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Emir Kusturica é um músico e cineasta que é uma espécie
de enxerto balcânico de Federico Fellini com Frank Zappa. Não é tão-tão como um
nem bem-bem como o outro mas, ainda assim, possui de cada um deles algumas qualidades bem
notórias, tais como uma imaginação delirante e rebarbativa e um humor
escarninho e destemperado. Além disso é, hoje em dia, um dos poucos artistas
reconhecidos que não teme tomar posição pública sobre o que acha pertinente, mesmo que "politicamente incorrecto".
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Emir não gosta, por exemplo, daquilo que se convencionou chamar “ordem internacional” e di-lo alto e grosso, para grande escândalo das almas resignadas. Emir acha,
por exemplo que o que foi feito na ex-Jugoslávia com o acordo do “concerto das
nações” (incluindo o nosso lindo Portugal e o Vaticano) foi uma filhadaputice
inqualificável. Eu também.
Emir também
acha que o que o “concerto das nações” fez com a Iraque, o Afeganistão e a
Líbia e está a fazer com a Síria e a Ucrânia é uma aleivosia do mesmo jaez. Eu
também.
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Emir, tal como eu, também não tem os políticos eleitos em grande consideração. À
excepção de um, “Pepe” Mújica (sobre quem já me debrucei aqui).
Emir está em vias de culminar um filme sobre Pepe, de
quem disse à imprensa uruguaia que é “o último herói que aceito como um herói no
mundo da política. Dele ouvi uma explicação fresca daquilo em que acredito. Trata-se
de um homem que acredita nas ideias e que necessitamos de um novo mundo”.
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Eu também acho notável alguém que mostrou que é possível um
homem desempenhar-se de um alto cargo público sem jamais se ter sujado em “pragmatismos”
acanalhados e oportunistas e nunca ter permitido que “banhos de realidade” lhe lavassem do cérebro as ideias em que
acreditou toda a vida.
E também acho que alguém assim invulgar deve (só pode) ser
celebrado por um semelhante.
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