravatura, o capitalismo ou
a prostituição infantil).
.
Também detesto alguns países. Como a Suíça, por exemplo. A
Suíça cobra à entrada qualquer pedido de asilo e mais dez por cento do salário do desgraçado depois deste arranjar trabalho. Ah, como eu odeio a Suíça.
Um dos meus sonhos molhados mais frequentes é com a
implosão da Suíça; que depressa contudo se transforma no meu pior pesadelo: a
ruptura dos seus inúmeros cofres fortes - que guardam o pecúlio acumulado de
todos os ricos da terra, essas formigas
– provoca em seguida uma tal avalanche de merda que arrasa para sempre a Itália atolando-a num imenso mar de lama e de lixo tóxico (a Itália é, para quem não saiba, e apesar
de todos os seus quês e porquês, a mais bela obra-prima da humanidade, ou pelo
menos uma das mais conseguidas). Acordo sempre sufocando, submergido numa estranha e desagradável sensação de culpa (também detesto a culpa, esse resquício da minha formação
católica), como se tivesse a boca cheia de terra e de formigas.
.
Ah, e odeio os ricos. Tudo neles me parece repulsivo: a
moral, os costumes, o estilo, até o gosto. Detesto seres humanos que acumulam
riqueza para obter poder sobre os outros.
Mas também abomino sistemas políticos ou económicos, como
o capitalismo por exemplo, que permitem que seja possível a um só homem acumular
para si tanta riqueza como a que partilham milhões dos seus semelhantes. Sujeitinhos
como o boçal Donald Trump; ou o infame Alexandre Soares dos Santos. Ou Bill Gates.
.
Bill Gates fez fortuna com uma ideia de sonho: conseguiu
convencer as pessoas de que necessitavam de algo que nunca tinham tido antes: um
computador pessoal - os computadores pessoais servem, como toda a gente sabe,
para resolver problemas pessoais que não existiam se não houvesse computadores.
Que são de plástico, claro.
.
Bill tornou-se muito rico, o mais rico dos ricos, e criou uma
Fundação - de benemerência, claro (tudo o que Bill faz é sempre para benefício
dos outros e nunca jamais para seu prejuízo pessoal).
Bill teve então outro sonho, como o dos computadores. Só que
com mosquitos. Bill sonhou que transformar mosquitos em vacinas era uma solução
benemérita para acabar com algumas doenças que afligem a humanidade em países
pobres e, em simultâneo, lograr destes uma renda fixa que lhe garantiria o
aumento exponencial do pecúlio para a eternidade.
.
.
Com a ajuda de cientistas pouco escrupulosos (a Fundação
Bill e Melinda Gates pagou a pesquisa)
e de elites corruptas e desmioladas de países como o Brasil, as ilhas Caimão e
a Malásia por exemplo, conseguiu tornar o sonho possível.
.
Só que o sonho molhado de Bill, o super-negócio-humanitário do mosquito-vacina, está a transformar-se no pior pesadelo
de todos os países sub-tropicais: o vírus Zika e a microcefalia.
Há, no entanto, quem diga que não foi apenas uma boa
ideia que correu mal (como a do Dr.
Frankenstein ou a da invenção do plástico) e que se trata isso sim de uma estratégia cínica e
deliberada de exterminação; genocídio premeditado - de eugenia, selecção artificial.
Iliminação daqueles que os ricos, como Bill, acham inferiores. Controle da população para controlar os bens
alimentares. Dinheiro. Poder. Como este vídeo explica:
.
.
Mas Bill não sente culpa. Nem tem pesadelos. Bill nunca acorda
com a boca cheia de formigas. Pelo contrário, levanta-se todos os dias mais
rico e pavoneia-se com os bolsos cheios de mosquitos. Transgénicos e virais. Repulsivos,
venéreos e filhosdaputa. Como ele, insaciáveis pelo
sangue dos outros.
.
5 comentários:
O poema de um suíço e que melhor define a Suíça:
PAÍS DE SONOLÊNCIA
... Eis o pesado país
da indolência, ó Suíça,
sob as actividades.
País de sonolência
esmagado pela beleza.
Ó meu país mais belo
que os países sonhados.
País como um zero
de solidão, vivemos
nós próprios como zeros.
Pesado país de impotência
e de gelo e país
de sofrimento mortal
onde nada, jamais, é dito.
País onde a palavra
se abate e se destrói.
País de mil gritos
sobre um fundo de silêncio
absolutamente maldito.
País onde tudo se compõe,
onde nada nos une.
Georges Haldas (Corps Mutilé: Lausanne, 1962)
Fiz link
Como podia deixar de o fazer?
EXCELENTE.
Vou levar, com a devida vénia.
Abraço
Muito bem dito. O mais deprimente disto tudo é que quem usa produtos da Micro$oft enquanto consciente dos crimes que o Sr Gates comete contra esta planeta é de certa forma cúmplice.
Pessoalmente já não uso Windows há mais de 10 anos mas infelizmente o meu emprego depende deste monopólio informático. Linux é a alternativa aberta e grátis, mas quantos de nós nos demos ao trabalho de mudar de sistema operativo? Não muitos. Falar é uma coisa, mas viver de acordo com os nossos valores uma outra infelizmente muito rara.
Só falta o BILL ser picado
Enviar um comentário