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segunda-feira, 23 de junho de 2014

O símbolo da treta

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un hombre tiene que tener siempre 
el nivel de la dignidad 
por encima del nivel del miedo”
Eduardo Chillida
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Hoje, dia 23 de Junho do ano da graça de 2014, um artista português vai sentar o cu no mocho do tribunal. Por ultraje à bandeira nacional. Isto num país onde tantos ultrajam a bandeira sem usarem sequer a sua imagem e em que outros tantos a usam para fins estritamente comerciais, muitas vezes com péssimo gosto (coisa que não deve ser proibida, entenda-se, já que, segundo consta, vivemos numa democracia). Pois bem: como de costume, é a arte que acaba por ir a tribunal – à falta de melhores réus para condenar.
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Num país em que o governo, o presidente e a sua (deles) maioria avacalham todos os dias a Constituição e no qual os outros símbolos nacionais são usados impunemente para vender bejecas e outras merdas, é um artista que vai a tribunal. Por usar a bandeira para exprimir a sua indignação.
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Ao contrário porém do que diz o jornal “Público”, não penso que seja a arte que vai a tribunal. É a opinião.  Ou seja, a liberdade de expressão.
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Por isso decidi reeditar este boneco (que já tinha editado aqui). No rescaldo de mais uma pífia gesta patriótica. Não estou porém indignado, como o artista algarvio que hoje vai ser julgado. Estou aliviado. Confesso até que torci plos alemões e, (ao que cheguei) plos estadosunidosdamérica. Tenho-me divertido bastante com o crestianismoronaldismo e com o seu patético esplendor na relva. E ainda falta o Gana. Se os rapazes da estrela negra se portarem como contra a Alemanha terei, assegurados, mais noventa minutos de puro divertimento.


- Espero que não me processem por ultraje aos símbolos nacionais (se o fizerem, paciência. o único limite da liberdade de expressão que reconheço é o código penal; além disso, um artista também precisa de alguma publicidade). 
Sou todavia de opinião (e ajo em conformidade) que se pode fazer tudo com os símbolos nacionais; excepto, talvez, sentarmo-nos neles - que é a única coisa aliás que toda a gente faz, a começar pelos representantes dos principais cargos públicos - e nunca vi nenhum deles sentar o cu no mocho. Lá chegaremos. É essa esperança, (ténue, confesso) que me mantém atento.
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