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sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

O caldo entornado – a nata e a escória


 

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A ideia de República é um conceito de cidadania – de relacionamento entre iguais - que nunca entrou verdadeiramente nos hábitos sociais dos portugueses. Trata-se de um elemento estranho, bizarro, excêntrico e extravagante, no corpus mental lusitanicus. A verdade é que o estado novo, o antigo regime, aquele Portugal velho e relho, paroquial e imemorial ressuma ainda, e ressuda, fedorento e exultante, na maneira como, na ditosa pátria, a nata da nata da sociedade se relaciona com a escória, e vice-versa.

O favor concedido, o jeitinho, o empurrãozinho, a recomendação - a cunha - são o modo natural de alguém exibir o poder mostrando-se influente, benevolente, generoso, magnânimo.

O pedido encarecido, o respeitinho, a subserviência, aquele gostinho de agradar (ou o pavor de parecer desagradável, demasiado orgulhoso, desmancha-prazeres, lunático ou, pior que tudo, comunista) são o modo, também natural, de a escória se mostrar muito prestável – de o “colaborador” colaborar alegremente – com o vago sentimento de que também participa.

O episódio torpe, patético, escabroso e repugnante das gémeas brasileiras do presidente da República e do seu imbecil filho doutor está aí para ilustrar este retrato do Portugal contemporâneo com cores psicadélicas.

A minha opinião a respeito da figurinha pícara do senhor presidente da república, editei-a aqui quando lhe fiz o retrato, em 2016, ainda antes da sua primeira eleição. Não vejo motivos para lhe alterar nem ponto nem virgula.

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1 comentário:

cid simoes disse...

É uma delícia reler o que escreveu em 2016.