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terça-feira, 27 de agosto de 2013

O “talent de bien faire”

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Ah, a Marinha portuguesa. Tanto haveria a dizer sobre a armada lusitana. E dos seus “nove séculos de história”.
Além de ter dado ao país um inesquecível presidente da república tem, entre os seus “heróis”, um rei (que se deixou assassinar - magnificamente, a tiro de clavina - enquanto se passeava de charrete no Terreiro do Paço); isto para lá, evidentemente, de um número imarscecível de fidalgos - condes e marqueses, da alta e da baixa nobreza - entre os quais um tal de Ferreira do Amaral, avoengo do actual ci-ai-ou da Lusoponte (este deixou-se também massacrar gloriosamente mas “a cutiladas”, pelos chinocas, enquanto passeava a cavalo).
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Enfim, é uma história trágicómarítima. Mas que deixou profundas e indeléveis marcas no actual carácter cordato dos portugueses e até no seu modo de falar – a expressão “ir para o caralho” por exemplo, tem origem em certas regras disciplinadoras da rapaziada a bordo (quem ia “para o caralho” nunca mais lá queria voltar - não era propriamente como passar em Alcobaça). Assim, o facto de os portugueses hodiernos permitirem que se lhes faça tudo sem tugirem nem mugirem, tem razões profundamente navais – eles nutrem um verdadeiro - entranhado, atávico e genuinamente sincero - pavor de ir para o caralho.
Contudo, a glória da armada portuguesa não se reduz aos seus métodos pedagógicos dissuasores, civilizadores, ou pacificadores. A sua história também é uma história de inovação tecnológica; como por exemplo a invenção, um tanto precoce, cem anos antes da descoberta oficial (era um conceito gurmê na época – envolvia seda natural), do “cartucho”.
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Mas não vou por aí. O que concitou a minha atenção foram os seus feitos mais recentes. Sim, porque a marinha portuguesa está sempre a fazer coisas - tem aliás como lema “talent de bien faire” – vontade de bem fazer, a divisa do infante D. Henrique.
A Marinha portuguesa condecorou recentemente o grande navegador havaiano Garrett McNamara. Com a medalha Vasco da Gama. Não só por ele ter trepado a uma onda de trinta metros a cavalo numa prancha, na Nazaré - mas também, e sobretudo, por ter feito chegar o nome desse lugar remoto e de Portugal aos ainda mais alcantilados píncaros das páginas do niuiórquetaimes.
Os portugueses são assim, ficam deleitados quando se fala deles “lá fora”. E quando é no niuiórquetaimes então, ou mesmo vá lá, no uóxintomposte, ficam completamente desvanecidos, e dão tudo. Fazem tudo. Foi isso que a nossa armada fez.
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Para agradecer ao seu novo herói, a marinha portuguesa, através do site do Instituto Hidrográfico, criou um serviço que passa agora a divulgar as previsões das condições de surfe em todo o país e nas regiões autónomas. Nem mais. Chama-se “qual é a tua onda?”- o serviço. António Silva Ribeiro*, o contra-almirante que dirige o Instituto Hidrográfico da Marinha, veio à Figueira apresentar este serviço e frisou que mais tarde será lançada uma versão específica deste programa dedicada ao apoio das actividades da pesca artesanal ou de cerco e alar para terra, que utilizam aliás os mesmos litorais arenosos e as mesmas ondas que são utilizadas pelos surfistas.
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Ou seja, a Marinha Portuguesa, sempre no afã de bem fazer, apoia prioritariamente actividades realmente estruturantes, que criam empregos, riqueza, enfim. fixam populações. Também não se esquece, evidentemente, das actividades mais residuais, extravagantes, puramente recreativas e até mesmo diletantes, como a pesca, por exemplo. Nem dos pescadores, esses dândis. Mas ficam para mais tarde.
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É que, por São Jorge, segundo outro dos seus lemas, a armada lusitana tem “o mar por vocação, o país por horizonte.

*António Silva Ribeiro, o contra-almirante da armada que veio à Figueira mostrar o serviço do seu Instituto Hidrográfico, aproveitou a sua excursão à praia da Claridade para dissipar do espírito dos locais uma dúvida excruciante: deu-lhes a sua palavra de oficial e cavalheiro de que a Nazaré tem, de facto, a onda mais alta do mundo; mas a Figueira tem a mais comprida.
O que, de certo modo, faz algum sentido.
Se pensarmos bem, o comprimento da onda figueirinhas deve ser directamente proporcional à extensão da sua praia. Só pode.
Ou seja, a ciência, através do instituto hidrográfico da Marinha, reconcilia os figueirinhas com a sua auto-estima, tão afectada pela cagança dos nazarenos.
Viva a armada lusitana. Por São Jorge.
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2 comentários:

Luis Filipe Gomes disse...

Foi criada a marca Marquenamara. E assim a Pedra do Guilhim vê reconhecido o tamanho da Onda.
A Nazaré está habituada a estes milagres de cervos voadores e cavaleiros cujas montadas a virgem suspende. Mas é claro que sabemos que Marquenamara não se fia na virgem e corre a bom correr com os seus meios aitéque sufistificados de que não costuma falar-se. Umas coisitas que davam jeito aos pescadores se a sua actividade não estivesse condenada, e a ser entregue a outros valores que mais alto se alevantam. É o tal talan de biein fére.

cid simoes disse...

E enquanto não se afoga o maralhal vai na onda pensando que se está sarfando.