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A estória é curta e resume-se assim: o jovem Pedro Cruz (que já retratei aqui e sobre quem já me debrucei aqui), foi convidado pelo presidente da Junta de freguesia De S. Pedro para fazer uma exposição de fotografia.
A estória é curta e resume-se assim: o jovem Pedro Cruz (que já retratei aqui e sobre quem já me debrucei aqui), foi convidado pelo presidente da Junta de freguesia De S. Pedro para fazer uma exposição de fotografia.
O jovem foto-jornalista, certamente desvanecido, aceitou o
convite que encarou como um repto. Em lugar de postais bucólicos e turísticos o
jovem Pedro, cidadão atento e interventivo, decidiu partilhar com os seus
conterrâneos o que o preocupa, mostrando algumas das suas imagens que
documentam a erosão do litoral costeiro, e da sua praia, e dando à mostra o nome de
ALERTA COSTEIRO 14/15.
Leal, como só os grandes o sabem ser, o jovem fotógrafo
deu uns dias antes uma entrevista a um jornal regional na qual anunciava que
para além da paisagem devastada iria também expôr figuras, de responsáveis.
Em vésperas de dia de inauguração, Pedro dirigiu-se ao
local marcado e começou a montar a selecção de imagens que, segundo o seu
critério, melhor davam a ver a devastação da sua praia: paisagens, mas também figuras.
Foi uma das fotos que mostrava figuras que o presidente da junta exigiu que fosse
retirada. O jovem Pedro recusou fazê-lo e a exposição foi cancelada. Segundo o
artista, no seu Face-Book, “O Alerta está dado”.
(podeis acompanhar mais prolongamentos desta notícia no blogue "outra margem").
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Esta estória exemplar demonstra, quarenta anos depois do
vintecincodAbril, como este país continua afinal igual a si próprio e ao que
sempre foi: um pobre e bisonho paraíso paroquial para pequenos chefes labregos que
- no seu boçal entendimento, certamente inebriado plo esplendor do mando -
pensam que podem apagar figuras de uma paisagem.
Mas também demonstra que há algo - para além do talento,
claro - que um artista consciente, ainda que pobre, nunca admite que lhe seja
escamoteado: o orgulho (o amor-próprio, meus lindos).
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Por isso, caro Pedro,
nunca agradeças a quem te enaltece o talento e a independência (ninguém deve o
que já é seu por mérito). Seria falsa modéstia.
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