.

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Parasitas


 

.

falta mão de obra qualificada à restauração figueirense 

Mário Esteves (bastonário, cê-i-ou, ou lá o que é, da mui inefável,  patronal e cólificada associação Figueira-com-sabor-a-mar,  ao “jornal” As Beiras)

.

Aos cinquenta e nove anos já há poucas coisas que muito me espantem ou que muito me enlevem. Como Pascoaes, não sou dos que se indignam porque deus criou as moscas. Sinto-me, porém, intimamente enxovalhado sempre que um trambolho chupista como o esteves da caçarola abre a moela, põe um ovo apodrecido, e arrota postas de pescada ardida. E sinto-me duplamente insultado quando um meio de comunicação faz de um cevado destes um líder de opinião ou um influencer, dando-lhe de bandeja palanque e amplificação, como se de um simples javardo se pudesse fazer um sábio ou um senador

Numa cidade que definha a olhos vistos, pouca gente há que realmente prospere. O esteves é um desses happy few (juntamente com os outros parasitas que compõem com ele aquela inacreditável caldeirada de caçarolas).

E como prosperam estes parasitas?, perguntais vós. Já vos digo.

No mundo prodigioso da restauração figueirinhas, o esteves e os outros caçarolas da associação (empresários da restauração) praticam a céu aberto o salário baixo, impõem a desregulação de horários e não pagam aos estagiários (leram bem, usam o trabalho pro bono forçado). Depois, o esteves da caçarola meneia a papada reluzente de gordura e prosperidade, abre aquele cu de galinha que usa abaixo do bigode e arrota, mavioso: “ah e tal, falta mão-de-obra qualificada na restauração figueirense”. Percebeis porquê? Na Figueira ninguém percebe. O próprio esteves, que é imensamente cólificado, está abesbílico; porque é realmente um mistério, esta falta de mão de obra qualificada.

Numa cidade que não possui aquilo que se chama cultura gastronómica (não tem um prato típico, nem sequer uma maneira peculiar de confeccionar seja o que for), o esteves e os outros caçarolas da associação acham-se uma atracção turística. Eles crêem-se mesmo os únicos alvos do interesse de quem visita a Figueira da Foz (como se alguém de bom-senso se deslocasse à Figueira, como à Mealhada, por motivos gastronómicos). Eles pensam, e sentem mesmo (sim, qu’até os parasitas coitadinhos têm sentimentos) que o único propósito, ou desígnio, do turismo na Figueira da Foz é a sua (deles) facturação. Por isto julgam-se no direito de reclamar do município o patrocínio (com dinheiro público) de mais e mais eventos, cada vez mais alarves que atraem à urbe multidões de grunhos cada vez mais papalvos e analfabetos que não distinguem o peixe fresco do congelado nem o fénico do amoníaco ou do ardido que lhes regurgita das imundas caçarolas, lhes enche os pratos nédios e atesta as infames caixas registadoras do esteves e dos outros caçarolas da associação.

Há décadas que o poder local vive refém deste lóbi da caçarola, dissipando anualmente paletes de resmas de dinheiro público em eventos pífios ou anedóticos para benefício exclusivo deste empreendedorismo parasitário e consolidando, ano após ano, um modelo de turismo, este sim, desqualificado.

Há sempre quem prospere numa árvore que definha: os seus parasitas. Para uma árvore poder prosperar (e ser uma cidade para os pássaros, como dizia Aquilino), precisa de se livrar dos parasitas (os fungos das raízes; as cochonilhas dos galhos e das folhas; as moscas dos frutos). Como esta Figueira é uma cidade, e em processo avançado de definhamento, também urge que se livre dos seus parasitas – a começar pelos fungos do lóbi da caçarola, pelas cochonilhas de uma restauração sem qualidade e pelas moscas de um turismo sem classe.

Para isso seria necessário um novo poder local. Um poder cujos agentes nunca tivessem contemporizado com o parasitismo instalado.

Para desparasitar a Figueira, esse novo poder local teria que enviar um recado explícito e inequívoco ao esteves e aos outros caçarolas da associação: querem festa, suem-lhe a testa, suprimindo de imediato a subvenção pública da diversão idiota, do entretenimento cretino, da animação estupidificante (não mais pimba à borla, nem comboio de bêbados, nem isenção de taxas ao Anselmo Ralph, etc, etc.). Acabados os eventos, que são o mel que atrai as moscas deste turismo desqualificado que tem sido a prosperidade dos fungos do gang da caçarola, há que atacar as cochonilhas da restauração sem qualidade: o novo poder local deveria vincar, publica e assertivamente, que qualquer apoio futuro à restauração seria sempre dependente do cumprimento escrupuloso das normas laborais, do respeito escrupuloso dos horários de trabalho e do escrupuloso pagamento de salários dignos. 

Perscrutando bem, a única força política capaz de cumprir e de fazer cumprir estes simples passos sem tibiezas é, a bem dizer, a CDU. Sim, os comunistas.

É por isso que eu voto nos comunas e recomendo. Se quiserem mesmo desparasitar a Figueira, claro.

Se não quiserem, olhem, continuem para bingo e advirtam-se. Suem-lhe a testa. Mas sobretudo não se indignem muito porque deus criou as moscas.

.

1 comentário:

Judite Castro disse...

Obrigada por este texto. Vou distribuir.