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sábado, 27 de julho de 2024

50 ícones da resistência e resiliência humanas – em Penela


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O meu amigo Osvaldo Macedo de Sousa organiza, há anos, uma bienal de humor gráfico em Penela. A Bienal leva o nome do escritor e humorista Luis de Oliveira Guimarães e é realizada na casa onde nasceu este, com o patrocínio da sua família e do município de Penela.

No âmbito desta bienal, e para além da exposição do concurso, Osvaldo promove outras iniciativas. Inaugurou por exemplo, no dia 29 de Junho, a notável exposição “Migrantes”, de pintura satírica do caricaturista albanês Agim Sulaj.

E hoje inaugura outra, para a qual convocou muitos dos seus amigos da arte do desenho atrevido. Esta, no âmbito da comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, chama-se 50 ícones da resistência e resiliência humanas. A mim, Osvaldo pediu-me para fazer o retrato a cinco destes ícones. Inaugura hoje plas 17 horas e pode ser visitada até ao dia 30 de Agosto.

Assim, se quereis ver de perto os meus cinco humildes esboços de homenagem a cinco vultos da resistência e resiliência humanas, ide a Penela - onde estarão lado-a-lado com o traço de verdadeiros ícones do desenho atrevido e cujos nomes estão no cartaz.

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quarta-feira, 10 de julho de 2024

A ditosa pátria (farsa em três actos e uma cena triste)

 


Um tal estado de civilização faz gemer a moral

Stendhal



Um golpe palaciano derruba um primeiro-ministro eleito com maioria absoluta. Logo a seguir é-lhe oferecida de bandeja uma sinecura no estrangeiro. Ninguém se espanta nem melindra: nem os que o haviam sufragado há menos de dois anos e com o mesmo entusiasmo aclamam agora o seu adversário, nem o próprio, contentinho e convencido, o desinfeliz, de que terá caído para cima.

O golpe, um pouco subtil parágrafo final num comunicado, foi desferido a partir do palácio Palmela, pla mão de uma abadessa pesada e ríspida que, em seis anos de actividade nunca foi questionada por nenhum orgão de comunicação social – o que, se diz algo da inefável senhora procuradora, diz tudo da comunicação social portuguesa, corroborando aliás a constatação do alarve Cavaco de que "temos uma imprensa muito suave”. Quando finalmente se decide magnânima, a conceder uma entrevista, a matrona, imperturbada, dita a sentença do fundo da sua altivez inapelável: tudo está bem assim e não podia ser de outra maneira.

Entretanto, nas redes sociais, o povo baixo (como se lhe refere Ana Gomes, outra matrona inflexível, mas do entretenimento) o povo baixo, dizia eu, comove-se, arrepiadinho de fervor patriótico, com o capitão de equipa de futebol, um marmanjo quarentão e milionário que chora baba e ranho por tudo, por nada e porque falhou um penalty.

Em fundo, ouve-se um coro frouxo a marchar contra os canhões enquanto a bandeira verde-rubra esvoaça os seus simbolozinhos medievais.

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