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Não se retém quase nada sem o auxílio das palavras,
e as palavras quase nunca bastam para transmitir precisamente o que se sente
Denis Diderot, in "Pensées Détachées sur
la Peinture"
O
cardeal Manuel Clemente acha que os ”direitos
das minorias são referendáveis, sim senhor”. Ou seja, se bem compreendi, a
alma tísica e indecorosa deste hugo
soares de saiote pensa(!) que os direitos humanos devem depender dos
humores de uma maioria circunstancial de cretinos.
Devo
dizer que não acredito na existência de deus, embora aceite pacificamente (sou
um espírito tolerante) que a alma humana recorra à fantasia como refúgio
existencial para o pavor da vida e da morte. Compreendo - sou um livre-pensador
- embora ache absurdo.
O
que eu não entendo - porque acho estúpido - é para que precisa a alma humana de
intermediários nessa equívoca relação com um produto da sua imaginação.
Ou
seja, não consigo entender para que servem os padres (e os diáconos e os
presbíteros e os cónegos e os bispos e os cardeais e o papa), enfim o clero, essa
fauna de velhacos que fazem da hipocrisia e do cinismo um modo de vida e da Igreja
uma organização política intemporal que, sempre em nome de deus e sempre
tirando santos dividendos, abençoou o
tráfico intercontinental de escravos, o extermínio dos judeus, a perseguição ao
livre pensamento, ao conhecimento científico e a todas as formas de emancipação
(social, racial, sexual). E ainda hoje continua a patrocinar a superstição, a
culpa, o conformismo, a resignação e o atraso de vida – policiando as
consciências e os costumes enquanto enraba rapazinhos e vai sacando dividendos
da lavagem de dinheiro e da especulação financeira.
Na
sua obra Extrait des sentiments de Jean Meslier, este padre cura da comuna francesa
de Étrépigny deixou escrito que "O homem só será livre quando o último rei for
enforcado nas tripas do último padre", frase que foi citada deste modo lânguido por Diderot, no seu
poema Les Éleuthéromanes: "Et ses mains ourdiraient les
entrailles du prêtre / Au défaut d'un cordon pour étrangler les rois”.
Todavia,
devido à incompetência de todas as revoluções políticas posteriores (da
francesa à russa passando pla da república
portuguesa), esta excrescência rançosa e medieval conseguiu chegar aos
nossos dias. E está no meio de nós - imbecis como o cardeal Clemente, espécie
de cerejeira de opereta (passe a
redundância) ainda andam por aí – a assombrar as consciências e os petizes.
Por
isso prescrevi a mim próprio uma doce penitência: hei-de achincalhá-los até à
morte.
Bem
sei que as palavras “quase nunca bastam”.
É por isso que também faço desenhos.
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2 comentários:
E todo o achincalhe é pouco!
Uma delícia.
Quero esfregá-lo no focinho de uns quantos imbecis.
Abraço,
mário
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