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A
Figueira não tem Arte Nova nem ovos moles, como Aveiro; nem Arte
Urbana e o Grão Vasco como Viseu; Nem biblioteca joanina e Machado
de Castro, como Coimbra; nem castelos, como Montemor e Leiria; nem
Woolfest como a Covilhã; nem expofacic como Cantanhede; nem
palheiros como a Costa Nova; nem jardins como o do Paço
Episcopal de Castelo Branco, o Botânico de Coimbra ou o Budha
Eden do Bombarral; nem bicicletas como Águeda; nem vinhos como a
Beira Interior, a Bairrada e o Dão; nem cerejas como o Fundão; nem
queijo como a Serra de Estrela, nem chanfana e leitão como a
Bairrada.
A
bem dizer, a Figueira não tem porra nenhuma – não possui
património histórico ou artístico e não produz a ponta de um
chavelho - a não ser o areal mais comprido da Europa. Segundo o
circunspecto site do Turismo
Centro de Portugal,
não há nada que realmente interesse na Figueira da Foz.
Ou
seja, a Figueira da Foz é, e isto é mais ou menos pacífico, um
verdadeiro oásis na zona centro.
Igualmente
desprovida de cultura gastronómica (não tem sequer um prato típico
ou um doce característico) a Figueira tem, no entanto, Rosa Amélia.
Sim. A Figueira tem Rosa Amélia que, por sua vez, tem um
restaurante. O mundo inteiro e a própria Figueira sabem-no através
da televisão. Sim, porque Rosa Amélia é um fenómeno televisivo.
Não há porra de programa de TV que seja transmitido em directo
desta choldra que não se socorra (certamente aconselhado pela
entidade ligada ao turismo) da iniludível, incontornável e
inefável presença desta figura. Os clientes do mercado municipal
sabem que sempre que Rosa Amélia ocupa o seu posto na banca de
peixeira é porque as câmaras da televisão estão a chegar. Os
tele-espectadores de todo o país já todos conhecem da trás para a
frente a sua estória de vida, a estória da sua vida, o seu pregão,
o seu turbante, os seus aventais, o seu peixe, o seu marisco, o seu
sacrificado empreendedorismo, as suas chinelas, o seu restaurante. E agora até o seu hobby, o surf. Nem mais, que Rosa é uma peixeira surfistinha. Um verdadeiro ícone local.
Mas
a Figueira tem outras figuras que ganham vida diante de uma câmara
de tv. Igualmente icónicas, digo eu. O país inteiro e eu,
que no passado Sábado à tarde não mudei de canal logo depois do
sonolento Rússia-Nova Zelândia, assistimos inermes, em directo da
Figueira e entre dois números musicais pimba, à
habitual performance de Rosa Amélia anunciando o seu
restaurante - mas também, estarrecidos, à revelação de outra dessas
figurinhas; isto é, ao nascimento de mais uma estrela no firmamento
figueirinhas.
Outra
velha. Mais feérica, exuberante e insinuante ainda do que Rosa
Amélia, e igualmente assertiva a vender o peixe. De cabelo vermelho
e atitude encarniçada a condizer, Conceição Ruivo (é esta a sua
graça, registem) perseguia insistentemente a pobre
apresentadeira do canal 1 da RTP pela esplanada, ora mostrando-lhe as
maravilhas da sua arte (a senhora é artista): um incrível
bricabraque de coisas coladas numa tela e uma outra com azulejos
bordados e rendas pintadas (ou vice-versa, não percebi bem), ora
anunciando-lhe coisas de si própria - que preside à “maior
associação de artistas do país”, que vai fazer “uma bruta”
exposição pró ano no CAE e tal, e que patati e patatá vai
escrever um livro erótico e tudo.
A
Figueira não tem nada que realmente atraia o turismo ou a simples
curiosidade. Ninguém se desloca de propósito à Figueira para ver a
torre do Relógio ou o penico do Jordão, ou a rotunda do
farolito, ou qualquer uma das suas rutilantes urbazinações ou
das gandes supefíces licenciadas recentemente pla autarquia.
Mas tem figuras realmente bizarras. Podia montar um circo.
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3 comentários:
A continuar assim o Fernando Campos ainda nos aparece estrafegado por um peixe-espada ou atacado por um cardume de alforrecas.
Espero bem que não, caro Cid. Eu tomo as minhas cautelas...
Tenho que lhe agradecer. Estava mesmo a precisar de me rir com vontade, e foi isso que me aconteceu ao ler este seu texto. Ri-me a bom rir, como já não me acontecia há muitos dias. Foi bom, senti-me bem. Obrigada.
ifigueiredo
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