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quarta-feira, 27 de julho de 2022

D. Manuel Clemente, o conivente


 

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A história conta-se em poucas linhas.

D. Manuel Clemente, a eminência parva que lidera em Portugal o franxaizingue da Igreja Católica (conglomerado multi-nacional com sede na cidade do Vaticano) teve conhecimento de um crime perpetrado por um padre sobre uma criança e, em lugar de o denunciar às autoridades competentes, como manda a lei e o bom-senso, protegeu o criminoso. Ou seja, Clemente foi clemente. Mas não só. Também foi conivente. Permitiu-lhe continuar em funções por mais de vinte anos, gerindo tranquilamente uma associação privada que acolhe famílias, jovens e crianças.

Os dados sobre este caso em concreto contam-se entre as mais de 300 denùncias já recebidas pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa. O nome do sacerdote, que chegou a ser responsável por duas paróquias da zona norte do distrito de Lisboa, é também um dos sete que já se encontram nas mãos da Polícia Judiciária para serem investigados.

Quanto a sua eminência reverendíssima, como a sordidez moral não é coisa que repugne os paisanos, e muito menos os fiéis, em breve vamos todos poder vê-lo, como de costume, de sotaina de gala, se não for em pose de Cerejeira com o Ventura dos cheganos, certamente a abrilhantar mais uma inenarrável sessão solene de abertura do ano judicial, onde, entre salamaleques cúmplices e genuflexões piedosas, dará como habitualmente o seu anel a lambuzar às beiças sôfregas e devotas do presidente da república de Portugal.

É assim a vida num país de costumes quase tão brandos como bizarros.

O retrato de sua eminência é de 2013.

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