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domingo, 16 de agosto de 2020

Magina tu

 


É sabido que na arte islâmica é proibida a representação de Deus. É por isso que esta arte é abstracta. O que eu não sabia era que em Portugal, no ano vinte do século vinte e um, era proibido desenhar polícias. Ainda mais no seu habitat se não natural pelo menos num ambiente em que qualquer cidadão, jornalista ou simples mirone, pode observá-los: não a fazer o seu trabalho de segurança pública mas como participantes activos (e bem participativos) em alegres hápeningues de extrema-direita.

Como não acredito que seja verdade (que é proibido desenhar polícias) resolvi fazer o retrato do senhor Magina da Silva, o afoito director (ou presidente, ou cê-i-ou ou comandante supremo ou lá o que é) da dita instituição. Foi ele que assinou uma queixa-crime contra o cartunista Nuno Saraiva porque este desenhou um agente da polícia numa manifestação nocturna de fachos acesos e máscaras brancas. Ou seja, o pobre nem sequer usou a fantasia e o exagero (que nesta arte são perfeitamente aceitáveis) limitando-se a ser literal: representou um agente da PSP no seu ambiente natural quando está de folga (quando de serviço estará certamente a bater em pretos, a ameaçar ciganos ou a multar desgraçados atrasados para o trabalho).

Eu penso, contudo, que em vez de se sentir melindrado por agentes da PSP serem representados a participar de mitingues fascistas, o comandante Magina devia tomar providências para evitar que eles os frequentassem. É para isso, suponho, que ele tem o comando da força toda.

Também penso, já agora, que o comandante também devia tomar providências, ou mover influências sei lá, (junto da tutela) para que os seus agentes sejam melhor remunerados de modo a que, para arredondar o orçamento, não se vejam obrigados a fazer serviços de segurança privada. Se não lograr o intento devia, pelo menos, ser inflexível quanto à indumentária - aconselhar-lhes o informal: bata ou avental - nunca a farda de serviço e o equipamento. Mas é assim, infelizmente, que qualquer paisano, jornalista ou simples mirone, pode observá-los nas lojas do Pingo-Doce da Figueira da Foz: patrulhando impávidos os corredores, passeando vagarosa e ameaçadoramente as botas do regulamento, a farda, a pistola, o cassetete e as algemas, que exibem, ostensivas, para pavor dos ciganitos e eterna segurança do pecúlio de chocolates do senhor Soares dos santos (que não é deus nem eu muçulmano e por isso mesmo também já me permiti representar figurativamente aqui).  

É que, como cidadão e contribuinte, sinto-me melindrado. Tão melindrado que, se acreditasse na justiça, moveria uma queixa-crime contra o chefe da polícia.

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