domingo, 11 de fevereiro de 2024
domingo, 30 de julho de 2023
O merchandaizingue da coisa
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Vivemos, de novo, tempos idolátricos. Outra vez tempos aziagos para quem não se conforma com a sandice, aquela velha atitude filosófica que consiste em aceitar com entusiasmo explicações que não exigem entendimento. A idade-média está de volta. Com pífaros e pandeiretas. São tempos áureos para o obscurantismo fanático e rancoroso. A santíssima religião não só é, de novo, muito respeitável, como até se recomenda.
Em Portugal, as únicas vozes que se manifestam com alguma racionalidade e que ainda vão fazendo algum eco nos media dominantes - os meios da comunicação comercial - são, como na idade média, os bobos – quero dizer, os artistas, aqueles que são mais facilmente desacreditáveis.
Bordalo II, por exemplo - que ousou dizer em público que acha perverso que “depois de sabermos dos abusos sexuais na Igreja, o Estado seja patrocinador deste festival católico” - viu o inefável e infalível Polígrafo comprovar que ele é, afinal, um dos mais felizes contemplados pelo estado com ajustes directos.
É claro que, depois disto, o artista já está a assar nas redes sociais - o bom povo que come gelados com a testa também gosta muito de fogueiras e não sabe, nem quer saber, das condições de vida dos artistas nem das contingências da arte e de outras paneleirices. Este bom-povo, que crê sem entender num só deus dividido em três pessoas, na virgindade de uma senhora que é ali de Fátima e uma vez pariu um moço e até numa porção de santinhos de todos os géneros e lugares, também não quer saber, nem entender, certos conceitos muito simples e até alguns factos da vida – como, por exemplo, este: ninguém adquire uma certa obra de arte a um determinado artista por concurso público; pla simples razão que qualquer aquisição dessa obra exacta a esse artista específico é sempre - só pode ser, não existe outro modo - um ajuste directo. Os artistas, tal como outros profissionais da vida airada, como as putas por exemplo, vivemos de ajustes directos. Sabemos (um saber de experiência feito) que a vida é “cu no chão, dinheiro na mão”, caso contrário o mais provável é ficarmos a arder para sempre. Sei que isto dito assim sem eufemismos pode ofender os mais altos sentimentos do bom-povo e até de alguns burgueses, a quem peço desde já, humildemente, que se fodam.
Mas mudemos de assunto, que isto está a tornar-se demasiado pessoal. Em todo o caso, bastamente constrangedor.
Enfim, como a nova prioridade nacional, anunciada por todos os órgãos da informação empresarial, é agora a sacrossanta segurança do recinto e não a putativa e amoral perversidade de um subsídio público descarado a uma multinacional pedófila (e ao seu franchaisingue nacional) eu, como não se pode ir contra eles, decidi juntar-me a eles. E conceder-lhes, também eu, porque não?, um subsídio, na forma do consultingue na área do merchandaizingue.
Sabia que as Jornadas Mundiais da Juventude tinham logotipo e grande, imensa, e graciosa, cobertura mediática, mas não tinham, nem têm, uma mascote. Um bonequinho. Como o Gil da expo 98 ou o Kinas do Euro 2004. Por isso lembrei-me daqueles fradinhos das Caldas, com um cordel para puxar, que se vendiam antigamente nas feiras para gáudio do bom-povo que sempre viu com particular e cúmplice bonomia os fulgores da líbido fradesca. Também me ocorreu que todo o santo clero português deve andar, compreensivelmente aliás, xitadíssimo por estes dias – enfim, com tanta juventude a flanar por aí, nas Jornadas Mundiais que estão quasiquasi a começar.
E foi então que criei o Zé. O Padre Zé. Ou melhor, o Padzé. Que melhor mascote do que este simpático bonequinho para realmente encarnar todo o espírito da coisa? Vender-se-ia como pãezinhos quentes, entre os peregrinos e até entre os basbaques. Em objecto, de louça ou de peluche, com barbante, claro; mas até mesmo só em postal.
Fica a ideia. É grátis.
(Depois não digam que isto aqui é só dzer mal e mainada, sem contributos construtivos e assim).
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quarta-feira, 8 de março de 2023
O sexo dos anjinhos com elefante na sala
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O problema não é um Deus que não existe, mas a
religião que O proclama
José Saramago
Parece que cresce entre os portugueses, mesmo entre os
