O
apanhador de desperdícios
Uso
a palavra para compor meus silêncios.
Não
gosto das palavras
fatigadas
de informar.
Dou
mais respeito
às
que vivem de barriga no chão
tipo
água pedra sapo.
Entendo
bem o sotaque das águas
Dou
respeito às coisas desimportantes
e
aos seres desimportantes.
Prezo
insetos mais que aviões.
Prezo
a velocidade
das
tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho
em mim um atraso de nascença.
Eu
fui aparelhado
para
gostar de passarinhos.
Tenho
abundância de ser feliz por isso.
Meu
quintal é maior do que o mundo.
Sou
um apanhador de desperdícios:
Amo
os restos
como
as boas moscas.
Queria
que a minha voz tivesse um formato
de
canto.
Porque
eu não sou da informática:
eu
sou da invencionática.
Só
uso a palavra para compor meus silêncios.
.
3 comentários:
«Poesia é voar fora da asa.» Manoel de Barros. É o modo mais poético que encontrei para definir a poesia.
É a raiz do meu blogue «voar fora da asa».
:)
Gostei muito
NA MORTE DE MANOEL DE BARROS
dos que estavam
”atravancando o meu caminho”
nenhum teve asas
para me acompanhar
ao infinito
não me lamento
- nem um ai
nem um grito
sou um pé-de-vento
vou melhor
sózinho
agora já ninguém
nem nada
"atravanca o meu caminho"
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