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segunda-feira, 7 de abril de 2014

A cavaca

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Maria Cavaco Silva, a quem o Diário de Notícias - na sua secção “Pessoas” - chama, sem aspas, “a primeira dama”, foi inaugurar a Feira de Arte e Antiguidades, na Cordoaria Nacional.
A legítima do Cavaco visitou prolongadamente a exposição e, no fim, confessou-se uma apaixonada da arte desde criança.
E mais, reconheceu que "o país está a valorizá-la cada vez mais" e que "a geração jovem está a ter um papel essencial nisso". Este tipo de iniciativas, frisou ainda, "é muito importante para chamar as pessoas para a cultura".
O diário de notícias titulou assim a notícia: Primeira dama quer “chamar as pessoas para a cultura”.
Digam lá que não é lindo.
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Eu também acho que o país valoriza imenso a arte, e a cultura, e isso. E é tal a demanda que, nem sei como, ninguém se lembrou ainda (uma pecha no nacional-empreendorismo) de criar sei lá uma rede de lojas tipo pingo-doce, assim a modos que também a preços baixos, mas só de arte & antiguidades. Aqui fica a ideia. É grátis.
Em todo caso, quem assim tem uma primeira-dama e um diário de notícias para que precisa de um ministério da cultura? Sim, para quê?
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A verdade é que tudo isto me parece o enredo de um daqueles filmes da época de ouro do desenho animado americano. Só que em perverso e pavoroso. Este filme nunca mais acaba; o non-sense é cada vez mais óbvio; tem cada vez menos piada; o ridículo adoptou o tom venéreo da normalidade - o que faz com que o absurdo da coisa tenha cada vez mais um único sentido, sem regresso: o do pesadelo. Acordem o Tex Avery. Ou o Chuck Jones. Ou o Fritz Freleng. Ou as forças armadas. O Salgueiro Maia. Alguém. Mas tirem-me deste filme.
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