Ah, a Marinha
portuguesa. Tanto haveria a dizer sobre a armada
lusitana. E dos seus “nove séculos de história”.
Além de ter dado ao país um inesquecível presidente da
república tem, entre os seus “heróis”, um rei (que se deixou assassinar -
magnificamente, a tiro de clavina - enquanto se passeava de charrete no Terreiro
do Paço); isto para lá, evidentemente, de um número imarscecível de fidalgos - condes
e marqueses, da alta e da baixa nobreza - entre os quais um tal de Ferreira do Amaral, avoengo do actual ci-ai-ou da Lusoponte (este deixou-se
também massacrar gloriosamente mas “a cutiladas”, pelos chinocas, enquanto
passeava a cavalo).
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Enfim, é uma história trágicómarítima.
Mas que deixou profundas e indeléveis marcas no actual carácter cordato dos
portugueses e até no seu modo de falar – a expressão “ir para o caralho” por
exemplo, tem origem em certas regras disciplinadoras da rapaziada a bordo (quem
ia “para o caralho” nunca mais lá queria voltar - não era propriamente como
passar em Alcobaça). Assim, o facto de os portugueses hodiernos permitirem que
se lhes faça tudo sem tugirem nem mugirem, tem razões profundamente navais – eles nutrem um verdadeiro - entranhado,
atávico e genuinamente sincero - pavor de ir
para o caralho.
Contudo, a glória da armada portuguesa não se reduz aos
seus métodos pedagógicos dissuasores, civilizadores,
ou pacificadores. A sua história também é uma história de inovação tecnológica; como por exemplo a invenção, um tanto precoce,
cem anos antes da descoberta oficial (era
um conceito gurmê na época – envolvia
seda natural), do “cartucho”.
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Mas não vou por aí. O que concitou a minha atenção foram
os seus feitos mais recentes. Sim, porque a marinha portuguesa está sempre a
fazer coisas - tem aliás como lema “talent de bien faire” – vontade de bem fazer, a divisa do
infante D. Henrique.
A Marinha portuguesa condecorou recentemente o grande
navegador havaiano Garrett McNamara. Com a medalha
Vasco da Gama. Não só por ele ter trepado a uma onda de trinta metros a
cavalo numa prancha, na Nazaré - mas também, e sobretudo, por ter feito chegar
o nome desse lugar remoto e de Portugal aos ainda mais alcantilados píncaros
das páginas do niuiórquetaimes.
Os portugueses são assim, ficam deleitados quando se fala
deles “lá fora”. E quando é no niuiórquetaimes
então, ou mesmo vá lá, no uóxintomposte, ficam
completamente desvanecidos, e dão tudo. Fazem tudo. Foi isso que a nossa armada
fez.
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Para agradecer ao seu novo herói, a marinha portuguesa,
através do site do Instituto Hidrográfico, criou um serviço que passa agora a divulgar as previsões das condições de surfe em todo o
país e nas regiões autónomas. Nem mais. Chama-se “qual é a tua onda?”- o serviço. António
Silva Ribeiro*, o contra-almirante que dirige o Instituto Hidrográfico da
Marinha, veio à Figueira apresentar este serviço e frisou que mais
tarde será lançada uma versão específica deste programa dedicada ao
apoio das actividades da pesca artesanal ou de
cerco e alar para terra, que utilizam aliás os mesmos litorais arenosos e as
mesmas ondas que são utilizadas pelos surfistas.
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Ou seja, a Marinha Portuguesa,
sempre no afã de bem fazer, apoia prioritariamente
actividades realmente estruturantes, que criam empregos, riqueza, enfim. fixam
populações. Também não se esquece, evidentemente, das actividades mais residuais,
extravagantes, puramente recreativas e até mesmo diletantes, como a pesca, por
exemplo. Nem dos pescadores, esses dândis. Mas ficam para mais tarde.
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É que, por São Jorge, segundo outro dos seus lemas, a armada lusitana tem “o mar por vocação, o país por horizonte”.
É que, por São Jorge, segundo outro dos seus lemas, a armada lusitana tem “o mar por vocação, o país por horizonte”.
*António Silva Ribeiro, o contra-almirante da armada que
veio à Figueira mostrar o serviço do seu Instituto Hidrográfico, aproveitou a
sua excursão à praia da Claridade para dissipar do espírito dos locais uma
dúvida excruciante: deu-lhes a sua palavra de oficial e cavalheiro de que a Nazaré
tem, de facto, a onda mais alta do mundo; mas a Figueira tem a mais comprida.
O que, de certo modo, faz algum sentido.
Se pensarmos bem, o comprimento
da onda figueirinhas deve ser directamente proporcional à extensão da sua praia. Só pode.
Ou seja, a ciência, através do instituto hidrográfico da Marinha,
reconcilia os figueirinhas com a sua auto-estima, tão afectada pela cagança dos
nazarenos.
Viva a armada lusitana. Por São Jorge.
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2 comentários:
Foi criada a marca Marquenamara. E assim a Pedra do Guilhim vê reconhecido o tamanho da Onda.
A Nazaré está habituada a estes milagres de cervos voadores e cavaleiros cujas montadas a virgem suspende. Mas é claro que sabemos que Marquenamara não se fia na virgem e corre a bom correr com os seus meios aitéque sufistificados de que não costuma falar-se. Umas coisitas que davam jeito aos pescadores se a sua actividade não estivesse condenada, e a ser entregue a outros valores que mais alto se alevantam. É o tal talan de biein fére.
E enquanto não se afoga o maralhal vai na onda pensando que se está sarfando.
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