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falta mão de obra qualificada à restauração figueirense
Mário
Esteves (bastonário, cê-i-ou, ou lá o que é, da mui inefável, patronal e cólificada associação Figueira-com-sabor-a-mar,
ao “jornal” As Beiras)
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Aos cinquenta e nove anos já há poucas coisas que muito me
espantem ou que muito me enlevem. Como Pascoaes, não sou dos que se indignam
porque deus criou as moscas. Sinto-me, porém, intimamente enxovalhado sempre
que um trambolho chupista como o esteves da caçarola abre a moela, põe
um ovo apodrecido, e arrota postas de pescada ardida. E sinto-me
duplamente insultado quando um meio de comunicação faz de um cevado destes um líder
de opinião ou um influencer, dando-lhe de bandeja palanque e
amplificação, como se de um simples javardo se pudesse fazer um sábio ou um senador.
Numa cidade que definha a olhos vistos, pouca gente há que
realmente prospere. O esteves é um desses happy few (juntamente
com os outros parasitas que compõem com ele aquela inacreditável caldeirada de caçarolas).
E como prosperam estes parasitas?, perguntais vós. Já vos
digo.
No mundo prodigioso da restauração figueirinhas, o esteves
e os outros caçarolas da associação (empresários da restauração)
praticam a céu aberto o salário baixo, impõem a desregulação de horários e não
pagam aos estagiários (leram bem, usam o trabalho pro bono
forçado). Depois, o esteves da caçarola meneia a papada reluzente
de gordura e prosperidade, abre aquele cu de galinha que usa abaixo do
bigode e arrota, mavioso: “ah e tal, falta mão-de-obra
qualificada na restauração figueirense”. Percebeis porquê? Na Figueira
ninguém percebe. O próprio esteves, que é imensamente cólificado,
está abesbílico; porque é realmente um mistério, esta falta de mão de
obra qualificada.
Numa cidade que não possui aquilo que se chama cultura
gastronómica (não tem um prato típico, nem sequer uma maneira
peculiar de confeccionar seja o que for), o esteves e os outros caçarolas
da associação acham-se uma atracção turística. Eles crêem-se mesmo os únicos
alvos do interesse de quem visita a Figueira da Foz (como se alguém de
bom-senso se deslocasse à Figueira, como à Mealhada, por motivos
gastronómicos). Eles pensam, e sentem mesmo (sim, qu’até os parasitas coitadinhos
têm sentimentos) que o único propósito, ou desígnio, do turismo na Figueira da
Foz é a sua (deles) facturação. Por isto julgam-se no direito de reclamar do
município o patrocínio (com dinheiro público) de mais e mais eventos,
cada vez mais alarves que atraem à urbe multidões de grunhos cada vez mais
papalvos e analfabetos que não distinguem o peixe fresco do congelado nem o
fénico do amoníaco ou do ardido que lhes regurgita das imundas
caçarolas, lhes enche os pratos nédios e atesta as infames caixas registadoras
do esteves e dos outros caçarolas da associação.
Há décadas que o poder local vive refém deste lóbi da
caçarola, dissipando anualmente paletes de resmas de dinheiro público em eventos
pífios ou anedóticos para benefício exclusivo deste empreendedorismo
parasitário e consolidando, ano após ano, um modelo de turismo, este
sim, desqualificado.
Há sempre quem prospere numa árvore que definha: os seus
parasitas. Para uma árvore poder prosperar (e ser uma cidade para os
pássaros, como dizia Aquilino), precisa de se livrar dos parasitas (os
fungos das raízes; as cochonilhas dos galhos e das folhas; as moscas dos
frutos). Como esta Figueira é uma cidade, e em processo avançado de
definhamento, também urge que se livre dos seus parasitas – a começar pelos fungos
do lóbi da caçarola, pelas cochonilhas de uma restauração sem
qualidade e pelas moscas de um turismo sem classe.
Para isso seria necessário um novo poder local. Um poder
cujos agentes nunca tivessem contemporizado com o parasitismo instalado.
Para desparasitar a Figueira, esse novo poder local
teria que enviar um recado explícito e inequívoco ao esteves e aos outros
caçarolas da associação: querem festa, suem-lhe a testa, suprimindo
de imediato a subvenção pública da diversão idiota, do entretenimento
cretino, da animação estupidificante (não mais pimba à borla, nem
comboio de bêbados, nem isenção de taxas ao Anselmo Ralph, etc, etc.).
Acabados os eventos, que são o mel que atrai as moscas deste turismo
desqualificado que tem sido a prosperidade dos fungos do gang da
caçarola, há que atacar as cochonilhas da restauração sem
qualidade: o novo poder local deveria vincar, publica e assertivamente, que
qualquer apoio futuro à restauração seria sempre dependente do cumprimento
escrupuloso das normas laborais, do respeito escrupuloso dos horários de
trabalho e do escrupuloso pagamento de salários dignos.
Perscrutando bem, a única força política capaz de cumprir e
de fazer cumprir estes simples passos sem tibiezas é, a bem dizer, a CDU. Sim, os
comunistas.
É por isso que eu voto nos comunas e recomendo. Se quiserem
mesmo desparasitar a Figueira, claro.
Se não quiserem, olhem, continuem para bingo e advirtam-se.
Suem-lhe a testa. Mas sobretudo não se indignem muito porque deus criou
as moscas.
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1 comentário:
Obrigada por este texto. Vou distribuir.
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