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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Uma pedra no meio do caminho

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Por vezes encontro. Mesmo quando não procuro.
Isto é, quando em viagem, não ando propriamente em busca de objectos para elaborar mais uma das minhas composições com achados. Todavia, eles aparecem-me, como revelações. As suas presenças fortemente sugestivas e insinuantes impõem-se-me, como uma lógica irresistível.
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Foi o que me aconteceu na praia dos buizinhos, em Porto Côvo. 
Achei lá este seixo que não é apenas uma pedra. Isso é simplesmente o que parece a basta genteA mim parece-me muito mais. 
Quanto mais olho para ele mais me parece um óbvio Stº António.
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- Que andaria ele a pregar aos buizinhos, na praia de Porto Côvo?
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sábado, 23 de agosto de 2008

A cadeira Φ (F)


Há algo que persegue todos os pintores: a busca de uma receita para que “o todo seja igual à soma das partes", a sempre almejada sensação de equilíbrio e harmonia: o número de ouro. A Divina Proporção. O pintor Mário Silva achou esse princípio nesta minha pintura de 2003.
Segundo Leonardo, nada obedece tanto à Divina Proporção como o corpo humano. E quase nada serve tanto o corpo humano como uma cadeira.
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A exemplo do arquitecto Le Corbusier (que estudou a arquitectura clássica, desenhou mobiliário e se interessou pela secção áurea), eu também quis conceber uma cadeira observando esse princípio.
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Dizem que Le Corbusier considerava as formas das modernas latrinas de fabrico industrial “mais belas do que as da Vitória da Samotrácia”, dito que lhe é atribuído para ilustrar o seu apreço pela utilidade - “Só o útil é belo” - e o seu desprezo pelo ornamento. O seu desvelo pelo útil ia ao ponto de, coloquialmente, se referir a objectos úteis como máquinas (coisas que "servem para"), por exemplo, uma casa era uma “machine a habiter”; uma latrina “une machine a chier” e uma cadeira… Uma “máquina de sentar”.
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Esta cadeira, a que chamei cadeira Φ (F) porque concebida sob o signo de Fídeas e do rectângulo áureo, possui também - através de alguns elementos quase ornamentais, que são referências ou alusões subliminares - um vago ar de máquina, ainda que primitiva.
É que, se os sovietes eram o comunismo + a electricidade, a minha cadeira é a divina proporção + um certo sentido da bizarria, quero dizer, o sentido do humor.
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Devo acrescentar que, para conceber esta cadeira, criei o meu próprio modulor (um sistema geométrico de proporções). Só que ao contrário do de Le Corbusier, a minha medida de referência fui eu próprio (o Homem é a medida de todas as coisas): helas, uns centímetros a menos do que o 1.83m do homem ideal do grande arquitecto… Não se pode ter tudo.
A cadeira Φ pode não ser tão bela como uma cadeira de Le Corbusier, mas é tão útil e certamente mais bela do que, sei lá, uma latrina da Samotrácia. Para mim, que a concebi, possui um je ne sais quoi da convulsa e derisória beleza dos surrealistas.
Esta beleza bizarra, construída em madeira de pinho e aço zincado, está na minha sala, à mesa das refeições. A ser útil. Eu cá acho que o útil, além de belo, não tem que ser chato. Quero dizer, aborrecido.
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segunda-feira, 4 de agosto de 2008

A cadeira Z (de zabel)

Esta cadeira, que desenhei e executei em 1997 ou 1998, deve o seu nome ao facto de ser dedicada (com amor e algum humor) a minha mulher Isabel, a quem havia prometido criar uma cadeira de baloiço, uma rocking chair.
Como não pude concretizar a promessa (o projecto teria sido demasiado dispendioso pois requeria tubo dobrado), optei por uma cadeira mais simples, que eu pudesse executar no meu atelier, sem recorrer a serviços de terceiros.

Mas uma forma mais simples não significa menos ambiciosa. O que eu tinha em mente era uma cadeira de aparato, uma cadeira de soba, mais ou menos como aquelas cadeiras de chefe africano da minha infância, como esta. É óbvio que não era minha pretensão criar uma obra de arte mas tão só (helas, o ar do tempo!) uma peça de design, isto é, um modelo para reprodução.
O design é um conceito de criação de objectos que, embora fortemente individualizados ou carismáticos, obriga uma execução fácil, tão barata quanto possível, de réplicas. Um objecto de design é tanto melhor sucedido quanto a sua utilidade for indiscutível, a sua identidade for inequívoca e a sua reprodução em larga escala for facilitada por um mínimo de tecnologia.

