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domingo, 14 de agosto de 2022

O acaso como causa sem efeito – com resumo e nota de rodapé (em tempo real)


 

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- Era uma vez, a 13 de dezembro de 2015 (um domingo à noite), a TVi fez saber (em nota de rodapé) que o Banif ia ser alvo de uma medida de resolução. A notícia precipitou uma corrida aos depósitos que se concretizou, na semana seguinte, numa quantia de levantamentos muito próxima de mil milhões de euros, segundo afirmaram, mais tarde no parlamento, vários responsáveis.

- A 20 de dezembro de 2015, o Governo e o Banco de Portugal anunciaram a resolução do Banif.

O director de informação da TVi era Sérgio Figueiredo. Foi no mesmo ano que Figueiredo criou para Fernando Medina, então presidente da Câmara de Lisboa, um espaço de opinião política que lhe garantiu não só rendimentos mas também a visibilidade pública e a notoriedade política necessárias para, mais tarde, perder as eleições e chegar a ministro. 

- Em Março de 2020 foram ambos processados (a TVi e Sérgio Figueiredo) por decisão do tribunal da Comarca de Lisboa. Por ofensa à reputação económica do Banif. 

- A 10 de Maio de 2022, a própria TVi, sempre fiel aos seus pergaminhos, noticiou em primeira-mão, e em “acordês” como de costume: "a decisão do Juízo Criminal de Lisboa, hoje conhecida, foi perentória: absolveu a TVI, bem como o Diretor de Informação à data dos factos, por considerar que não estavam preenchidos os requisitos mínimos que pudessem gerar a sua responsabilidade" - o que deve querer dizer,  em português corrente, que o competente Juízo Criminal de Lisboa, instado plo Tribunal da Comarca da mesma cidade, deu como provado que entre causa e efeito não existe a mínima relação. Estas coisas não se inventam. 

Entretanto, a esta altura do campeonato, Sérgio Figueiredo já tinha abandonado a sua fulgurante carreira no jornalismo-de-merda e abraçado outra, igualmente promissora, como vereis, como consultor de sustentabilidade. Fundou, com a sua namorada, a empresa Plataforma Coerente (estas coisas não se inventam) e, em 2020, assinou um contrato com a Câmara Municipal de Lisboa, à época liderada por Fernando Medina, para gizar um plano de comunicação para promover as compras de Natal no comércio tradicional, particularmente afetado pela pandemia e consequentes confinamentos. Este plano, genial e ambicioso (custou trinta mil aéreos aos alfacinhas e levou 13 dias a executar) consistiu numa campanha de vídeos gravados com telemóvel (que podem ser vistos no canal Youtube da CML) nos quais vinte figuras públicas de reconhecida alta-cravadeira social (e óbvia proximidade ao casal plataforma coerente), se deixaram generosamente filmar proferindo doces abobrinhas sobre as maravilhas de fazer compras no comércio tradicional alfacinha. Os resultados da campanha para o comércio tradicional são, no entanto e até agora, desconhecidos. Talvez porque, à época, a CML não tinha ninguém realmente capacitado para monitorar os impactos deste género de plíticas públicas. 

- Destarte, em Julho de 2022, o mesmo Fernando Medina, agora já ministro das Finanças do governo de Portugal, contratou Sérgio Figueiredo para proceder à avaliação e monitorização do impacto das políticas públicas, em tempo real, junto do tecido empresarial, sindicatos e outras instituições da sociedade civil. O contrato, por ajuste directo, terá a duração de dois anos, durante os quais Figueiredo terá um ordenado equiparado ao vencimento mensal base (ilíquido) de um ministro (este montante foi posteriormente corrigido pois Figueiredo vai abichar 139. 990 euros brutos em dois anos, o que equivale a 5.832 mensais, superiores portanto, aos 4.767 inicialmente noticiados). Acrescente-se que, embora impedido de exercer outras atividades que possam representar um conflito de interesses com as que vai desempenhar no Ministério das Finanças, este não lhe exige exclusividade.

Estas coisas também não se inventam.

Resumo: o governo de Portugal, através do seu Ministério das Finanças, contratou um consultor de sustentabilidade em part-time com um cachet superior ao do próprio ministro, para fazer algo que competiria aos funcionários do próprio ministério, a quem é exigido tempo-inteiro e dedicação exclusiva.

Nota de rodapé:  à hora (em tempo real) que fecho a edição desta posta, o novo consultor de sustentabilidade já terá informado o ministro Medina do impacto da sua própria contratação junto do tecido empresarial, sindicatos e outras instituições da sociedade civil.

1 comentário:

X Dias Longo disse...

Aqui aplica-se "uma mão lava a outra e as duas lavam a cara"
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