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Maria João Avillez
(assim mesmo, com dois lês) é oriunda
daquele meio mui selecto onde abundam os apelidos de consoantes dobradas e proliferam
as cucas, as pimpinhas, as tétés, as lilis
e as cócós que habitualmente partilham
a sua intimidade com a revista “Caras”.
Esta gente integra uma classe social favorecida pela sorte
nos negócios e nos acasalamentos (perpetua-se por endogamia) e pela proximidade
do poder. Também presume grande prurido pelos pergaminhos de uma suposta e antepassada
fidalguia.
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Maria
joão Avillez, por exemplo, é filha do ”914º
Sócio do Clube Tauromáquico”
(que por sua vez era bisneto do 8.º conde
de Galveias e trineto do 1.º Visconde do Reguengo e 1º Conde de Avilez) e –
as merdas que se aprendem na wikipédia - acasalou com Francisco van Zeller (reparem nos lês dobrados), “923º sócio do Clube Tauromáquico”, capitão
da indústria e dos negócios que já foi presidente da CIP e ganhou a grã-cruz da
ordem do mérito empresarial e tudo e, por sua vez é “descendente de sexta geração de um comerciante neerlandês que casou em
Portugal no Século XVIII com
Anna Franzisca Herkel, de nacionalidade alemã”. Foi este vão-zeler que, depois de se bater como
um leão contra o aumento do salário mínimo, acabou por confessar que não se
imaginava a viver com 450 euros por mês.
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Maria João Avillez é, dizem no seu meio, uma referência do jornalismo político português. Ela escreve as suas referenciais análises políticas e as
suas entrevistas fracturantes no semanário Expresso que, tal como a revista
“Caras”, pertence ao império editorial do dr. Balsemão, um elemento destacado
da sua classe (sobre quem também já me debrucei aqui).
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Maria João acaba agora de verter uma série de
entrevistas a Vítor Gaspar para um calhamaço de quatrocentas páginas. A coisa tem um posfácio de Oliveira Martins, foi anunciada com grande pompa e apresentada na
circunstância por António Vitorino.
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No lançamento (um verdadeiro happening) estavam lá todos, os amigos, em família, como no jantar do filme de Luís Buñuel. E tal como no
filme do imortal aragonês, também houve uma espécie de inconseguimento enfim, um happening frustracional – ou seja, não houve facto político - não aconteceu
nada.
A não ser a exibição pública da consuetudinária velhacaria fratricida e do
habitual cinismo amigavelmente assassino. O que, nesta classe, e entre esta
gente, é demonstração da mais absoluta e banal normalidade.
Não é bonito de se ver. Nem edificante. Mas é sempre divertido.
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5 comentários:
Hoje o teu texto assume a mestria do teu traço
igualam-se
Oh Rogério... esse 'hoje' está a mais. Se me convidares para um duelo não apareço.
Muito bom ! Parabéns
Na «mouche»! Análise muito bem amanhada!...
Grata por me ter encaminhado até este texto.
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