católicos, uma grave e indignada perplexidade com o cinismo alarve e a
hipocrisia atrevida dos mais altos “dignitários”(!) da santa madre igreja
em relação às consequências do relatório devastador de uma comissão
independente sobre os abusos sexuais no seu santo seio. Há mesmo
quem se espante por não haver grandes e ruidosas manifestações cívicas de
protesto e de repulsa, mas também com a despropositada reverência respeitosa
com que ainda são tratados estes velhos pulhas viciosos nos meios de
comunicação social e até por responsáveis políticos eleitos (alguns destes
chegam mesmo a babar-lhes as manápulas para lhes lambuzar os anéis): entre
salamaleques e genuflexões, por “Reverendíssimo”, “Dom
não-sei-quê”, “Eminência”, “Excelentíssimo” ou quejandos, e não
simplesmente por “bandalho” ou “filhodaputa” e à chapada e a pontapé-no-cu ou
na cabeça que é como são tratados, nas esquadras de polícia portuguesas, todos
os suspeitos de crimes repugnantes e hediondos.
Os portugueses chegaram ao ponto de terem de esperar
sentados que um grupo impávido de velhos lúbricos, babados e de olhos
vermelhos, discuta cinicamente entre si o sexo dos anjos (se a pedofilia é realmente
crime sórdido e horrendo ou apenas uma simples contra-ordenação, um pecadilho
que se resolve com três painossos e duas avémarias).
Tudo leva a crer que a sociedade civil portuguesa
não sabe como lidar com uma organização pederástica e mafiosa, sustentada numa
hierarquia rígida, num código de silêncio e de obediência cega e inflexível e
liderada por uma gerontocracia cínica, cheia de manhas e de vícios e ungida de
inexplicados privilégios.
A sociedade civil portuguesa tem, obviamente, um
elefante na sala.
Pode continuar a fingir que ele não está lá, como sempre
fez, até agora - mas não é por isso que ele não deixa de lá estar,
paquidérmico, sempiterno, ignóbil, masturbador, nauseabundo, venéreo, pederástico
e insinuante, como nunca. Ou então, pode fazer algo por si própria, por uma
vez. E livrar-se do elefante para sempre.
Há duas maneiras de conseguir o desiderato. A “bíblica” e a
“democrática”.
A “bíblica” ou “pombalina” (também chamada “à antiga
portuguesa”) consiste basicamente em tomar-lhes os colégios, as residências, os
seminários e as igrejas onde foram consumados os crimes e chegar-lhes fogo.
Depois arrasá-los. Por fim, salgar a terra. Esta é a opção mais cara e complexa
(exige uma pesada logística), invasiva (talvez um tanto brutal) demodée
e, em simultâneo, menos eficaz e definitiva - porque não assegura que a
actividade criminosa não possa prosseguir noutros locais.
A melhor opção é, pois, a “democrática”. Desta maneira, mais
limpa, a sociedade civil portuguesa pode facilmente livrar-se do
paquiderme no meio da sala sem sequer questionar minimamente a santa integridade
da propriedade privada - respondendo, em referendo, a duas perguntas
singelas:
1 - Concorda com a Concordata?
2 - Concorda com a isenção de impostos da Igreja Católica?
- Se a maioria dos portugueses concordar com a Concordata (um tratado infame assinado, pela parte de Portugal, por um estafermo nefando que já retratei aqui e que, inexplicadamente, ainda circula em liberdade) a sociedade civil continua a impedir qualquer tribunal português de interrogar padrecas, bispos e até cardeais (sempre que julgar pertinente), de os levar a julgamento (se julgar necessário) e de os condenar (se julgar justo).
- Se a maioria dos portugueses concordar com a (também incompreensível) isenção de impostos da citada organização criminal, a sociedade civil continua a permitir o seu financiamento e, com isso, a perpetuar o crime.
- Se a maioria dos portugueses discordar de ambas, a sociedade civil livra-se finalmente do elefante. Simples assim.
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domingo, 26 de janeiro de 2014
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
O piropo
terça-feira, 27 de agosto de 2013
O “talent de bien faire”
É que, por São Jorge, segundo outro dos seus lemas, a armada lusitana tem “o mar por vocação, o país por horizonte”.
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
para frau Merkel, mas não só...
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domingo, 23 de setembro de 2012
COMUNICADO (ao conselho de estado)
domingo, 25 de março de 2012
Momento zen
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
Fucking Ada

