.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Luís Buñuel


.
Ontem vi a Deneuve. Nas notícias da TV. Estava a inaugurar uma exposição de fotografias de Luís Buñuel, no Casino do Estoril. Pobrezinha, já está longe da imagem de Tristana que fazia suspirar (ou salivar) e talvez sonhar Hitchcock. Foi então que me lembrei de Luís Buñuel. O tempo, esse não passa sobre os seus filmes, que continuam como sempre: inconformistas, imprevistos e corrosivos. Delirantes de humor, absurdo e inteligência “em torno de alguns motivos centrais - a crítica da religião e da hipocrisia burguesa, os paradoxos da sexualidade, a força do desejo, os automatismos mentais, que obedecem, ao mesmo tempo em que escapam, às determinações sociais e históricas.”
.
"quando o filme está curto, acrescento-lhe um sonho"
Vejam este filme. Aqui e agora.
Produzido em 1929, 'Un Chien Andalou' é considerado o filme emblemático do movimento surrealista, tornando-se uma marca registada na história do cinema. Baseado numa mescla de sonhos de Dali e de Buñuel, este conto de desejos reprimidos, abre inocentemente com as palavras 'Era uma vez', segue com a cena mais célebre e chocante do cinema - uma navalha que corta o olho de uma mulher em close-up/detalhe. Um filme desesperado, uma atracção apaixonada e assassina. “ao escrever o roteiro, os (então) amigos Buñuel e Dalí descartavam tudo aquilo que pudesse fazer sentido imediato. Nessa recusa do significado linear e fixo, pululam imagens inéditas e inesquecíveis - o olho cortado pela navalha, as formigas que saem das mãos, o burro morto sobre um piano de cauda, os esqueletos vestidos com trajes papais. E, claro, como era da própria intenção dos criadores, desse aparente nonsense brotavam significados aos borbotões - dependentes da imaginação de quem assistia ao filme.”
Este filme é um triunfo da arte, é um histérico e delirante passeio de uma alegria obscura, cujo poder de enfrentar o espectador não ficou diminuído depois de mais de três quartos de século. A arte na sua essência primitiva.
Se não gostarem à primeira, revejam outra vez. Primeiro estranha-se, depois…
Para visionar o filme, apaguem as luzes e acendam os charutos… e desliguem por favor, A Java des bombes atomiques. Serão apenas quinze minutos.

Un chien andalou - Luis Buñuel y Salvador Dalí

“É um grande cinema, anarquista e libertário, que continua atual e pulsante, mesmo em tempo tão conformista como o nosso.”
--------------------------------------------------------------------------------------
A caricatura, desenhei-a a partir desta foto, do também surrealista Man Ray, mais ou menos da época do seu primeiro filme - Le chien andalou.
.
.

Sem comentários: