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Gostaria de pôr tudo
de pernas para o ar para ver o que se encontra no fundo. Acho que estamos de
tal modo emaranhados e somos tão terrivelmente manipulados, que a nossa vida,
para que a possamos estudar, temos primeiro que rebentar com ela, queimá-la,
para depois recomeçar tudo de novo.
August Strindberg
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Os portugueses são uma gente que tolera, com entusiasmo
alarve diga-se, a estupidez, a arbitrariedade e todo o género de iniquidades.
Esta predisposição atávica e natural permitiu-lhes,
sem grandes sobressaltos, sobreviverem
a quase três séculos de inquisição, da qual só se viram livres pela acção
conjugada de um terramoto e de um tirano esclarecido
(Pombal, em 1755, aboliu a distinção entre cristãos-novos
e velhos). Foi contudo de pouca dura. Morto D. José, a sua herdeira mandou buscar
de volta os frades de S. Domingos e os tugas lá se amancebaram outra vez com a santíssima, pelo menos até 1821.
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Paradoxalmente, o país de hoje vive de novo sob a mesma teologia do sacrifício predicada pelos
dominicanos. É preciso que sejamos todos mais
pobres para sermos mais felizes, dizem eles: os comentadores avençados, os
políticos corruptos, os banqueiros filhos-da-puta, os filósofos de merda. A
república é presidida por um imbecil cavernoso e imprestável e governada, com a
mão de ferro do inepto Gaspar, pelo pugrama
Exel.
Por todo o lado triunfa a mediocridade. Até a cultura deu
o seu imprescindível contributo a este caldo infecto. A cultura portuguesa aliás
vive a sua época de ouro da pessegada: depois da arte-vasconcelos eis agora a literatura-peixota.
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O inenarrável, imarcescível e premiadíssimo José Luís Peixoto
propôs-se, não fazer versões dos clássicos para crianças (como outrora o
figueirense João de Barros) mas sim, com o patrocínio da revista Visão - versões dos clássicos para atrasados
mentais. Já começou com Camões e com Os
Lusíadas.
Veja aqui o I Canto na redacção do peixoto-zinho xcritor - é ou não é inacreditável?.
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E contudo, os portugueses, pelo menos a maioria deles,
não vê a alternativa credível a toda esta
apagada e vil tristeza.
-Confesso que nem eu.
Os portugueses não têm particular
tendência para mudar seja o que for através de uma revolução política (quando o fazem,
três quinze dias depois está tudo como
dantes no quartel de Abrantes).
E, convenhamos, a hipótese de lhes calhar na rifa outro tirano esclarecido é muito remota (um
raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar).
-Por isso mesmo é que eu deposito todas as minhas
esperanças enfim, no terramoto.
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6 comentários:
Também não gosto da leiteratura peixôta, mas também não era caso para retratar o dito sem o seu lindo sorriso! Mas admito que com um sorriso daqueles de franqueza tamanha, as caricaraturas deixam de fazer sentido.
Peço desculpa mas pelo menos o final é fabuloso, genial. Só lhe mudava o resultado e dava-lhe um martelo. E, pumba!
«Resultado final: 3 - 1.
Sem apito, Júpiter apitou o final da partida. Sem martelo, pumba, declarou encerrada a reunião.»
E pá, tava mesmo à espera...
Mas tarde vem aquilo que nunca chega. Chegou com traço, palavras links e tudo.
Boa malha!
Caro Fernado Campos.
O Sr Capela, deve ter em segredo a vossa cunha, pois com aquela parcialidade dos penaltis,os dados estão mais ou menos há vista, para que eu aguente a carga,( aguenta aguenta). Haja Deus,com bons charutos e rum, será?
Abraço benfiquista,doente mas não tolo.
Safa...
Ainda estou um bocado sem fôlego.
Primeiro tive que ver o significado de "imarcescível". Enriqueci o meu vocabulário.
Depois fui espreitar o excerto da versão de José Luís Peixoto de Os Lusíadas. Li uma vez, li outra vez. Pensei que era brincadeira. Aí fiquei mesmo sem fôlego.
Safa...
Eu que nem desgosto do tom da literatura-peixota acho esta ideia no mínimo peregrina! Mas talvez este seja um efeito do Velho do Restelo em mim! Mas gostei particularmente de um comentário ao post na página do JLP... o da professora que irá começar a ensinar esses Lusíadas nas suas aulas!! Bom, que suscitará mais interesse por parte dos alunos não duvido, mas a que custo??
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