.
Aqui há anos o Tribunal de Felgueiras conseguiu provar, sem
margem para dúvidas, a existência de corrupção num determinado caso em
julgamento. Do acórdão desse processo não saiu todavia qualquer condenação. Isto
é, a justiça portuguesa mostrou ao mundo a prova de que corrupção é possível,
mesmo sem corruptos. A prova viva, e autorizada, que Portugal funciona, mesmo
sem portugueses. A electricidade sem fios.
.
A justiça portuguesa está porém apostada em mostrar ao
mundo ainda mais peculiaridades locais da corrupção, esse cancro que devora as
sociedades.
Desta vez o ministério público deteve o ex-procurador
Orlando Figueira por alegadamente ter recebido trezentos mil aéreos do vice-presidente
da República de Angola, Manuel Vicente, para arquivar um caso de corrupção. É
aqui que entra a idiossincrasia da corrupção portuguesa: a Procuradora-Geral da
República esclareceu: "Neste
momento, o inquérito tem três arguidos constituídos - uma pessoa colectiva e
duas singulares - não se encontrando entre os mesmos Manuel Vicente".
Se
bem compreendi, a tese do ministério público é que em Portugal a corrupção funciona
só com um fio – isto é, é possível
mesmo sem o agente activo, o corruptor - apenas com o corrupto, o agente passivo.
.
Suponho
que para a defesa de Orlando Figueira, o processo seja de favas contadas. Mesmo que o desinfeliz estafermo contrate um cepo
como advogado, para derimir o argumento da acusação bastará apelar à jurisprudência
do Tribunal de Felgueiras. A coisa funciona mesmo sem fios..
Ou seja, para Manuel Vicente a
vitória é certa - como rezava um slogan muito em voga quando a república
de que é vice-presidente ainda era popular.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário