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segunda-feira, 25 de março de 2013

a benemerência patrocinada


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Nunca vi lugar do mundo onde os chamados “clubes de serviços” tenham mais destaque social e projecção mediática do que neste pobre lugar bisonho que é a Figueira da Foz.
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-Não há esquina ou jardim desta triste choldra arruinada em que não se tropece num marco, numa lápide, num monumento de referência aos “serviços” de um destes inefáveis clubes onde “líderes de negócios”” se juntam em estranhos cerimoniais ajantarados, sem aventalinho mas com imensos salamaleques, para praticar a caridadezinha.
-Não há jornaleco ou folhetim pacóvio local que em páginas ímpares não dê brado, num basto noticiário acéfalo e babado de encómios, a mais um dos seus “serviços” benfazejos. É preciso que se diga que o objectivo destes clubes é “incentivar a servir”, pelo que até estão isentos de alguns impostos e mesmo alguns “benefícios secundários” dos seus membros, tais comoredes de relacionamento e oportunidades de crescimento pessoal”, apenas “encorajam o envolvimento”.
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É pois um espanto e um mistério que com tantos serviços prestados à cultura e à “solidariedade social”, a Figueira da Foz continue a definhar a olhos vistos, num infame atraso de vida cada vez menos e mais mal frequentado.
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Vem isto a propósito desta notícia espampanante, publicada no “jornal” As Beiras: “Rotary cria primeiro parque florestal urbano do mundo”. Nem mais. 
Então é assim: o município cede os terrenos por 25 anos e presta apoio técnico; a Soporcel oferece as árvores e a Celbi fornece o composto, mas o inefável clube Rotary é que cria o “primeiro parque florestal urbano do mundo”!!!.
 Digam lá que não é de génio. - Foda-se, só visto, porque contado ninguém acreditava*.
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Este é o género de fenómenos apenas possível num meio cultural labrego que cultiva com gosto alarve o entretenimento cretino e padece de um fascínio mórbido pelo inaudito dos recordes do Guiness Book - um antro de uma cidadania abúlica e basbaque, de tal modo permissiva e acrítica que é incapaz já até do escárnio; quanto mais da reflexão, do reparo, da crítica, do protesto ou, muito humildemente que seja, de questionar o poder local por alienar, pelo tempo de uma geração, património público que lhe cabe gerir para benefício de todos.
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Talvez por isto não tive conhecimento de sobressalto cívico algum por mais esta tão esconsa como patusca parceria publicóprivada. Mas tenho algumas dúvidas que me assaltam e que, embora não tenha esperanças de ver respondidas, condenso em duas simples questões:
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-para que caralho quer a autarquia o Horto Municipal, se este não é capaz de criar e gerir um parque florestal urbano?
-que caralho de competências (botânicas, de engenharia florestal, de poda, de propagação de espécies por enxertia ou mergulhia, de conservação de sementes, etc.) exibe o Rotary Club que o capacitam para “criar” e gerir um parque florestal urbano?

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*Devo dizer que nada tenho contra o voluntarismo benemérito dos "clubes de serviço" ou quejandos, desde que seja a expensas próprias e só depois de publicamente demonstradas competências exigidas para o empreendimento.
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