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sábado, 18 de outubro de 2025

Retrato do salazarinho careca

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O ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho avisou esta quinta-feira, 16 de outubro, que, se tudo se mantiver como está na imigração, os portugueses se sentirão estrangeiros "na sua própria terra". Esta é uma notícia da Lusa/DN. Reparem no sibilino tom profético do aviso. Isto não é uma notícia. É um ditado. Uma declaração. Todo um programa.

O salazarinho careca foi lançar o livro “Introdução ao Liberalismo” do atroz Miguel Morgado e fez-se porta-voz de todo um sentimento cheio de brio patrióticó-nacionalista: o medo-do-escuro aos saltos. Ai meudeus qu'a santa pátria está em perigo, ai jesusmariajosé, qu'eles andem aí – disse ele, nas suas botas de elástico – e a agência Lusa proclamou.

É assim: os descendentes do nobre povo e da nação valente que por mares nunca dantes navegados foram à India, à Taprobana, à nascente do Amazonas, à Terra Nova, à Conchinchina, ao Japão, aos confins da África e à puta que os pariu sem que jamais alguém os tivesse lá chamado, estão agora muito perturbados com o refluxo da globalização – perdão, com o fenómeno da imigração.

O nobre povo que deu mundos ao mundo, sente-se de repente “estrangeiro na sua própria terra”. Está borrado de medo do regresso dos que não foram – e dos seus sinais entranhados na branquitude da nação valente.

O salazarinho escalvado vai fazendo o seu caminho de provedor deste pavor da cor morena, da vogal aberta, da áfrica preta, do samba do morro, da curcuma e do déndém, do lundum, do caril e da canela, do carnaval, do pau de cabinda e do islão, do sarapatel, da capoeira, do calúlú, do mingau e da chamuça, do candomblé, do cuscuz e do funáná, de Shiva, Vishnu e dos outros deuses todos do industão, da caipirinha, da capulana, do feijão congo e da farofa, da kizomba, da catxupa, do gindungo, da muamba, do mufete e do kuduru, do kebab, do quiabo e do churrasco à cafreal, eu sei lá.

Já se ouve a nação valente a marchar contra a burqa e os canhões, toda arrepiadinha e ululante como quando vai à bola; em fundo a bandeira da república esvoaçante com os seus simbolozinhos medievais. Ditosa pátria que tão valentes filhos da puta dá.

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