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Um
poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte
não
tem sentido: é um pobre chocalho de palavras
João
Guimarães Rosa
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Os ultimos dias têm sido pródigos em notícias da
incessante actividade (para cima e
para baixo) dos mais lídimos
representantes do filhodaputismo
nacional; mas a verdade é que a já lhes fiz o retrato a todos:
-para baixo (por enquanto, pelo menos até ao recurso) foi o sucateiro Godinho (aqui) e
o seu compinska Vara (aqui) que
transumavam entre si fumeiro transmontano e influências por robalos e pão-de-ló;
- para o ar (ou para a puta que o pariu) haveria de ir, e
explodir por lá, o inenarrável Durão Barroso, esse autêntico balão de merda que
desenhei aqui.
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O desenho é, assim, uma actividade que me absorve toda a
atenção. Confesso contudo que, ao contrário da maior parte das pessoas, eu não
faço rabiscos; sou incapaz de
desenhar enquanto falo ao telefone, enquanto espero, ou simplesmente para matar
o tempo. Sou também, por exemplo, incapaz de o fazer em público, como agora
está em voga entre muitos dos meus colegas (a verdade é que abomino a atitude
de uma certa leviandade inerente a esse
género de exibicionismo).
Não gosto do gesto indulgente, do traço volúvel, da intenção vaga, da
atitude imprecisa. O desenho, como cosa
mentale, não se compadece, em mim, com as distracções do mundanal ruído; exige-me, além do
intelecto desperto, todos os sentidos atentos e disponíveis, algum recato e uma certa solidão.
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Tal como o grande Guimarães Rosa
a respeito do poema, considero que um desenho (mesmo um desenho de humor, uma caricatura) que não te ajude a viver e não saiba preparar-te
para a morte não tem sentido: é um pobre feixe de rabiscos.
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1 comentário:
"O ourives da palavra" além do mais.
A "Ficção Completa" foi editada pela "Editora Nova Aguillar" em 2009.
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