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Tenho vindo a tentar fazer,
entre outras - e tanto quanto mo permitem o tempo, a oportunidade e o talento –
uma alegre iconografia da classe dirigente, uma espécie de bestiário. No que diz respeito à Figueira da Foz reservei-lhe mesmo
um álbum à parte, o Álbum Figueirense.
O cromo de hoje é Carlos Monteiro, o mais discreto e low
profile dos servidores do presidente
Ataíde. Ex-emeérrepêpê, converteu-se cedo ao socialismo democrático e quiçá
também à cosa nostra local, a
inefável loja dos aventais onde terá também aprendido a discrição com que
desempenha as tarefas de que Ataíde o encarrega. Monteiro é um ex-professor de
Liceu licenciado em plítica plas freguesias – é ele que baralha e dá , sempre discreto, o jogo de pequenos e grandes
poderes e clientelas no concelho profundo. Conhece como poucos o que a casa gasta, nesse campo minado
que é esse pequeno mundo de obediências, de conchavos e de conveniências. Ele é
também o único vereador totalista dos
três mandatos de Ataíde (este foi-se desfazendo de todos os outros, mas guardou
sempre Monteiro): começou a vice-presidente, foi despromovido no segundo
mandato, mas perseverou (sempre discreto) e foi recompensado no terceiro. Hoje
é, de novo, vice-presidente do município, vereador de uma porção de coisas e
até do ambiente.
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A mais ilustrativa das suas performances, a que identifica melhor o
espírito da personagem é este episódio recente: no âmbito das actividades de entretenimento e animação com que a câmara tem por hábito derreter o orçamento anual
para deslumbrar o seu público alvo, os labregos, arresolveu-se (ou deliberou-se) proceder à instalação, à beira-rio,
de uma composição constituída por cubos de plástico com capacidade de mil
litros de água dotados de iluminação nocturna. A composição de cubos perfaz o
santo nome da cidade e o encanto e deslumbramento de todos os papalvos que “ah!”,
adoram o fogo fátuo do foguetório e os seus reflexos coloridos na água. O
busílis da coisa é que os inginhêros da
câmbra arresolveram atestar os depósitos
com água da companhia. Digam que lá que não é brilhante, num ano de seca
extrema, a performance artístico-turística
do nosso vereador do ambiente. Mas a boa, inacreditável, notícia é que é para apontar no gelo. A inefável Águas
da Figueira, que cobra aos munícipes as tarifas mais altas do país, não leva
nada ao município plo transvase. Só visto (aqui).
Carlos Monteiro é bem um ícone
da classe dirigente local. A classe dirigente autóctone está, diga-se, também
ela, à imagem da classe, por assim dizer, dirigida.
Ambas partilham valores como o
interesse imediato, a falta de cultura geral (e de ideias em geral), a estupidez
natural e, em simultâneo, um certo gosto pelo desvario, pela obra avulsa,
despropositada ou faraónica.
Referendados pelo eleitorado com maiorias absolutas sucessivamente reforçadas, Monteiro e Ataíde, ou Ataíde
e Monteiro, sentem-se cada vez mais à vontade para, como
eles dizem, implementarem de vez a sua visão
do mundo – uma mais que provinciana, paroquial e deslumbrada mediocridade.
Se Ataíde tomou o freio nos
dentes, Monteiro é o boleeiro da carroça. É como se estivessem, à solta, dentro de um
hospital.
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1 comentário:
O Rei dos Leittões, como leitão, tem medo dos comedores do Natal mas, ainda assim, passa por aqui para desejar ao Sítio que lhe façam Boas Festas.
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