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Este
ano, na Figueira, o dia da cidade coincidiu com um dia normal
de campanha eleitoral. O geniozinho imbecil que coordena a campanha
autárquica do Partido Socialista na Figueira da Foz deve ter tido
uma erecção. O seu cerebrozinho de apenas um neurónio fez tilt
(terá mesmo ejaculado, ou evacuado, por qualquer das
extremidades) de auto-satisfação, por ter notado a feliz
coincidência. E, num lampejo de esperteza saloia, arresolveu
assinalá-la com uma série de inaugurações, entregas de prémios e
homenagens públicas a personalidades locais. É verdade, a Câmara
Municipal não arranjou melhor oportunidade para homenagear o
escultor Gustavo Bastos, o escritor João Gaspar Simões, o
arquitecto Isaías Cardoso e o político e advogado Luís de Melo
Biscaia.
Por
mero acaso assisti à que foi prestada a Luís de Melo Biscaia.
Tratava-se de dar o seu nome ao largo onde teve o escritório de
advogado por mais de quarenta anos.
Foi
assim. Ia eu muito descansado a passar pla rua da República quando
reparei, em frente ao Café Nau, num ajuntamento inusitado de
engravatados. Logo depois, lobriguei a presença das duas corporações
de Bombeiros. Juntos, os Municipais e os Voluntários. Hmm.
Farpelas de gala.
Estandartes ao alto. Hmm, pensei eu baixinho, aqui há
coisa. Acerquei-me. Deparei, entre os mirones, com algumas caras
conhecidas. Deixei-me estar. Mirei. E não gostei.
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Suponho
que o próprio Melo Biscaia também não teria gostado.
Apesar
do belo, digno e emocionado discurso do seu filho Pedro, Melo Biscaia
teria com certeza torcido o nariz à ideia peregrina de ver o seu
nome servir de pretexto para um tão óbvio como reles aproveitamento
político em campanha eleitoral.
Mas
o pior veio depois. Melo Biscaia, se tivesse assistido a tão penoso
sacrifício teria, sem dúvida, franzido o sobrolho e arranjado
motivo para se despedir à francesa, embaraçado, para ir
fumar uma das suas longas cigarrilhas bem longe dali.
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A
pièce de resistance da pepineira em questão foi o discurso
imbecil e desastrado, repleto de gaffes e partes gagas improvisadas a
despropósito, do presidente da Câmara. É realmente impressionante
como alguém, nitidamente despreparado, em discurso oficial e
cerimónia solene, consegue na mesma frase chamar general ao marechal
Norton de Matos, confundi-lo com Humberto Delgado, trocar 1949 por 58
e na frase seguinte, atribuir a paternidade do homenageado ao seu tio
Severo Biscaia.
É bem verdade que por mais que se encoste a um
gigante, um anão nunca lhe tira o sol. Mas eu, que não tinha nada
que ver com aquilo, senti-me envergonhado. Imagino como se sentiu a
família. Há homenagens que são enxovalhos. Melo Biscaia
merecia mais. Muito melhor.
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