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Embora Vitorino Silva pareça uma figura de ficção, Tino
de Rans, o seu alter-ego, não tem nada que ver com o personagem interpretado
por James Stewart no filme Mr. Smith goes to
Washington; nem sequer com o de Peter Sellers em Bem-vindo, Mr. Chance.
Tino não padece do idealismo ingénuo e quixotesco do
personagem de Kapra, nem da desconcertante inocência perante a complexidade da vida
do Mr. Chance de Hal Ashby.
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Não. Tino é um personagem português. Genuinamente
português. Dos autênticos; isto é, muito terra-a-terra. Não tem a densidade nem
a ossatura complexa para uma parábola política, apenas a substância elementar para
uma paródia social.
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Como o zé-povinho,
Tino é um simplório; mas não ingénuo, nem inocente. É manhoso, espertalhão. Teve
lições de comunicação - “para aprender a falar com boçês” - disse
ele aos jornalistas.
Ele não tem sonhos, como Mr. Smith; nem perplexos estados de alma, como Mr. Chance. Apenas reacções. Espírito ágil e repentista, como se
viu no derradeiro debate, Vitorino Silva está na política pela mesma razão que
os ícones da música pimba estão no negócio - muito menos pela música do que
pelo negócio: é isso aliás que lhes
permite viver bastante acima das expectativas do seu público.
No mesmo sentido estão os ganhos de
visibilidade que a participação na política
proporciona a Tino: permitem-lhe levar a vida com ela direita, não vergada ao mester de calceteiro.
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É disso que trata a sua candidatura, “Portugal com Tino”.
Este sr. Silva, ao contrário de Mr. Smith, não vai para Belém. Ele sabe
que não vai. Toda a gente sabe, mesmo os que votam nele (todos sabem que
participam em algo burlesco).
Mas embora todos se riam imenso – é um autêntico desatino - não estou certo que tenham captado
nem um terço da piada.
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