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Os insurrectos que vemos no pequeno ecran são o fruto do que o sistema (o modelo social da sra Thatcher, aperfeiçoado pla 3ª via do sr. Blair e agora plo sr. Cameron) reservou para eles. Não tiveram educação (não tinham dinheiro para as propinas) nem saúde (não tinham dinheiro para o seguro) nem trabalho (por isso não tinham dinheiro para a educação e a saúde e a cultura, and so on).
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Essa é que é essa.
Es-tão se ca-gan-do. Fucking Ada, my dear.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
O patriotismo mendicante

Consiste basicamente em, através da propaganda, transformar pessoas sem qualquer brio individual ou qualidades cívicas notórias numa turba cheia de auto estima, convictamente consciente dos supostos valores da sua hereditariedade. Quanto mais grunhos, impreparados e civicamente amorfos forem os indivíduos, mais ululante se torna o fervor colectivo. Em geral, isto é perpetrado com intuitos políticos mais ou menos óbvios mas sempre inconfessáveis.
Em Portugal, onde tudo assume contornos sempre muito pitorescos, este fenómeno adquire por vezes proporções de um ridículo que atinge a atrocidade.
O Município de Cascais resolveu patrocinar um vídeo supostamente dirigido aos finlandeses, onde, em penosos seis minutos e quarenta e quatro segundos do mais rutilante orgulho nacionalista, tenta convencer os gélidos comedores de rena a emprestar dinheiro à ditosa pátria.
domingo, 10 de abril de 2011
sábado, 25 de dezembro de 2010
terça-feira, 23 de novembro de 2010
quinta-feira, 22 de abril de 2010
O símbolo da Figueira

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Os suportes, que são as figuras que sustentam ou guardam o escudo, poderão ser, de um lado uma torre de apartamentos (referência à especulação imobiliária, principal actividade económica da região); do outro, um eucalipto (referência à economia do endividamento, principal credo das elites políticas locais).
A coroa, em vez dos cinco castelos, contará com oito quadrados estilizados que representam o cordão de torres de habitação social que circunda a cidade (poderá haver também aqui uma sibilina referência a uma estruturante, ainda que informal, actividade económica típica: o aluguer do recuado).
Os paquifes serão constituídos por um friso de fichas, dados e cartas de jogar com os seus naipes de variadas cores (referência à mais vetusta e ainda viçosa actividade económica da cidade, o jogo de azar).
Quanto ao grito de guerra proponho que seja, “num listel sobre o brasão”: “Ólhó carapau e sardinha frescaaaa!!!” alusão igualmente óbvia às actividades da pesca e da restauração.
Já quanto à divisa não me ocorre nada, mas alguém de direito, e de jure, certamente achará algo a propósito.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Postal para a Irlanda

Na terra dos duendes verdes e dos padrecas que sodomizam rapazinhos não se pode gracejar com aquilo em que estes (e outros) seres fantásticos acreditam.
domingo, 15 de novembro de 2009
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
A fé das moscas

Donatien-Alphonse François, Marquês de Sade (História de Juliette)
Esta gente carregada de pergaminhos académicos não entende Harold Bloom, o mais que tudo dos críticos norte-americanos (cultura que tanto veneram) que, no seu livro Genius: A Mosaic of One Hundred Exemplary Creative Minds ("Génio: Um Mosaico de Cem Exemplares Mentes Criativas"), considerou José Saramago "o mais talentoso romancista vivo nos dias de hoje" (tradução livre de the most gifted novelist alive in the world today), referindo-se a ele como "o Mestre". Declarou ainda que Saramago é "um dos últimos titãs de um género literário que se está a desvanecer".
Depois da insinuação torpe e javarda de que as proposições do escritor se inscreveriam numa estratégia de marketing (como se o mercado português do livro não fosse peanuts para Saramago) e do triste episódio do texto envinagrado de inveja aleivosa de Vasco Pulido Valente, agora é outro "valente" (este é um editor) que vem à carga com esta brilhante e exigente “análise literária” carregada de adjectivos - depois de uma breve busca pelo Google, fiquei a saber que o valente “crítico” literário é o satisfeito editor de José Rodrigues dos Santos e de Miguel Sousa Tavares; há coisas fantásticas não há? - São as que se explicam por si mesmas. Com vultos da edição como este não admira que o panorama editorial e a cultura em Portugal sejam o que se sabe.
Mas é bem feito para Saramago: ele já devia saber que "apelar á reflexão" num país de cretinos convictos e devotos iluminados é como escarafunchar num charco sórdido e fétido com uma vara demasiado curta: uma pessoa salpica-se.
E agora, José? Ser-se ateu em Portugal não é pêra doce.
É uma experiência existencial muito próxima do “martírio” dos cânones católicos; é viver a vida toda numa espécie de eterno purgatório de perplexidades, numa dúvida excruciante:
- se deus não existe, quem foi o filho da puta que criou as moscas e os imbecis?