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terça-feira, 12 de março de 2013

Na Figueira da Foz.


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A Figueira da Foz já foi (antes do turismo de massas) um sítio de veraneio de referência (quando não havia outros) para uma certa burguesia muito selecta - no tempo em que, à volta, as massas viviam na mais abjecta penúria. 
Mas a visão risonha desse passado de festas, animação e cosmopolitismo deriva sobretudo dos efeitos de duas guerras (a de Espanha e a Mundial) cujos refugiados em trânsito enchiam (no final dos anos 30 e no início dos 40) as suas ruas de mundana animação, as esplanadas dos seus cafés de risos e os seus casinos de lucros.
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A verdade é que, nesses tempos, a maior parte dos figueirenses mourejavam na mais negra miséria - mulheres e crianças nas secas do bacalhau e nas conservas ou, homens feitos e rapazinhos, em estaleiros navais, nas minas de carvão, fábricas de vidro e de cimento ou então, num infame degredo esclavagista, na pesca do bacalhau.
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Entretanto, acabaram-se a pesca do bacalhau e a seca, as conservas, os estaleiros navais, as minas de carvão, a fábrica de cimento e até a da cal (recentemente os políticos locais cantaram hossanas em uníssono ao encerramento desta última, que assim desafectou valiosos terrenos que reservam - naturalmente em prestimosas parcerias publicóprivadas - a gloriosos empreendimentos turísticos).
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Mas a memória dos figueirinhas é selectiva e a Figueira da Foz de hoje vive, melancólica e docemente, da recordação exclusiva de um antanho de glamour tão ilusório quanto imaginado.
A verdade é que os figueirenses não são dados ao empreendedorismo. Salvo o hoteleiro. O turístico, claro. Como refere o filósofo e vereador local António Tavares, na sua obra “Arquétipos e Mitos da psicologia social figueirense”, “A Figueira da Foz está sempre à espera de algo que vem de fora”. Criar riqueza é uma coisa que não os assiste. Preferem servir os que têm alguma.
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Alugar-lhes quartos, por exemplo. O desenho reproduzido acima - de Cândido Costa Pinto, um figueirense - publicado no “Sempre Fixe” a 5/8/1937 (em plena guerra civil espanhola), de um humor negro talvez demasiado politicamente incorrecto para que hoje fosse sequer publicável, é um retrato impiedoso mas ainda fiel da mais perene mentalidade figueirinhas.
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