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em todos os rios há um sítio que foi feito para uma ponte.
É
preciso é encontrá-lo
Edgar Cardoso
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Confesso que há cada vez menos pessoas que me suscitem
algo como a admiração. Estou a ficar cada vez mais velho e céptico; talvez
esteja a ficar cada vez mais cínico.
O prof. Edgar Cardoso é, no entanto, uma delas.
Comemora-se
este ano o centenário do seu nascimento (1913).
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O “sr. Ponte” foi (faleceu em
2000) um engenheiro que, entre outras coisas, concebeu pontes um pouco por todo
o mundo, sobretudo na segunda parte do século vinte. Trata-se de alguém
verdadeiramente excepcional. Para ele,
um engenheiro era alguém com “engenho”. Mas ele não era um engenheiro qualquer.
Num país de analfabetos e doutorzinhos engravatados, em que o grau académico é
ostentado como título de nobreza, ele era um homem com engenho que inventava coisas. Gostava de pensar alto e ousado e
de trabalhar com as mãos - fabricava ele próprio modelos reduzidos das suas
pontes, que sujeitáva a testes de resistência - achou a forma definitiva dos
pilares da ponte de S. João esculpindo uma cenoura.
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Embora a sua “melhor e mais bela obra” fosse, confessadamente, a ponte sobre o rio que passa na sua aldeia (o Douro, em Mosteirô),
Edgar Cardoso é o autor de muitas mais, belas pontes - como a da Figueira daFoz; a de Stª Clara, em Coimbra; a da Arrábida e a de S.João, no Porto; a de Macau-Taipa etc., etc..
Ele pensava que o facto
de uma ponte ser uma grande obra de engenharia não implicava que fosse um emplastro
na paisagem. E era aqui que entrava o seu engenho (e arte).
Não conheço paisagem
que não tenha ficado beneficiada com uma ponte de Edgar Cardoso.
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Todos, de uma forma ou de outra, acabamos por fazer algo de útil. Mas são poucos, raros, os que, como Edgar Cardoso, lhe acrescentam algo de belo, que perdura e se apropria dos lugares e da imaginação dos outros.
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