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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

O carnaval avança a todo o vapor

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A Primavera, é sabido, chega cada vez mais cedo. Os dias amenos desinibem. Até a estupidez (sobretudo esta) desabrocha, rutila, resplandece. E com ela o carnaval.
Na Venezuela, por exemplo, o auto-proclamado rei-momo, defende alegremente uma invasão militar estrangeira. Guaidó (é esta a sua graça) foi designado presidente interino por uma comissão presidida à distância pelo vice dos Estados Unidos, o não-menos carnavalesco Mike Pence. Foi imediata e internacionalmente reconhecido pelos Estados Unidos e por um sem número de governos, entre os quais o nosso. é carnaval, ninguém leva a mal, aposto que devem ter pensado. Os Estados Unidos são presididos por Donald Trump, alguém também bastante carnavalesco, não desfazendo.
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Já no Brasil, o carnaval não é um chá dançante. O rei Momo é o presidente eleito. Trata-se de um ex-capitão, expulso do exército por insubordinação, que comanda um governo vice-presidido por um tal de Mourão, general no activo. O governo é constituído em partes equilibradas por militares obtusos, bancarroteiros fanáticos (ou vice-versa) e uma beata, igualmente fanática e obtusa; todos no activo.
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Em Portugal o presidente perde popularidade. É verdade. O povo viu finalmente o cu ao populismo. Estava escrito nos astros (vinha no Sol). Para a próxima, Marcelo perde para o Tino de Rans, logo à primeira volta. Digam lá que isto não tem potencial carnavalesco.
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Potencial carnavalesco tem a Câmara Municipal de Torres Vedras que patrocina o carnaval das matrafonas. Cem anos depois da implantação da República retirou obedientemente uma imagem farsola do cortejo (uma virgem com cara de bola) para não melindrar a santa sensibilidade da igreja católica local, essa inefável e carnavalesca congregação pederástica de matrafonas. O que todavia torna tudo ainda mais carnavalesco é a reverência geral, a bonomia do respeitinho; como se a aceitação pacífica de uma arbitrariedade imbecil fosse um facto da vida, uma coisa natural.
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Ainda em Portugal, na Figueira da Foz, onde como é sabido o carnaval nunca acaba (na sua peculiar tradição secular o ano figueirinhas não tem quarta-feira de cinzas). O rei e a rainha do carnaval foram recebidos nos paços do concelho com pompa e circunstância e Avelino Gaspar, o patrão da Lusiaves (empresa condecorada pelo município por altruísmo) foi acusado plo ministério público de insolvência dolosa e branqueamento de capitais, ou seja, bancarrotismo.
Ainda na Figueira, o pugrama do Jotalves vai para uma segunda temporada. As coisas boas e realmente relevantes nunca acabam.
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Entretanto, o grande educador da classe operária, o camarada Arnaldo Matos, bateu a caçuleta; esticou o pernil, foi fazer tijolo.
O revolucionário mais bem visto pelas elites moderadas do país – tinha, dizem, um particular gosto em conversar com o Dr. Mário Soares - entregou a alma ao criador, como referiu Pacheco Pereira. Dele disse também o presidente Marcelo que “ficará na memória de todos como um defensor ardente da liberdade”.
Segundo o circunspecto Observador, a principal actividade política do camarada Arnaldo no último ano e meio passou plo twitter. Tinha 3500 seguidores directos. Foi através desta plataforma que chamou “monhé” a Costa, ”putedo” á geringonça, apelou à luta armada, desejou as melhoras a Marcelo, defendeu os atentados terroristas de Londres e, preocupadíssimo com a saúde do papa, alertou que o palco dos encontros da juventude é um local “difusor de legionella”.
Ah, mas o “nosso rasputinezinho”, como lhe chamava Natália Correia, não foi para câmara de gás (foi cremado) sem o protagonismo (ainda que passivo) em mais um episódio, o derradeiro, carnavalesco: o seu partido (o émeérrepêpê, porra) foi ardentemente acusado pelo filho de lhe sequestrar o cadáver que arrefecia no velório.
Mainada. O carnaval avança a todo o vapor.
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