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terça-feira, 18 de outubro de 2022

Ó ai ó linda


 

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um asno com uma mitra entre as orelhas é uma santa besta 

Camilo Castelo Branco 

(a respeito de frei Gaspar da Encarnação, mui douto e erudito varatojano jacobeu e ministro de D. João V).


A estupidez clerical (a par da castrense e da doutoral) é um traço marcante e indelével, proverbial, do rosto da nossa pitoresca classe dirigente.

Manuel Linda é um príncipe da igreja portuguesa e um dos rostos da actual classe dirigente nacional. Esta linda e reverendíssima eminência já foi bispo-auxiliar de Braga e bispo do Ordinariato Castrense de Portugal. Em 2018 foi agraciado com a Medalha Cruz de São Jorge, Primeira Classe, do Estado-Maior-General das Forças Armadas. Hoje é bispo do Porto. “Sede alegres na esperança” é o seu escudo episcopal, o seu brasão de armas.

Linda é licenciado em Humanidades pla católica de Braga, em Teologia pla católica do Porto e doutorado em Teologia, na especialidade de teologia moral, pla (presumo que também católica) Pontifícia Comillas, de Madrid, com a tese "Andragogia política em D. António Ferreira Gomes", o que faria dele, suponho, um erudito, um sábio, um especialista em moral e um expert em instrução de adultos. Pois, não. Cada vez que abre a santa boca, a propósito do que quer que seja, esta linda eminência não diz nada que jeito tenha. Dali só brota ranho e baba merdosa e pestilenta. Um vómito azedo e viscoso de séculos de estupidez alarve, de cínica presunção, de hipocrisia malévola e reaccionária e de sandice sem remissão.

A sentença de Camilo a respeito de frei Gaspar da Encarnação está escrita na pedra. Pode ser aplicada ipsis verbis, com propriedade, ao senhor Linda ou a qualquer outro elemento proeminente do nosso santo clero, de hoje e de sempre. Cai-lhes sempre muitíssimo bem, como uma capa espanhola.

Por isto, se por acaso num destes dias aprazíveis cair um meteorito no bispado do Porto, ou num qualquer concílio de padrecas nas redondezas, eu não proponho uma comissão de inquérito. Tampouco proponho que se arquive. Proponho que se faça um concurso de humor muito gráfico, muito escarninho, muito explícito e muito punitivo.

Como acho grotesco que se alie competição à pura diversão, não haveria júri nem vencedor e todos os participantes ganhariam ex aequo uma viagem ao Vaticano e uma visita guiada plo papa ao Juízo Final onde, entre 1535 e 1541, alguns doutores da igreja foram para sempre precipitados nos quintos dos infernos por um escultor que por acaso se chamava Miguel Ângelo (o anjo vingador), para que constatassem com os próprios olhos toda a grandeza da alegre geometria do acaso, da divina matemática das coincidências – ou seja, da suprema ironia da coisa.

Sejamos alegres na esprança.

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