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quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O sr. Silva não vai para Belém

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Embora Vitorino Silva pareça uma figura de ficção, Tino de Rans, o seu alter-ego, não tem nada que ver com o personagem interpretado por James Stewart no filme Mr. Smith goes to Washington; nem sequer com o de Peter Sellers em Bem-vindo, Mr. Chance.
Tino não padece do idealismo ingénuo e quixotesco do personagem de Kapra, nem da desconcertante inocência perante a complexidade da vida do Mr. Chance de Hal Ashby.
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Não. Tino é um personagem português. Genuinamente português. Dos autênticos; isto é, muito terra-a-terra. Não tem a densidade nem a ossatura complexa para uma parábola política, apenas a substância elementar para uma paródia social.
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Como o zé-povinho, Tino é um simplório; mas não ingénuo, nem inocente. É manhoso, espertalhão. Teve lições de comunicação -para aprender a falar com boçês” - disse ele aos jornalistas.
Ele não tem sonhos, como Mr. Smith; nem perplexos estados de alma, como Mr. Chance. Apenas reacções. Espírito ágil e repentista, como se viu no derradeiro debate, Vitorino Silva está na política pela mesma razão que os ícones da música pimba estão no negócio - muito menos pela música do que pelo negócio: é isso aliás que lhes permite viver bastante acima das expectativas do seu público. 
No mesmo sentido estão os ganhos de visibilidade que a participação na política proporciona a Tino: permitem-lhe levar a vida com ela direita, não vergada ao mester de calceteiro.
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É disso que trata a sua candidatura, “Portugal com Tino”. 
Este sr. Silva, ao contrário de Mr. Smith, não vai para Belém. Ele sabe que não vai. Toda a gente sabe, mesmo os que votam nele (todos sabem que participam em algo burlesco). 
Mas embora todos se riam imenso – é um autêntico desatino - não estou certo que tenham captado nem um terço da piada.
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