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A palavra “glória” perdeu a
honra, sendo agora difícil restituir-lha. A sua ligação demasiado íntima com a
grandeza militar estragou-a; tem sido confundida com fama e ambição. Contudo, a
verdadeira glória é uma virtude interior e discreta, que só se consegue
realmente descobrir na solidão
Herbert Read
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Quando a realidade, com
tudo o que importa de estupidez e vacuidade ou aparente ausência de sentido, me
acabrunha demasiado, faço como Graham Greene. Tento evadir-me. Uma das maneiras
de o fazer é através dos seus livros. A leitura é uma das melhores e mais
baratas formas de evasão.
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Evadir-me com esse inglês invulgar
é sempre uma bela (exaltante e desconcertante) aventura. É a ele que tenho
recorrido inúmeras vezes ao longo da minha vida - “Vejo agora que tanto as minhas viagens como o próprio acto de escrever
têm sido maneiras de me evadir... Escrever é uma forma de terapia. Por vezes
pergunto a mim próprio como é que aqueles que não escrevem, compõem ou pintam,
conseguem fugir à loucura, à melancolia e ao medo inerentes ao género humano”.
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Na releitura do seu belo
livro de memórias, “Caminhos de evasão”,
deparei-me com uma referência ao seu amigo Herbert Read - “uma
amizade pode ser um dos acontecimentos mais importantes da vida de uma pessoa e,
tal como escrever ou viajar, pode também servir de evasão à rotina diária, à
sensação de fracasso e ao receio do futuro”.
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Herbert Read, foi um
intelectual de esquerda, poeta
anarquista, crítico literário e de arte e pensador revolucionário que apregoava
a educação pela arte, e pela paz. “Ganhou uma Cruz de Guerra e uma Medalha de Serviços
Distintos devido à sua luta na Frente Ocidental – mas quando partiu para aquele
palco de morte e desolação, levou consigo a antologia de Robert Bridge, The Spirit of man, a República, de Platão e Don
Quixote.” O seu único romance, “The Green Child”, era, para Greene,
“um dos maiores poemas deste século”; o seu “English Prose Style”, “obra de leitura obrigatória para quem
quisesse ser escritor” ; o seu “Wordsworth” - “jamais alguém escrevera acerca de Wordsworth de uma maneira tão
reveladora, ou melhor, tão auto-reveladora” – e o seu “The innocent Eye”, “uma das melhores autobiografias de língua
inglesa”.
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Quando o jovem Greene,
romancista fracassado, recebe de Read um convite para jantar: “Só cá estára o Eliot (T. S. Eliot), mais ninguém, e vai ser muito
informal” - para ele, “essa situação poder-se-ia comparar a receber
uma carta de Coleridge, na qual ele dissesse : “Só cá estará o Wordsworth, mais
ninguém”.
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É uma lástima que intelectuais
como Herbert Read estejam hoje, helas,
demasiado esquecidos. Sobretudo quando o conceito de “glória” está cada vez
mais associado à prática analfabeta do chuto na bola, o de “prestígio” ao
triunfo torpe do dinheiro e se alimentam, em jornais de referência, grandes expectactivas quanto à saída dos “intelectuais”
“de direita” do armário.
Mas a verdade é que há
palavras que, além de perderem a”honra”, também perderam o sentido. Como a palavra “intelectual”. Ou a palavra "honra", por exemplo.
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