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A indiferença silenciosa,
grave, quase benévola,
é a manifestação legítima da morte de toda a crença
Alexandre
Herculano
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A classe dirigente portuguesa, da qual tenho vindo modestamente
a retratar os rostos mais proeminentes, não cessa nunca de me espantar. Se é
consabida a estupidez, a cara-de-pau, a incompetência e a inépcia dos mais senis - aqueles que já viravam frangos no tempo da outra-senhora – assim como a sua consagrada
impunidade, que dizer dos mais jovens; sim, da classe dirigente juvenil?
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Se todavia por enquanto ocupam ainda lugares subalternos,
a verdade é que o futuro já lhes pertence – basta consultar as sondagens.
É o caso, por exemplo, do deputado João Portugal, sobre quem já me debrucei aqui. Este
deputado por Coimbra acha que encanar a merda da vala de Buarcos para o mar
resolvia os problemas da ecologia. Há povo qu’acardita. É por isso que o deputadinho Portugal, que tem um passado
de jotinha num dos partidos do
alterne e nunca perdeu uma eleição, tem um lugar quase cativo na classe
dirigente do futuro.
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Outro dirigente também com futuro é o actual ministro do
ambiente, Jorge Moreira da Silva.
Também tem um passado radioso, na juventude do outro partido alternadeiro. E também
se preocupa enormemente com os problemas da ecologia.
Moreira da Silva acha,
por exemplo, que se os portugueses pagarem dez cêntimos de euro por cada saco
de plástico este deixará de ir parar - como Gepetto e o profeta Jonas - ao
estômago das baleias nossas amigas.
Há pessoas qu’acarditam (o povo em geral preocupa-se imenso com a digestão dos grandes
cetáceos e com outros grandes e misteriosos problemas da ecologia).
Também há pessoas
que duvidam, claro. Mas à cautela, condensam esta atitude filosófica num judicioso
“nunca se sabe...” que, segundo Graham Greene, representa “a sua mais profunda
investigação no sentido da vida”.
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É por isso que estes gajos têm futuro. Se as
baleias estão no topo da cadeia
alimentar, a verdade é que, para eles, é o povo
que está na base.
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