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um asno com uma mitra entre as orelhas é uma santa besta
Camilo Castelo Branco
(a respeito de frei Gaspar da Encarnação, mui douto e erudito varatojano
jacobeu e ministro de D. João V).
A estupidez clerical (a par da castrense e da doutoral) é
um traço marcante e indelével, proverbial, do rosto da nossa pitoresca classe
dirigente.
Manuel Linda é um príncipe da igreja portuguesa e um
dos rostos da actual classe dirigente nacional. Esta linda e reverendíssima
eminência já foi bispo-auxiliar de Braga e bispo do Ordinariato
Castrense de Portugal. Em 2018 foi agraciado com a Medalha Cruz de São Jorge, Primeira
Classe, do Estado-Maior-General das Forças Armadas. Hoje é bispo
do Porto. “Sede alegres na esperança” é o seu escudo episcopal, o seu
brasão de armas.
Linda é licenciado em Humanidades pla católica
de Braga, em Teologia pla católica do Porto e doutorado em
Teologia, na especialidade de teologia moral, pla (presumo que também católica)
Pontifícia Comillas, de Madrid, com a tese
"Andragogia política em D. António
Ferreira Gomes", o que faria
dele, suponho, um erudito, um sábio, um especialista em moral e um
expert em instrução de adultos. Pois, não. Cada vez que
abre a santa boca, a propósito do que quer que seja, esta linda eminência não
diz nada que jeito tenha. Dali só brota ranho e baba merdosa e pestilenta. Um vómito
azedo e viscoso de séculos de estupidez alarve, de cínica presunção, de hipocrisia
malévola e reaccionária e de sandice sem remissão.
A sentença de Camilo a
respeito de frei Gaspar da Encarnação está escrita na pedra. Pode ser aplicada ipsis
verbis, com propriedade, ao senhor Linda ou a qualquer outro
elemento proeminente do nosso santo clero, de hoje e de sempre. Cai-lhes
sempre muitíssimo bem, como uma capa espanhola.
Por isto, se por acaso
num destes dias aprazíveis cair um meteorito no bispado do Porto, ou num qualquer
concílio de padrecas nas redondezas, eu não proponho uma comissão de inquérito.
Tampouco proponho que se arquive. Proponho que se faça um concurso de humor muito
gráfico, muito escarninho, muito explícito e muito punitivo.
Como acho grotesco que se
alie competição à pura diversão, não haveria júri nem vencedor e todos os
participantes ganhariam ex aequo uma viagem ao Vaticano e uma visita guiada
plo papa ao Juízo Final onde, entre 1535 e 1541, alguns doutores da
igreja foram para sempre precipitados nos quintos dos infernos por um escultor
que por acaso se chamava Miguel Ângelo (o anjo vingador), para
que constatassem com os próprios olhos toda a grandeza da alegre geometria do
acaso, da divina matemática das coincidências – ou seja, da suprema ironia
da coisa.
Sejamos alegres na
esprança.
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1 comentário:
Balha-nos Deus.
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