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O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da
mídia
Millôr Fernandes
O Brasil já foi, aos
pés da Croácia. O virtuosismo deslumbrado, oxigenado e imbecil vencido
pela competência.
Portugal também. Também já
foi. Aos pés de Marrocos. A presunção e a fé-na-virgem-e-não-corras
(de uma geração de jogadores ungida de superlativos e adulada até à
idolatria por uma imprensa medíocre e laparota, fascinada por cotações de
mercado, milhões e contratações) vencidas pelo mérito, pelo esforço
e pelo talento.
Sem espinhas. E, como
sempre, sem honra nem glória nem dignidade: o capitão e ídolo da equipa, um
canastrão com 37 anos, sai do estádio lavado em lágrimas como um fedelho de cueiros
(para grande e emocional comoção de todos os adeptos, ou adictos,
toldados por um sentimentalismo patriótico, tóxico e imbecilizado pela
narrativa cínica dos media) enquanto o sub-capitão da equipa que passou
o jogo quase todo a atirar-se para o chão tentando cavar cartões aos
adversários e a almejada “grande penalidade” põe a merda toda no ventilador
insinuando culpas para a arbitragem.
Quem não sabe perder com
dignidade não sabe, nunca saberá, vencer com mérito. Faltar-lhe-á sempre
respeito sincero por si próprio, pelo adversário e pelo público; amor genuíno
pelo jogo; e igual desprezo pelo resultado.
1 comentário:
Um texto como só Fernando Campos sabe desenhar. E há também o desenho que só ele sabe fazer.
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