João Lobo Antunes é um mui reputado sábio português
oriundo daquele meio social (a classe dirigente
portuguesa, sobre a qual já me pronunciei aqui) que presume grande prurido pelo brio da hereditariedade e igual
vaidade por antepassadas fidalguias.
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Cientista famoso e considerado, o seu verbete da wikipédia em inglês é mais loquaz do que o em
português - embora profusamente eloquente a respeito dos seus brios hereditários
e relações familiares é, ainda assim, curiosa e misteriosamente omisso e
enigmático quanto aos seus supostos méritos científicos ou académicos - a este
respeito diz apenas que “escreveu centenas de artigos científicos”, quatro
livros (nenhum sobre ciência) e que implantou um olho electrónico num gajo cego
(não diz se o pobre homem sobrevive e que caralho ele vê) e que o seu foco de
interesse científico é o hipotálamo e a hipófise. Que foi mandatário das
candidaturas de Jorge Sampaio e de Aníbal Cavaco Silva (curiosamente, não diz
nada sobre o que o douto neurologista Antunes acha do hipotálamo e da hipófise
deste). Ah, e que é, desde 2006, membro do Conselho
d’Estado.
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Assim, o lobo João Antunes é o segundo dos seis filhos do
cirurgião e professor João Alfredo de Figueiredo Lobo Antunes (que foi
colaborador de Egas Moniz) e de Margarida da Beira Cardoso de Melo Machado
(filha de Joaquim José Machado, 70º, 82º e 91º governador de Moçambique e 11º governador da Índia) – eis aqui o pedigri científicócolonial. O de fidalguia
vem já a seguir: o nosso lobo João é o bisneto orgulhoso de um filho ilegítimo
de Bernardo
António de Brito Antunes, primeiro visconde da Nazaré (personagem de
que não faço ideia quem tenha sido e de quem até a wikipédia desconhece os
feitos) o que explica que, em certos meios, a bastardia acentua o tom cerúleo do
sangue e a jactância nos pergaminhos. Contudo, também tem pedigri
intelectual: é irmão do genial cronista (e romancista assim-assim) António Lobo
Antunes, que também já retratei aqui.
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A cronologia dos acasalamentos deste lobo Antunes também é
elucidativa dos meios em que se move e da sua consaguinidade com a ciência, a fidalguia e a alta-finança.
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João Lobo Antunes tornou-se conhecido dos portugueses porque,
além de ser famoso e proeminente e conselheiro d’estado, cada vez que abre
a boca só diz merda (o que talvez explique o estado a que chegou o Estado que
ele aconselha).
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- Desta vez a anta cavaquista defendeu que não havia perseguição
intelectual antes do vintecincodAbril.
O que, de certo modo, é capaz de ser natural: os meios académicos que então frequentava (a juventude universitária
católica) e em cujas publicações colaborava até estavam isentos de passar
pla censura. Talvez tenha sido por isso que nunca ouviu falar de Abel Salazar. Ou
de Mário Silva. Ou de Bento de Jesus Caraça. Ou de Ruy Luís Gomes.
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Que filho da puta de conselheiro d’estado. Que filho da puta
de estado que tal conselheiro tem.
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1 comentário:
E se espetássemos com um carimbo da censura
nas trombas da criatura?
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