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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Estória sem exemplo


HISTÓRIA EXEMPLAR
 
Entrei.
- Tire o chapéu – disse o Senhor Director.
Tirei o chapéu.
- Sente-se – determinou o Senhor Director.
Sentei-me.
- O que deseja? – investigou o Senhor Director.
Levantei-me, pus o chapéu e dei duas latadas no Senhor Director.
Saí.
 Mário Henrique Leiria, Contos do gin-tonic
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O Banif foi vendado aos espanhóis do Santander. Como de costume, com enooormes “perdas para o contribuinte”.
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Até agora ainda ninguém foi preso. Nem o governador do Banco de Portugal, nem a ex-ministra Albuquerque, nem o ex-ministro Gaspar. Nem sequer o seu presidente do conselho de administração, Luís Amado.
A verdade é que esta gente não vai dentro. As suas reputações são inatacáveis, os seus percursos inquestionáveis, as suas posições inexpugnáveis.
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Amado é um vistoso economista e consultor de empresas que já foi auditor do Tribunal de Contas(!) e ministro dos Negócios Estrangeiros, e de Estado, e da Defesa e tudo. Já me debrucei sobre a sua figura aqui, a propósito da performance diplomática que fez nas Necessidades.
Amado é muito considerado. Amado é um servidor compulsivo e satisfeito (veja-se a lista, impressionante - que ele exibe com garbo, na sua ficha da wikipédia - de países a quem prestou e que lhe reconheceram serviços). Por isso o desenhei de libré.
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Além disto, Amado é adorado pela imprensa de referência. E tem tão boa imprensa que é chamado amiúde pelas televisões, rádios e jornais de negócios. Questionam-no muito respeitosamente e ouvem-no, muito sérios e circunspectos, discorrer melancólico sobre a temática da problemática, a crise económica, a dívida pública, o sistema bancário, as consolidações, as fusões, as estratégias, as oportunidades, a globalização enfim, até sobre o desígnio nacional e de como afinal, nisto como naquilo, é prudente ser prudente.
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E ninguém se ri. Tudo se passa como se Amado fosse mesmo alguém capaz, realmente decente, um sábio, um senador, um estadista.  

Não há ninguém que lhe dê duas latadas. 
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