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sábado, 22 de outubro de 2022

Fernandinho mãos-de-tesoura


 

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Os monstros desalmados de voz cavernosa, dentes verdes e olhos esbugalhados só existem nas estórias infantis, nos subúrbios do cinema americano e na imaginação popular. Os que existem mesmo, os reais, não metem nenhum medo; usam gravata de seda, camisa azul-bébé, dizem “implementar”, sorriem, acenam compenetrados e até parece que têm alma - ainda que tão sem carácter como a fisionomia, cujos traços anódinos lhes dão aquele ar bem-parecido, quase radiante, de coninhas inofensivos.

É o caso de Fernando Medina. Fernandinho é um coninhas tão coninhas que foi capaz de perder umas eleições de mão-beijada para um outro coninhas ainda mais coninhas e com voz de cana rachada.

Como prémio de consolação, Medina foi nomeado para o cargo de ministro das finanças que, em Portugal, como se sabe, é um lugar, ou posto, reservado quase consuetudinariamente (é um atavismo nacional, não me peçam que explique) a tesoureiros coninhas de alma pequena e velhaca e voz cavernosa ou aflautada.

Foi aí que Fernandinho se revelou um “mãos de tesoura”. Poderia ter enveredado pla nobre arte da topiária ou, como Fígaro e Variações, por barba e cabelo, mas não seria a mesma coisa. Como já tinha as mãos na massa, quero dzer, no orçamento, começou logo a entesourar. E assim, corta aqui, corta ali, corta acolá, desatou a cortar nas reformas dos portugueses.

Mas Medina não corta umas reformas quaisquer. Corta as reformas do futuro: as reformas do futuro dos portugueses e as dos portugueses do futuro. Sempre a sorrir e a acenar compenetrado; e a dizer implementar.

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2 comentários:

cid simoes disse...

Com tantas tesouras não é ministro mas tesoureiro do Costa seu mentor.

X Dias Longo disse...

Falava-se do Gaspar, mas existem muitos Gaspares. Uns usam o cativo outros as tesouras.
quem perde é sempre o povo.