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O vereador (e vice-presidente do município) António
Tavares está de regresso aos jornais. Logo na sua primeira crónica semanal, no
“jornal” As Beiras, resolveu investir
(como S. Tiago aos mouros) contra a internet e as redes sociais. Segundo o novel
colunista de tão reputada folha de couve, a opinião,
veículada nestes novos suportes, “banaliza-se”, torna-se “oca, superficial, efémera e
líquida” e “serve de muito pouco, sobretudo
quando destila ódios pessoais e assenta na falta de estudo e informação ou na
deturpação maliciosa dos factos”. E remata: “este “paleio” produz muito ruído
e encrespa a espuma dos dias”.
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Napoleão Bonaparte dizia que nunca se deve interromper um
inimigo quando ele está a cometer um erro. A verdade porém é que não considero
o vice-presidente um inimigo; nem me considero aliás visado pela artilharia
vaga deste colunista das beiras (tenho quase a certeza que ele, na sua douta ignorância, nem sequer sabe que
este blogue existe, nunca cá veio, nem conhece ninguém que o tenha feito) e enfim, não sou nenhum napoleão; não cultivo aquilo a que o imperador dos franceses
chamava “inimigos” - não que não os tenha, mas a mim (não sei porquê, embora imagine)
eles não se me declaram.
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Posto isto, permito-me considerar que António Tavares comete
um erro e, já agora, que também ele não é nenhum Bonaparte – quero dizer, ele
já é pro-cônsul da Figueira e pode
ser que chegue a cônsul e até, depois,
a imperador, mas nunca será um grande
estratega – essa é que é essa.
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Senão vejamos: Napoleão explicou assim a sua estratégia
militar: “... Quando, com forças inferiores, enfrentava um grande exército,
concentrava rapidamente todas as minhas forças e precipitava-me como um raio
sobre uma das alas inimigas e esmagava-a. Depois, aproveitava a desordem que
esta manobra não deixava de produzir no exército inimigo e atacava-o noutro
ponto, sempre com todas as minhas forças. Batia-o assim em detalhe e a vitória,
que era o resultado final, constituía sempre, vêde, o triunfo do grande número
sobre o mais pequeno”.
E não é isto que Tavares faz. Ameaçado por uma
opinião que “destila ódios pessoais e assenta na falta de estudo e informação ou na
deturpação maliciosa dos factos” ele não se comporta como o grande general
(esmagando o inimigo plas alas, em detalhe) mas sim como um soldado
histérico que, cercado na sua trincheira, reage como uma barata tonta: dispara
a eito sem sequer visar.
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O que me causa contudo alguma perplexidade não é tanto a atitude de barata-tonta, é a sua estratégia
de “virgem-puta”: ao lançar um anátema sobre quejandos, isto é sobre todo-mundo e ninguém, Tavares parece esquecer-se, convenientemente, dos seus
tempos de jornalista (e de tempos mais recentes, já depois do advento da
internet, em blogues anónimos) em que usava sem parcimónia do pseudónimo para,
em prosa sátira e jocosa, também ele produzir “paleio” que fazia muito ruído e encrespava maliciosamente a
espuma dos dias. Um género
jornalístico cujo estilo aliás, embora
acanalhado (consiste em atirar a pedra e esconder a mão) é muito apreciado
pelos figueirinhas, desde “o Palhinhas”.
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“Tenho mais medo de
três jornais do que de cem baionetas”, dizia também Napoleão Bonaparte. É natural
temer-se o que não se controla. A verdade é que as gazetas do seu tempo não
dependiam de publicidade ou de boas
vontades institucionais como os jornais de agora - talvez por isso hoje António
Tavares, pro-cônsul de uma autarquia
com maioria absoluta, que despacha à porta fechada e traz os seus autarcas pla
rédea curta (não têm autonomia nem para mudar um sinal de trânsito) não tem medo
nem de cem jornais – são baionetas de papel. Tavares poderia até sentar-se neles, aliás é o que faz - a opinião neles publicada não torce, nem amola, nem belisca. O exemplo
vivo desta asserção é a sua segunda crónica, uma coisinha redundante e ôca, redigida
num economês superficial, efémero e líquido que serve de muito pouco salvo
para provar isso mesmo.
O que me parece que ele teme (e é natural, tal como em Napoleão) é o que não controla. E isso agora está
nos novos suportes das tecnologias da informação: a expressão livre da opinião.
Ao alto, Napoleão –a partir do notável Napoléon abdiquant à Fontainebleau de
Paul Delaroche, com a devida vénia.
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