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O sonho do capitalismo é criar valor sem criar riqueza,
fazer dinheiro eliminando a ideia de trabalho
- a "arte contemporânea" realiza isto.
Franck Lepage
Ai Weiwei é um artista. Mas Ai não é um artista qualquer. Ai
não faz nada com as suas próprias mãos. Ele delega. Ai tem assim uma espécie de
fábrica cheia de colaboradores que lhe fazem as maravilhas com que ele
encanta os connoiseurs.
Mas Ai não é um artista qualquer porque ele é também um
activista político. Oh sim. No Ocidente, em geral, o activismo plítico não
costuma ser bom para o artista (enfim, para a sua boa cotação no
mercado). Não é o caso de Ai. Porque Ai é um artista capitalista. Mais do
que apenas isso, Ai é um artista anti-comunista. Ai preocupa-se com o ambiente.
Ai é um sábio de bons sentimentos. Ai é o artista-escuteiro. Ai é o artista
candidato a miss que deseja sol na eira do género humano e chuva no nabal do manuel
germano. Assim, Ai tem sempre aquilo que se costuma chamar boa imprensa.
Digamos que a sua cotação no mercado é directamente proporcional ao seu activismo
plítico. Recentemente Ai foi declarado o artista mais popular do mundo
pela The arts Newspaper, uma publicação que quase ninguém que eu conheço
conhece.
Ai é um cidadão chinês que, aleivosamente perseguido no seu
país por fraude fiscal, vive agora livre em Portugal, onde adquiriu uma herdade.
No Alentejo.
Ai abriu recentemente um grande showroom das suas
obras na Cordoaria Nacional. A coisa é produzida pela promotora de eventos Everything
is new, do empresário de variedades Álvaro Covões. A imprensa não fala de outra
coisa. Ai o Aiweiwei, ai o Aiweiwei. Entre as obras de
arte que Ai expõe está um enorme bloco de mármore de Estremoz em forma de
rolo de papel higiénico cuja transcendência é um enlevo para os connoiseurs.
Tem também uma pirâmide de bicicletas que é um espanto.
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