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sábado, 19 de novembro de 2022

A corneta do chefe da estação


 

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Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da república portuguesa (sobre quem já me pronunciei aqui, aquando da sua primeira candidatura) disse que ah e tal "o Qatar não respeita os direitos humanos. Toda a construção dos estádios e tal..., mas, enfim, esqueçamos isto. É criticável, mas concentremo-nos na equipa".

Nada que Marques Mendes não pudesse também ter dito. Porque como Marcelo habitualmente não pensa no que diz, é o pequeno comentador da SIC que geralmente diz o que Marcelo pensa - como o pato do Zé Freixo, o boneco do ventríloquo, ou uma corneta de chefe de estação. Trata-se de uma das figurinhas mais pitorescas da nossa bisonha classe dirigente.

Marques Mendes tem uma longa carreira, sempre ascendente mas, curiosamente, sempre de feição coadjuvante. Começou logo a vice-presidente da Câmara Municipal, em Fafe. Depois foi eleito deputado numa enfiada de legislaturas. Ganhou ”estatura política” como ajudante-de-Cavaco Silva (de quem também foi porta-voz, integrando todos os seus três governos) e a partir daí foi sempre a subir. Sempre a servir (para alguma coisa), sempre a fazer recados.

Mas além de haver pertencido ao núcleo duro do gang, perdão, da entourage de Cavaco (Duarte Lima, Oliveira e Costa, Dias Loureiro, etc., & ), Marques Mendes também co-adjuvou Marcelo quando este presidiu ao PSD e foi, ele próprio, presidente do PSD. Por fim, dedicou-se a outras causas edificantes, como por exemplo o reforço da ética na vida política e assim. Foi agraciado plo Cavaco com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e com o penacho de  Conselheiro d’Estado.

Agora pertence ao conselho-consultivo de uma unidade local de saúde no Alto-Minho e, talvez por, como Secretário de Estado da Comunicação Social (entre 85/87), ter iniciado o processo de privatização da imprensa e apresentado a primeira proposta de lei de abertura da televisão à iniciativa privada, a SIC concedeu-lhe um horário de comentário plítico aos Domingos, para o qual o apresenta, mui grave e pomposamente, como “a opinião que conta”, como um senador da república, um sábio, um presidenciável, um grão-vizir.

Entretanto, quando finalmente Marcelo decidiu fazer a folha a António Costa aí esteve ele, de novo a co-adjuvar, apresentando um garboso livro no qual um ex-governador do Banco de Portugal (sobre quem também já me pronunciei aqui) pôs a merda toda no ventilador. Um facto que logo a seguir não se coibiu de comentar, do alto da sua suficiência de grande-homem de pequena estatura, empoleirado na cadeira Sic de comentador e com os pés a-dar a-dar - como um grão-vizir bem pequenino, assaz velhaco e mau bailarino, cuja única ambição, inconfessada mas indisfarçada, é apenas “ser califa no lugar do califa”.

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1 comentário:

X Dias Longo disse...

É velos em bicos de pé, qual o mais perfeito....