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“Nunca aceitei e devolveria de imediato” qualquer
quantia fora do “estrito cumprimento da lei”.
Alexandra Reis é a imagem mais capitosa da classe dirigente
lusitana. O retrato mais vivo e fiel da nossa gestão-de-ponta. Mas
também, receio, do português comum. Reis foi constrangida à demissão por
questões morais, não por questões legais. A Lei, em Portugal, não é informada pela
moral, ou pla ética.
Reis foi para a TAP despedir pessoas. Despediu mais de três
mil. Foi avara nas indemnizações. Aos que ainda lá ficaram também os constrangeu
a reduzir remunerações. Depois, também ela foi dispensada. Não se
coibiu, no entanto, de reclamar para si a mais repolhuda das compensações. A
Lei permite-o, aos gestores, o que não faz aos trabalhadores. De seguida
foi estrafegada nos jornais e nas redes sociais. Um escândalo; imoral, clamaram;
até gorda e feia lhe chamaram as almas puras e castas e elegantes e belas e
censuradoras.
Não vi ninguém clamar contra a imoralidade de uma lei que
consagra o privilégio e, por tanto, a iniquidade. Talvez porque é este o tesouro
que realmente prezam todos os portugueses, desde sempre: os da classe
dirigente, com os seus cavalos, bispos, torres e gestores-de-ponta; e
os da classe dirigida, com os seus peões.
2 comentários:
"Canalha vil, grandíssima ralé!" é como o Junqueiro tratava "O Melro", eu, plagiando o poeta, do mesmo modo, classifico os abutres que nos devoram..
Citando o Zeca
"Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada"
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