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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O prof. Edgar Cardoso


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em todos os rios há um sítio que foi feito para uma ponte.
É preciso é encontrá-lo
 Edgar Cardoso
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Confesso que há cada vez menos pessoas que me suscitem algo como a admiração. Estou a ficar cada vez mais velho e céptico; talvez esteja a ficar cada vez mais cínico.
O prof. Edgar Cardoso é, no entanto, uma delas. 
Comemora-se este ano o centenário do seu nascimento (1913). 
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O “sr. Ponte” foi (faleceu em 2000) um engenheiro que, entre outras coisas, concebeu pontes um pouco por todo o mundo, sobretudo na segunda parte do século vinte. Trata-se de alguém verdadeiramente excepcional.  Para ele, um engenheiro era alguém com “engenho”. Mas ele não era um engenheiro qualquer. Num país de analfabetos e doutorzinhos engravatados, em que o grau académico é ostentado como título de nobreza, ele era um homem com engenho que inventava coisas. Gostava de pensar alto e ousado e de trabalhar com as mãos - fabricava ele próprio modelos reduzidos das suas pontes, que sujeitáva a testes de resistência - achou a forma definitiva dos pilares da ponte de S. João esculpindo uma cenoura.
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Embora a sua “melhor e mais bela obra” fosse, confessadamente, a ponte sobre o rio que passa na sua aldeia (o Douro, em Mosteirô), Edgar Cardoso é o autor de muitas mais, belas pontes - como a da Figueira daFoz; a de Stª Clara, em Coimbra; a da Arrábida e a de S.João, no Porto; a de Macau-Taipa etc., etc..
Ele pensava que o facto de uma ponte ser uma grande obra de engenharia não implicava que fosse um emplastro na paisagem. E era aqui que entrava o seu engenho (e arte).
Não conheço paisagem que não tenha ficado beneficiada com uma ponte de Edgar Cardoso.
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Todos, de uma forma ou de outra, acabamos por fazer algo de útil. Mas são poucos, raros, os que, como Edgar Cardoso, lhe acrescentam algo de belo, que perdura e se apropria dos lugares e da imaginação dos outros.
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