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Um dirigente nato é
um indivíduo que,
numa conjuntura difícil ou inesperada,
invoca aos berros o
auxílio de outrem
Rex
Stout, in A
caixa vermelha
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Desde há algum tempo que me propus ir fazendo uma, tanto
quanto possível alegre, iconografia da classe dirigente lusitana.
Dentro das minhas limitadas possibilidades tenho vindo a desenhar
retratos em forma de caricatura (esta é uma espécie de retrato resumido ou sintético,
portanto parcial, opinativo) de
alguns indivíduos que de certo modo representam essa classe de pessoas que, “numa conjuntura difícil ou inesperada,
invocam aos berros o auxílio de outrem”.
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Estes meus retratos padecem no entanto de uma latente ambiguidade
que lhes retira, reconheço, alguma capacidade de agradar, de se tornarem
populares, virais quiçá; como já referi
aqui, “se repararem bem (de mais
perto), o rosto da classe dirigente
portuguesa é, sem tirar nem pôr, o reflexo invertido (na vertical) da classe
portuguesa dirigida. Vejam bem. A
cara de um é o focinho do outro. E vice-versa.” A
verdade é que acho bastante inverosímil que um povo que se deixa representar ou
dirigir por vermes ou por cretinos não nutra uma natural condescendência pela
estupidez e uma assinalável imunidade à repugnância.
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O “contemplado” de hoje não é apenas um “rosto”. É um
cérebro. Um crânio (o homem é só cabeça, vi-me fodido para lhe captar os
traços - andei três dias a fazer este desenho). Um ideólogo. Um filósofo. Vítor Bento é um especialista em finanças doutorado em filosofia. Não se trata
portanto de um “dirigente” qualquer.
Há tempos o Banco de Portugal promoveu-o mesmo sem ele lá
trabalhar havia oito anos. Não é para qualquer um. O homem tem sei lá, convenhamos,
um jenesécoá. E é conselheiro de estado.
Do estado a que isto chegou. Mas não é um conselheiro qualquer. Ele é o
conselheiro suplente do desinfeliz Dias Loureiro e - tal como o titular, também foi
escolhido a dedo pelo “pguesidente da
república” para, digamos assim, o aconselhar.
Vítor Bento é o género de dirigente nato que, na conjuntura difícil que o país atravessa, invoca
o auxílio de outrem - invariavelmente da classe dirigida, pois então. Ele acha que os
portugueses mais pobres devem trabalhar mais. E receber menos. E pagar mais
impostos. E ter menos direitos sociais. Para, “num esforço nacional
ultrapassarmos juntos este momento difícil”. Por isso aconselhou o pguesidente a promulgar dois orçamentos
gerais do estado inconstitucionais, a abençoar a privataria em curso por terra,
mar e ar e a apoiar, a pés juntos e mãos ambas, a governança da firma Passos &
Portas, SA. E mais, ele diz que não existe alternativa
credível pois ele acha (tiens, eu
também) que mesmo que o partido sucialista
fosse eleito, governaria mais ou menos tal e qual. Porque assim o exigem os
deuses, perdão, os mercados.
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Ainda estou para saber porque raio é que tão douto conselheiro não propôs já, em sede de conselho de estado já agora, que eles (os
partidos do arco da governação) se
reunissem num só partido a que pudessem até, porque não, chamar ÚNICO; e usar como
símbolo, sei lá, uma couve. De bruxelas. Ou uma salsicha. Alemã claro, uma bratwurst. Ou então ambas, uma couve e uma
salsicha. Parece que já o estou a ver - o partido da couve e da salsicha. A cor
podia ser um cor-de-rosa alaranjado. Às bolinhas amarelas.
Em todo o caso, aqui fica a ideia. É grátis.
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Ora, não tem nada que agradecer. Não me peçam é que também
conceba o logótipo. Isso são outros quinhentos.
É que, ao contrário da maioria dos portugueses, há coisas
que não tolero. Invariavelmente são as que me repugnam.
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1 comentário:
Valeu o trabalho. O verme está bem retratado.
O texto é perfeito no enquadramento que faz do crânio, até consigo ver a caveira em raios X. Engoli em sêco e veio-me um picozinho à garganta não sei se é da peçonha do bicho ou se foi de achar o texto reimoso, enfim mesmo que não me sirva a carapuça não deixo de lhe experimentar a medida.
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