.
Os monstros desalmados de voz cavernosa, dentes verdes e
olhos esbugalhados só existem nas estórias infantis, nos subúrbios do cinema
americano e na imaginação popular. Os que existem mesmo, os reais, não metem
nenhum medo; usam gravata de seda, camisa azul-bébé, dizem “implementar”,
sorriem, acenam compenetrados e até parece que têm alma - ainda que tão sem
carácter como a fisionomia, cujos traços anódinos lhes dão aquele ar bem-parecido,
quase radiante, de coninhas inofensivos.
É o caso de Fernando Medina. Fernandinho é um coninhas tão
coninhas que foi capaz de perder umas eleições de mão-beijada para um outro
coninhas ainda mais coninhas e com voz de cana rachada.
Como prémio de consolação, Medina foi nomeado para o cargo
de ministro das finanças que, em Portugal, como se sabe, é um lugar,
ou posto, reservado quase consuetudinariamente (é um atavismo
nacional, não me peçam que explique) a tesoureiros coninhas de alma
pequena e velhaca e voz cavernosa ou aflautada.
Foi aí que Fernandinho se revelou um “mãos de tesoura”.
Poderia ter enveredado pla nobre arte da topiária ou, como Fígaro e Variações,
por barba e cabelo, mas não seria a mesma coisa. Como já tinha as mãos
na massa, quero dzer, no orçamento, começou logo a entesourar. E assim,
corta aqui, corta ali, corta acolá, desatou a cortar nas reformas dos
portugueses.
Mas Medina não corta umas reformas quaisquer. Corta as
reformas do futuro: as reformas do futuro dos portugueses e as dos portugueses
do futuro. Sempre a sorrir e a acenar compenetrado; e a dizer implementar.
.
2 comentários:
Com tantas tesouras não é ministro mas tesoureiro do Costa seu mentor.
Falava-se do Gaspar, mas existem muitos Gaspares. Uns usam o cativo outros as tesouras.
quem perde é sempre o povo.
Enviar um comentário