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terça-feira, 3 de maio de 2011

O mês de Maio




Decididamente estamos no mês de Maio. O mês das flores e dos trovões, dos prodígios, das aparições e outras estórias da carochinha.
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Depois do santo padre ter subido ao céu no dia dos trabalhadores, para gáudio dos lorpas de todo o mundo, eis que outro padre santo também ganha asas e entra no paraíso com fanfarra mediática e direito às setenta e duas virgens do manual dos cretinos islâmicos. Tudo com o alto patrocínio dos americanos.

.Se em Maio as estradas de Portugal se enchem de peregrinos que em Junho vão, como de costume, votar no mal menor, em Nova Iorque a turba também encheu Times Square para festejar, com ululante e alarve patriotismo, a morte de Osama, ou a reeleição de Obama, não percebi bem.

.O que eu percebi foi que o presidente do maior país democrático do mundo (um estado de Direito onde se acredita, por princípio, que ninguém pode ser condenado ou executado sem ser julgado) confessou em público, orgulhoso, que encomendou uma execução. Um assassínio. Ou seja, o Obama mandou eliminar o Osama.
Queima de arquivo, portanto; um desporto que, em Portugal, país que foi pioneiro orgulhoso na abolição da pena de morte, chegou a ser praticado com alguma imoderação por Salazar, por exemplo; e nunca ninguém o ouviu gabar-se disso, pelo menos em público. Outros tempos; em que a grandeza dos verdadeiros estadistas se aferia pela dimensão da sua modéstia.

Contudo e embora, claro, os EUA não tenham ratificado o tratado da sua criação (não fosse o diabo tecê-las), seria pertinente, e quiçá interessante, saber o que diz o Tribunal Penal Internacional sobre tão pitoresca e inédita situação.
Aguardemos pois por mais um prodígio. Maio ainda só está no início.

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2 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Se o mérito que mais lhe aprecio é o traço, fino e duro. Hoje o texto não lhe fica atrás, curto e grosso, zombando de coisas grosseiras...

:))

cid simoes disse...

"desouvi" John Cage até ao fim e também aplaudi.