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sábado, 5 de junho de 2021

Ai Weiwei ou o excessivismo dos tótós


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O sonho do capitalismo é criar valor sem criar riqueza, 

fazer dinheiro eliminando a ideia de trabalho 

- a "arte contemporânea" realiza isto.

 Franck Lepage

 Ai Weiwei é um artista. Mas Ai não é um artista qualquer. Ai não faz nada com as suas próprias mãos. Ele delega. Ai tem assim uma espécie de fábrica cheia de colaboradores que lhe fazem as maravilhas com que ele encanta os connoiseurs.

Mas Ai não é um artista qualquer porque ele é também um activista político. Oh sim. No Ocidente, em geral, o activismo plítico não costuma ser bom para o artista (enfim, para a sua boa cotação no mercado). Não é o caso de Ai. Porque Ai é um artista capitalista. Mais do que apenas isso, Ai é um artista anti-comunista. Ai preocupa-se com o ambiente. Ai é um sábio de bons sentimentos. Ai é o artista-escuteiro. Ai é o artista candidato a miss que deseja sol na eira do género humano e chuva no nabal do manuel germano. Assim, Ai tem sempre aquilo que se costuma chamar boa imprensa. Digamos que a sua cotação no mercado é directamente proporcional ao seu activismo plítico. Recentemente Ai foi declarado o artista mais popular do mundo pela The arts Newspaper, uma publicação que quase ninguém que eu conheço conhece.

Ai é um cidadão chinês que, aleivosamente perseguido no seu país por fraude fiscal, vive agora livre em Portugal, onde adquiriu uma herdade. No Alentejo.

Ai abriu recentemente um grande showroom das suas obras na Cordoaria Nacional. A coisa é produzida pela promotora de eventos Everything is new, do empresário de variedades Álvaro Covões. A imprensa não fala de outra coisa. Ai o Aiweiwei, ai o Aiweiwei. Entre as obras de arte que Ai expõe está um enorme bloco de mármore de Estremoz em forma de rolo de papel higiénico cuja transcendência é um enlevo para os connoiseurs. Tem também uma pirâmide de bicicletas que é um espanto.

Integrado num movimento que dá pelo capitoso nome de excessivismo, o segredo (bem visível, aliás) da sua obra é a monumentalidade (é tudo em grande, para que não escape nada aos papalvos) mas também a diversidade: Ai esculpe, Ai pinta, Ai desenha, Ai tricota, Ai instala, Ai performa, Ai amassa, Ai escreve, Ai filma, Ai fotografa, Ai projecta – ai perdão, Ai não, os seus colaboradores. Ai é uma espécie de Joana Vasconcelos hirsuta e de olhos em bico. Ai é o artista preferido por aqueles que não fazem a mínima ideia do que é a arte.
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