O senhor vereador da cultura da câmara municipal da Figueira
da Foz não é um homem sem qualidades.
Pelo contrário. Uma delas é que é um homem de ideias fixas.
O vereador António Tavares, ele próprio também escritor
(embora não seja nenhum Musil), acha que a literatura é assim uma espécie de
concurso de abóboras. Para ele alguns escritores são mais dignos que outros – mais bem comportados; mais belos; mais,
sei lá, redondinhos ou simétricos; mais fotogénicos; enfim, mais recomendáveis.
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A Biblioteca Municipal acaba, pelos vistos, de perder o espólio de Joaquim Namorado porque os familiares do poeta se fartaram de ver o
nome e o legado deste continuamente enxovalhados pela câmara municipal de
uma cidade que ele escolheu para viver e morrer e a quem deu tudo.
O vereador acha, peremptório, que “a opção da autarquia, no que a prémios literários respeita, se esgota no figueirense João Gaspar Simões”.
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Eu acho que o escritor e cidadão Tavares está no seu
direito de preferir o segundo modernismo ou presencismo
ao neo-realismo. Mas também acho que o vereador da cultura não tem o direito de
impôr os seus gostos ou desgostos.
Acrescento que nada tenho contra o prémio literário João Gaspar Simões. Penso todavia que faria sentido a recuperação do prémio Joaquim Namorado (uma coisa não impediria a outra, como referi aqui). Seria um sinal de civilidade, de justiça, de maturidade. de pluralismo, que sei eu, de capacidade de conviver com os seus eus contraditórios.
Acrescento que nada tenho contra o prémio literário João Gaspar Simões. Penso todavia que faria sentido a recuperação do prémio Joaquim Namorado (uma coisa não impediria a outra, como referi aqui). Seria um sinal de civilidade, de justiça, de maturidade. de pluralismo, que sei eu, de capacidade de conviver com os seus eus contraditórios.
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Que diabo, esta pequena cidade de província sempre é a
cidade natal (e adoptada) de dois dos mais representativos escritores das
correntes literárias que, embora antagónicas, foram as dominantes na literatura
portuguesa no século vinte. Mas também é a cidade que deu à cultura portuguesa vultos
como o filósofo Joaquim de Carvalho, o pintor surrealista Cândido Costa Pinto, o escultor e professor Gustavo
Bastos, o escritor e cineasta abjeccionista
João César Monteiro, o genial (e hoje um tanto esquecido) maestro e compositor David
de Sousa.
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Não, a Figueira da Foz não é uma cidadezinha qualquer, no que à cultura diz respeito. É uma cidade plural, rica em diversidade, contraditória. Devia celebrá-lo. Com orgulho e sem preconceitos; sem pruridos nem psicoses, nem complexos paroquiais.
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Não, a Figueira da Foz não é uma cidadezinha qualquer, no que à cultura diz respeito. É uma cidade plural, rica em diversidade, contraditória. Devia celebrá-lo. Com orgulho e sem preconceitos; sem pruridos nem psicoses, nem complexos paroquiais.
A cultura na Figueira merecia mais; muito mais. Não devia
esgotar-se nas opções ideológicas de um regedor.
Ao
alto, capricho nº39, de Francisco de Goya (gravura
inspirada neste desenho original: el asno literato)
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2 comentários:
viva
não sei até que ponto alguma vez fez um dos seus desenhos por sugestão de quem lê e aprecia o seu trabalho
como já me aconteceu ver/ouvir um poema meu musicado por Fernando Lopes - passados 30 anos de eu o ter escrito, não enjeito a possibilidade da minha sugestão para um desenho seu venha a ser aceite
a receita seria simples, e fácil (acredito) de contretizar:
TÍTÚLO BRASIL
desenho de uma SETA - numerada com o número 1
:
SETA 1
abraço - não deixarei de admirar o seu trabalho
Ah, o meu nome é antónio saias -
Platero é a brincar
abraço outro
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