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Existem expressões orais que, usadas na linguagem de
todos os dias, consubstanciam idiossincrasias regionais, ou seja, identificam
uma vasta e diversa gama de pessoas que as partilham e entendem.
Estas
expressões, algumas de origem obscura, condensam a “sabedoria popular” no
achado engenhoso e surpreendente de uma frase curta, incisiva, por vezes maliciosa
ou rude. Repetidas de geração em geração, cristalizam a experiência das “coisas
da vida” num humor filosófico cuja aparente ingenuidade é sempre condimentada
ou contrariada pela veemência da intenção
desencantada ou da atitude jocosa. Estas
expressões são um património valioso porque são o nervo vivo daquilo que se chama identidade cultural.
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Todas as terras tem o seu património destas “frases
feitas”. A Figueira da Foz também. Quem não conhece expressões tão
peculiarmente figueirenses como: “’tá o
mar um cão”, “fumo pra tavarede”,
‘tá cheiroso este bueiro”, “trinta mares te comessem”, “’pera aí que já cospes”, etc., etc.?
Há tempos ocorreu-me desenhar uma “expressão visual” ou “imagem
gráfica”, para cada uma destas conhecidas expressões populares figueirenses. Pode
ser que um dia me resolva editá-las numa colecção de cartões-postais, ou, pior
ainda, a imprimi-las em t-shirts (diz que há mercado para tudo).
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Isto vem a propósito de um pentelho que se propôs (cheio
de eufemismos, como um genuíno figueirinhas) insultar-me sem o fazer: o
desinfeliz (que diz chamar-se Rui Beja
e se supõe uma espécie de porta-voz oficioso da Câmara Municipal) “presume” que eu sou “profundamente ignorante” porque “não
quer crer” que “haja má-fé” no teor deste
cartoon, que me foi suscitado por esta
notícia, e que editei no blog do meu amigo Agostinho.
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Ora quanto a fé, batatas – não fui agraciado com qualquer
delas; nem boa, nem má, nem assim-assim – e receio que não haja nada a fazer.
Já quanto a ignorância, fui apanhado, reconheço-o - há, de facto, demasiadas coisas que ignoro. Contudo, sei
que nada sei, e isto tem-me permitido aprender, tomar conhecimento, entender uma data de outras coisas intangíveis a lambe-cus como o senhor Beja. Por exemplo esta: a democracia é (ou
devia ser) o governo através da discussão.
Ora uma sessão de esclarecimento
não é o mesmo que uma discussão pública – uma é vertical, de cima pra baixo;
outra é horizontal, uma coisa entre
iguais – na primeira, o consenso é o triunfo de quem dá as respostas (em geral
já prontas); no segundo o consenso é a satisfação das aspirações, ou da simples
curiosidade, de quem faz as perguntas, ou seja, a democracia.
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Outra das coisas que me tem permitido o reconhecimento da
minha ignorância (e que visivelmente também não está ao alcance do senhor Beja)
é o entendimento da função do humor em sociedade: a mim desopila-me o fígado e
permite-me comentar a iniquidade do mundo com um olhar distanciado e uma certa urbanidade; isto é, sem ceder a arroubos
mais primários, como o insulto soez ou a bomba. Mas igualmente sem eufemismos. Eu
mato a cobra e mostro o pau.
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Por isso decidi editar aqui hoje uma das minhas “expressões
visuais” de um dito popular figueirense
que talvez elucide o senhor Beja e outros pentelhos.
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