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terça-feira, 4 de abril de 2023

A França e a terceira vez


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“A França é o país onde as lutas de classe, mais do que em qualquer outro lugar, foram sempre levadas às últimas consequências, e onde, portanto, as formas políticas mutáveis, no interior das quais se processam e se resumem os seus resultados tomam contornos mais nítidos. Centro de feudalismo na idade média, país clássico, depois da Renascença, da monarquia hereditária, a França, na sua grande Revolução, destruiu o feudalismo e instaurou o domínio da burguesia com uma característica de pureza clássica inigualada por qualquer outro país da Europa. Igualmente a luta do proletariado revolucionário contra a burguesia dominante reveste-se aqui de formas agudas, desconhecidas em qualquer outro lado.”

Friedrich Engels, no prefácio à terceira edição alemã de “O 18 de Brumário de Louis Bonaparte”, de Karl Marx

Para a imprensa dominante em Portugal não se passa nada de particularmente relevante em França. Tout va bien, madame la Marquise. De França, nada a reportar. Excepto, claro, algumas frioleiras refrigerantes como a inaudita derrota do PSG em casa frente ao Lyon e o inefável referendo ao povo de Paris que proibiu as trotinetes.

E, no entanto, o povo de Victor Hugo está outra vez na rua. Miserables, milhões de franceses pauperizados pelo capitalismo desfilam ruidosamente a sua cólera nas ruas de todas as cidades de França. Todos os dias o proletariado, aquele povo cuja única fonte de rendimento é o trabalho, cada vez mais precarizado, mal-pago e com menos direitos, desafia corajosamente a mais brutal repressão de um estado cada vez mais policial tomado pela alta-finança através de um títere com o rosto infame e lavadinho de um Rostschild-boy tão medíocre como o imbecil, vingativo e prepotente Louis Bonaparte e com as mesmas pretensões a imperador. Em 2017 fiz-lhe este retrato. Não vejo motivos para o corrigir, ou retocar.

Hegel disse: “Ah e tal, a História repete-se pelo menos duas vezes”. Ao que Marx acrescentou: “A primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Eu, ai de mim, atrevo-me a sugerir que a terceira pode muito bem ser como fantochada.

A não ser, claro, que o proletariado desarrinque alguma forma aguda de acabar com o espectáculo da burguesia e da alta-finança. Talvez - que sei eu? - pendurando de vez os fantoches e botando abaixo a barraca do teatrinho. 
Mas isto sou só eu a escrever, claro. Escrever é, como dizia Jules Renard, um escritor francês, "a única forma de falar sem ser interrompido".
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1 comentário:

cid simoes disse...

Os franceses precisam de levar nas orelhas para acordar e esquecer o seu chauvinismo.