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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Sem clemência

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Não se retém quase nada sem o auxílio das palavras, 
e as palavras quase nunca bastam para transmitir precisamente o que se sente
Denis Diderot, in "Pensées Détachées sur la Peinture"

O cardeal Manuel Clemente acha que os ”direitos das minorias são referendáveis, sim senhor”. Ou seja, se bem compreendi, a alma tísica e indecorosa deste hugo soares de saiote pensa(!) que os direitos humanos devem depender dos humores de uma maioria circunstancial de cretinos.

Devo dizer que não acredito na existência de deus, embora aceite pacificamente (sou um espírito tolerante) que a alma humana recorra à fantasia como refúgio existencial para o pavor da vida e da morte. Compreendo - sou um livre-pensador - embora ache absurdo.
O que eu não entendo - porque acho estúpido - é para que precisa a alma humana de intermediários nessa equívoca relação com um produto da sua imaginação.

Ou seja, não consigo entender para que servem os padres (e os diáconos e os presbíteros e os cónegos e os bispos e os cardeais e o papa), enfim o clero, essa fauna de velhacos que fazem da hipocrisia e do cinismo um modo de vida e da Igreja uma organização política intemporal que, sempre em nome de deus e sempre tirando santos dividendos, abençoou o tráfico intercontinental de escravos, o extermínio dos judeus, a perseguição ao livre pensamento, ao conhecimento científico e a todas as formas de emancipação (social, racial, sexual). E ainda hoje continua a patrocinar a superstição, a culpa, o conformismo, a resignação e o atraso de vida – policiando as consciências e os costumes enquanto enraba rapazinhos e vai sacando dividendos da lavagem de dinheiro e da especulação financeira.

Na sua obra Extrait des sentiments de Jean Meslier, este padre cura da comuna francesa de Étrépigny deixou escrito que "O homem só será livre quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre", frase que foi citada deste modo lânguido por Diderot, no seu poema Les Éleuthéromanes: "Et ses mains ourdiraient les entrailles du prêtre / Au défaut d'un cordon pour étrangler les rois”.

Todavia, devido à incompetência de todas as revoluções políticas posteriores (da francesa à russa passando pla da república portuguesa), esta excrescência rançosa e medieval conseguiu chegar aos nossos dias. E está no meio de nós - imbecis como o cardeal Clemente, espécie de cerejeira de opereta (passe a redundância) ainda andam por aí – a assombrar as consciências e os petizes.

Por isso prescrevi a mim próprio uma doce penitência: hei-de achincalhá-los até à morte.

Bem sei que as palavras “quase nunca bastam”. É por isso que também faço desenhos.
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2 comentários:

cid simoes disse...

E todo o achincalhe é pouco!

trepadeira disse...

Uma delícia.
Quero esfregá-lo no focinho de uns quantos imbecis.

Abraço,

mário