Esta cadeira Z tem um carisma algo étnico que lhe vem da pátina das madeiras e da solução do espaldar que me foi sugerida, talvez, daqui. Mas também um acento moderno que lhe proporcionam o aço zincado do varão roscado e a composição esquemática aparentemente simples. Como esta, de Marcel Breuer.
Infelizmente, ao contrário da cadeira Wassily de Breuer, a cadeira Z continua peça única.
Está na nossa sala. A Zabel gosta.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

o meu dada

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Construí este cavalinho de pau para minha filha algum tempo antes do seu nascimento, quando nem suspeitava que seria uma menina.

Fi-lo com as tábuas de pinho de uma velha prateleira mais umas ripas de uma palete.
O corpo, constituído por partes ensambladas, proporciona-lhe um volume que o distingue dos habituais cavalinhos de madeira recortada. As patas, tridimensionais, cada qual em uma só peça, contribuem para lhe dar um ar vagamente escultórico e uma dignidade algo solene..

Como ela não o atirou ainda para o sótão das velharias, como fez com outros brinquedos da sua infância, e se entretém amiúde a arreá-lo de fantasias de cordéis e fitinhas coloridas, suspeito que tem com ele a relação de uma princesa com o seu mais nobre corcel.
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sexta-feira, 16 de maio de 2008

o candelabro e uma estória

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Esta espécie de candelabro (ou castiçal) é um exemplo dos objectos que vou inventando a partir de achados.
Não se trata sequer de um object d’art. Apenas um objecto utilitário com um efeito decorativo digamos, extravagante.
Como muitas coisas, surgiu de uma necessidade.
Há tempos, por altura do aniversário de Isabel, a nossa filha convenceu-me, "em segredo", a preparar-lhe um jantar romântico surpresa - “à luz de velas, papá”, disse.
Mas não tínhamos um castiçal.
Fui ao atelier e, de entre a tralha que vou recolhendo e amontoando, escolhi um velho e enorme parafuso com a sua enorme porca de orelhas, que pintei de verde (para o corpo), dois bocados de MDF que pintei com dois tons de ouro (para a base) e um pequeno sarrafo de mogno que envernizei, (para o suporte das velas). Em duas horas estava pronto. Foi o trabalho de ensamblar as partes.
Nessa noite tivemos, todos três, (daí o número de velas do castiçal) o jantar romântico que ambos, previamente, havíamos confeccionado. Uma sorria, divertida. A outra, deleitada, batia as palmas de satisfação.
Estas coisas acontecem-me porque partilho a vida com alguém muito indulgente com os desvarios da minha imaginação e porque temos uma filha com uma mente muito aberta para a beleza, digamos, pouco convencional. O brilho dos seus olhos infantis redobra de intensidade sempre que lhe proporciono o espectáculo simples de coisas que se transfiguram noutras coisas.
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sábado, 26 de janeiro de 2008

O meu xadrez

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Trata-se de outra das minhas experiências na recriação de objectos. Não é design. Apenas um object d’artiste. As peças foram concebidas a partir da conjugação de materiais diversos (madeira, latão, aço, ferro zincado, vidro).
Não se trata de uma simplificação do processo de fabrico reduzindo as peças a corpos simples, estereométricos, com o objectivo de facilitar a reprodução, como no caso de Josef Hartwig (o Bauhaus, que deu origem ao design industrial).
Aqui, embora construídas a partir de formas geométricas simples, as peças são elementos fortemente individualizados, com formas caprichosas e carismáticas.
Um capricho e um divertimento, como aqui. A minha filha adora.
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quinta-feira, 26 de abril de 2007

O Ouri da minha filha

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(madeira de pinho; 4 berlindes de vidro)

Vejam o que fiz, há já uns tempos, para minha filha: este pequeno tabuleiro para jogar Ouri.
O Ouri é um jogo de origem africana, que dizem ser o mais antigo da humanidade e agora está muito em voga por via do ensino da matemática (também o joguei na minha infância… Fazíamos buracos no chão e jogávamos com pedrinhas ou sementes, só que na época não era moda, era só um jogo de pretos!...)Este, concebi-o como um corpo com duas cabeças de serpente, cujas bocas, abertas, funcionam como receptáculos para as peças que cada um dos contendores vai amealhando...
Aqui fica, uma das minhas experiências na (re)criação de objectos, como uma forma de Arte Aplicada…ou de design.
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