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O sintoma funesto das nações perdidas
é a indiferença pública, o egoísmo vilão e cobarde
destes lazaroni que catam os piolhos ao sol
do terreiro do Paço e erguem a cabeça
para saudar os ministros que entram
Camilo Castelo Branco
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Fiquei a saber recentemente que, em 1999, a Figueira
correu o risco de perder um dos seus ex-libris. A sério.
Em 1999, a câmara
municipal, ao tempo presidida por Santana Lopes, acolitado pelo então vereador Miguel Almeida (agora candidato a presidente plo Somos Figueira) aprovou, por unanimidade julgo (isto é, com a
anuência, decerto entusiasmada, dos vereadores sucialistas, então na oposição),
um projecto da Sociedade Figueira-Praia que visava a demolição da piscina-praia
e a edificação, no seu lugar, de um hotel que arranharia os céus, em forma de
cubo e com uma piscina no seu interior, para uso exclusivo dos seus clientes.
Tal atentado à lesa-majestade do património construído
figueirinhas só foi impedido graças a um grupo de figueirenses, “daqueles que
amam mesmo a Figueira”, que fizeram um abaixoassinado
e o enviaram ao IPPAR, assim conseguindo a classificação da bendita piscina e
da sua prancha de saltos.
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Bom, passados alguns anos (14), a Figueira não só não perdeu
um dos seus ex-libris como o adquiriu para património. É verdade. Santana & Miguel Almeida, não só não permitiram que se demolisse a santa piscina
dos figueirinhas como a adquiriram para o município, num negócio-dachina para
a Sociedade Figueira-Praia (em cujo contrato esta consagrou ad eternum o usufruto gratuito da
piscina pelos seus clientes sem gastar um tusto na sua manutenção).
Ora digam
lá se a Figueira (Praia) não tem
amigos. Tem pois. E daqueles que a amam mesmo.
É por isso que o Amorim das cortiças está cada vez mais podre de rico e o
município cada vez mais endividado de podre.
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Mas o que é um facto é que a piscina-praia ainda lá está. Embora já sem a prancha de saltos que, se me acompanharam, tinha sido classificada plo IPPAR. Mas não importa,
como diz o povo, vaiamse os dedos, ficamsenosios
aneis, ólá o quié.
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Curiosamente, não me lembro de ver alguma acção tão
enfática dos “verdadeiros amigos da Figueira” quando a mesma Sociedade Figueira-Praia, num alvar
negócio imobiliário, vendeu às parcelas o seu parque Sottomayor e um empreendedor empreiteiro aí aterrou o fortim de palheiros no meio de mais uma rutilante
urbazinação.
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Também não me alembro
de nenhum baixassinado ao IPPAR a propósito da infame reconstrução do Paço de Tavarede que, patrocinada pla câmara
municipal, está para o restauro de monumentos mais ou menos como as mézõns dos emigrantes para a
arquitectura. Uma espécie de quinta essência da boçalidade.
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Tampouco me recordo de nenhum apelo ao IPPAR, ou IGESPAR
(ou a outro putativo defensor do bom gosto e do bom senso) a propósito do que a
mesma câmara municipal alarvemente perpetrou - após o último incêndio da Serra
da Boa-Viagem - no único projecto do arquitecto Raul Lino construído no
concelho da Figueira, o Abrigo da Montanha.
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Nem em defesa do Paço de Maiorca, outro ex-libris da
Figueira, que a câmara municipal adquiriu por uma pipa de massa aos herdeiros
da família possidente e depois ofereceu de mão beijada, num negócio taralhouco,
ao sórdido Júdice que se lambuzou nele até às
lágrimas - este caso, como já referi aqui, podia constar de um compêndio ilustrado
sobre a lei económica dos vasos comunicantes,
que é aquela que explica como se acumulam fortunas particulares na exacta
proporção em que se endividam as autarquias e se vai depauperando o erário
público.
E, assim de repente, também não me ocorre nenhum
manifesto que esses figueirenses que “amam mesmo a figueira” tivessem alguma
vez feito - repugnados, indignados ou sequer perplexos - por um mui selecto e
privado club de tennis ter anexado,
há quase um século, um imóvel de
interesse público como o Forte de stª Catarina.
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Assim como também não me lembro que se tivessem
manifestado sobre a recente “requalificação”
da zona envolvente do mesmo forte. Requalificação
que não só se “esqueceu” da competente ordem de despejo ao inefável club de tennis como do monumento propriamente
dito (que pretendia valorizar, creio) e ainda lhe escalavrou, a nascente, uma
horrenda escadaria em betão armado e aço inox e, a poente, um tanque onde, de
manhã, chapinham as gaivotas e, pla tardinha, os figueirenses mais pacóvios vão
dar banho às almas e aos cães.
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Registe-se aliás que estes – com a sua natural tendência para a abjecção alarve - depressa ali descobriram uma nova praia do cagalhão - ainda antes da conclusão da requalificação da outra, integrada nas obras da zona ribeirinha.
Registe-se aliás que estes – com a sua natural tendência para a abjecção alarve - depressa ali descobriram uma nova praia do cagalhão - ainda antes da conclusão da requalificação da outra, integrada nas obras da zona ribeirinha.
Sim, porque os outros, os que “amam mesmo a Figueira”,
esses, como é óbvio também devem estar a banhos - mas no Ólgarve.
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Ao alto, o Paço de Maiorca, visto do terreiro
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Post-scriptum - Entendi por bem acrescentar o morceau em epígrafe (que achei na correspondência de Camilo ao visconde de Ouguela, que ando a ler) porque penso que lhe fica a matar. Ou se preferirem, "como uma cerveja no tópingue".
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Post-scriptum - Entendi por bem acrescentar o morceau em epígrafe (que achei na correspondência de Camilo ao visconde de Ouguela, que ando a ler) porque penso que lhe fica a matar. Ou se preferirem, "como uma cerveja no tópingue".
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