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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Manuel Gusmão

A Terceira mão de Carlos de Oliveira
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I

A primeira mão escreve com o tempo e contra

o tempo

a segunda reescreve o passado com o futuro e

por todo o lado instaura o presente do fim

depois a terceira mão vem e escova

e constela os tempos

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II

A primeira monta um cenário nocturno à espera

da noite que virá. A segunda traz a esse cenário

a noite glaciar. A terceira sobrepõe as noites

e revela o seu povoamento

comum: luz eléctrica, papel intensificado,

uma teoria da escrita, desolação.

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III

Uma segreda e comove-se

no espelho tempestuoso. Outra seca

o saco lacrimal e deduz de si mesmo o movimento

que faz a emoção: A terceira contribui

com o espelho das metamorfoses, a câmara

que filma a dedução

[e enlouquece numa só letra.

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Manuel Gusmão in A Terceira Mão, Caminho, 2008

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1 comentário:

cid simoes disse...

Já merecíamos esta lufada de ar puro para afastar o fedor dos últimos cromos.